Hora de agradecer

Na vida tem hora para tudo. Tem hora de brigar, tem hora de fazer as pazes. Tem hora de pescar e tem hora de colocar a rede para secar. E tem uma hora que é muito especial: é a do agradecer.

Ontem saiu o resultado da segunda fase da OAB e eu obtive êxito. Quando isso acontece faço uma viagem no tempo para chegar de volta a este dia tão importante da minha vida. Permitam-me os meus leitores que eu aborde aqui neste espaço algo muito meu quando há tanta coisa de interesse coletivo para ser tratado.

Convido-os a essa viagem.

Quando eu concluí o Ginásio, em 1962, tinha dois caminhos: fazer o Científico ou Contabilidade. A minha mãe Safira queria que eu fizesse o científico para depois ir estudar fora, provavelmente medicina. Já o meu pai queria que eu fizesse o curso de Técnico em Contabilidade e depois cursasse Direito. Bom lembrar que só tínhamos a Faculdade de Direito (federal) e as Faculdades de Ciências Econômicas e de Filosofia (estaduais).

Atendi os dois. Cursei o científico no Dom Bosco e formei-me Técnico em Contabilidade no Colégio Brasileiro. Ao concluí-los tinha que optar por um único caminho. Agora balançava entre fazer Direito ou Economia, ou então, Engenharia Química. Direito ou Economia por influencia dos professores do curso de contabilidade Adalberto Menezes, Cascaes, Gedeon, Gonzaga Pinheiro , Roosevelt Braga, Thales Silvestre e Vicente Schetini. E Engenharia Química por conta do padre Tadeu Baginski, meu professor de química no Colégio Dom Bosco.

Decidi fazer engenharia química, mas esse curso não tinha em Manaus. Fui para São Paulo morar na casa dos meus primos Ana e Alcestes. Não resisti mais do que três meses. As saudades da família, dos amigos e da cidade bateram mais fortes e eu voltei em abril de 1966. Só que aí os vestibulares de Direito e Economia já tinham ocorrido. Passei a trabalhar com meu pai na sua empresa de materiais de construção e a estudar no cursinho pré-vestibular para Economia.

No ano seguinte passei no vestibular e comecei a estudar na Faculdade de Ciências Econômicas onde me formei em 1970. Continuava trabalhando com o meu pai e em 1976, numa conversa com o meu tio Alcino, abordamos a questão da pesada carga tributária. Com base no balanço, fizemos as contas e concluímos que trabalhávamos mais para o governo do que para nós mesmos. Nesse mesmo ano surgiu o concurso da Receita Federal. Li o edital, vi o salário e fui conversar com o meu tio Alcino que sempre foi o meu confidente. Relembrei as contas que tínhamos feito e disse-lhe que estava pensando em fazer o concurso. Ele era um autodidata, estudioso, pesquisador e sobretudo tinha uma visão de mundo muito clara. Disse-me ele, mais ou menos, o seguinte:

“Queiras ou não, já trabalhas para o governo. Só que não recebes nada e ainda tens que pagar. Se passares no concurso, vais continuando trabalhando para o governo, mas aí ele é quem vai te pagar”.

E com essas palavras estimulou-me a estudar e fazer o concurso.

Ao lado dos meus pais, Joaquim e Safira, e do meu tio, Alcino

Fiz, passei, fui para Brasília fazer a segunda fase, nomeado fui trabalhar em Boa Vista, depois voltei para Manaus. Fiquei na Receita 28 anos da minha vida e lá, obviamente, lidava com Contabilidade, com Economia, mas principalmente com Direito Tributário. Era parecerista o que me obrigava a sempre pesquisar e estudar as mudanças na legislação tributária.

Em 1998, fui convidado pelo então Secretário da Receita Federal, Dr. Everardo Maciel, um dos homens mais lúcidos na questão tributária no Brasil, para trabalhar como Conselheiro no Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda, posição das mais almejadas porque significa o ápice da carreira de um Auditor que trabalha como parecerista.

Em 2001, decidi fazer o curso de Direito por entender que um profissional na área de tributos tem que ter formação em contabilidade, economia e direito. Tinha eu, então, 54 anos. Fiz vestibular, passei e comecei a estudar.

Em 2004, disputei a eleição para Prefeito de Manaus, passei para o segundo turno e obviamente tive que trancar o 8º período.

Em 2005, assumi a Prefeitura de Manaus e dedicava 24 horas do meu dia aos problemas da cidade.

Em 2009, tendo concluído meu mandato, já aos 62 anos, decidi retomar o curso, mas aí tinham ocorrido alterações na grade curricular e o resultado foi que para concluir em três semestres precisei pagar matérias à tarde e à noite. Fez-me muito bem. Foi um reencontro com professores antigos e novos bem como uma excepcional convivência com colegas, na sua imensa maioria mais novos que os meus filhos.

Conclui o curso, colei grau e matriculei-me no cursinho para a OAB do CEAD. Foi um aprendizado excepcional, uma revisão completa, uma convivência muito boa, mas foram também momentos de tensão naturalmente causados por ser o Exame da Ordem o bicho papão.

Ontem foi anunciado o resultado e eu passei.

É claro que esse é um momento de realização pessoal, mas é, também, um momento em que devo agradecer a todos que me ajudaram nessa vitória.

A Deus, por tudo que tem feito na minha vida;

Aos meus saudosos pais, Joaquim e Safira, aos meus tios, em especial o meu tio Alcino, que já não estão mais aqui para compartilhar deste momento, pela vida, pela criação, pelos exemplos e pelas lições;

Ao meu sogro Armindo que do alto dos seus 97 anos acompanhou toda a minha luta, o meu muito obrigado, com saudades da minha sogra Izabel, hoje em outro plano;

À minha esposa Lydia, aos meus filhos Dani, David, Marcelo, Nely e Rafa, aos meus netos Ana, Gabriel e Lucas pelo apoio de sempre e pelos momentos em que abriram mão do convívio para que eu me dedicasse integralmente a estudar.

À minha irmã Bibi, meu cunhado Vla, minhas sobrinhas Andréa e Adriana, seus maridos Neto e Mineli, meus sobrinhos netos Minelinho, Julia, Ester, Rebeca e Gabriela, o meu muito obrigado pelo carinho e pelo amor que me dedicam;

A todos os meus professores, pela paciência e dedicação. Homenageio a todos eles na pessoa do José Luiz Franco Júnior, o Franco, meu professor na Faculdade e no Cursinho, jovem que já é um dos mais competentes e preparados advogados do Amazonas e que com a sua garra, conhecimento e exemplos nos estimulou a estudar mais e a vencer os obstáculos surgidos em nosso caminho;

Aos meus colegas, em sua maioria mais jovens do que eu, pela interação e força recíproca em todos os momentos;

Aos meus amigos, a todos eles, pela torcida e apoio.

Enfim, a todos, muito obrigado por terem me ajudado a chegar onde cheguei.

17 thoughts on “Hora de agradecer

  1. Parabéns Serafim, pela dedicação e comprometimento com os seus projetos de vida, que Deus continue lhe dando muita saúde e abençoando sua nova conquista, um abraço.

  2. Serafim,

    Meus parabéns, não só pela aprovação na OAB, mas, principalmente, pelo gesto de reconhecimento a todos aqueles que o apoiaram nesta caminhada.

    “Uma pessoa é uma pessoa por causa das outras pessoas”.(Ditado sul africano da tribo Ubuntu)

  3. ´Valeu Serafim por m ais essa vitoria em sua vida.
    Que seus conhecimentos juridicos tanto quanto os de economia sejam colocados a serviço do bem e da ética seja na sociedade em geral como na politica.
    Parabens!

  4. Prezado Serafim,
    Parabéns. Esssa cidade ainda há de corrigir, o equívoco da última eleição. Ainda acredito que iremos ter realmente uma CIDADE MELHOR, eu, nossos filhos e netos.
    Um forte abraço.

  5. Parabéns por mais essa vitória.Continue sem pre em busca de seus objetivos.

    Daniel Costa

  6. Parabéns por mais esta conquista! A OAB se orgulhará em tê-lo em seu quadro. Que o Senhor abençoe o mais novo Advogado Serafim Corrêa!

  7. Tenho certeza que o Vovô Alcino, Tio Joaquim e Tia Safira, do lugar maravilhoso onde estão, comemoram e estão cheios de orgulho por toda a sua trajetória e por mais essa vitória. Ficamos todos muito felizes pelo que falou do Vovô, que tanto nos deixou saudades. Lembrei também, com lágrimas nos olhos, do carinho com que Tio Joaquim e Tia Safira me recebiam nas tardes que passava em sua casa à espera do horário do ICBEU quando era criança, e de como toda vez que vinha passar férias em Natal, onde hoje moro, Tio Joaquim chorava quando eu e mamãe (Dôra) íamos nos despedir, mesmo que a viagem não durasse um mês.
    Parabéns pela aprovação e por como vem traçando seu caminho de forma íntegra,correta e digna. Mesmo morando longe, sempre torço e sinto muito orgulho de você.
    Abraços, Cristiane

  8. PARABÉNS, SERAFIM !

    A ADVOCACIA É TÃO FASCINANTE QUANTO ESPINHOSA.
    NO EXERCÍCIO DESSA HONROSA PROFISSÃO, FAZEMOS AMIGOS E INIMIGOS.
    AGORA, POR EXEMPLO, ESTOU SENDO MONITORADO PELO HELICÓPTERO DA POLÍCIA AQUI EM MANAUS, ONDE QUER QUE EU VÁ.
    TUDO COMEÇOU HÁ ANOS QUANDO DENUNCIEI AO MINISTÉRIO PÚBLICO UM CERTO COMERCIANTE DE PEDRAS PRECIOSAS PELA PRÁTICA DE UM DELITO.
    DESDE ENTÃO, ELE TEM ENVIADO PESSOAS PARA ESPALHAR BOATOS A MEU RESPEITO.
    RECONHEÇO EVIDENTEMENTE QUE A POLICIA TEM QUE DESEMPENHAR SUAS FUNÇÕES E RESSALTO QUE NADA TENHO CONTRA ELA.
    MAS É POSSÍVEL QUE ALGUMA DESSAS PESSOAS TENHA MALDOSAMNTE LEVADO ESSES BOATOS AO CONHECIMENTO INFORMAL DA HONRADA INSTITUIÇÃO POLICIAL.
    PAULO CÉSAR.

  9. Parabéns Seu Sarafim,

    Você é um dos que sabem ler, escrever e contar até 100.
    O resto não passou pelo Luso. Uma cambada de analfabetos que o sistema educacional brasileiro empurra para fora das escolas.
    Coitados! passam 11 anos estudando enquanto o mundo já passa dos 21 aninhos dentro da escola. ES-CO-LA.

  10. Cristiane: alegria de reencontrá-la. Eu também chorei com as tuas lembranças. Meu pai, mãe, tio Alcino que já não estão entre nós só nos deixaram bons exemplos.
    A tia Maria, tua avó, nos dá lições todos os dias de resistencia, de luta, de resignação.
    Nossa família é uma benção que Deus nos deu.
    Vindo à Manaus, ou eu indo à Natal, vamos nos reencontrar.
    abs.

  11. Parabéns Serafim,

    Você é um exemplo de dedicação, superação, vitória,disciplina e peseverança. Desejo muito sucesso nessa nova carreira e espero que você possa contribuir muito mais com a cidade de Manaus, o estado do Amazonas e a nossa nação.

  12. Olá,

    Estou aqui só para reforçar o agradecimento da Cris! Todos ficamos realmente felizes e emocionados com essa lembrança carinhosa com os que já foram! Meu avô que muitas vezes foi professor na família e do Tio Joaquim que sempre foi patriarca e obteve respeito de toda família do mais novinho ao mais velho!
    Obrigada! E concordo com você ao dizer que nossa família é uma benção de Deus, cheia de guerreiros! E você sem dúvida é mais um! :)

    Abraços

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