Toda poesia é semente – O caso dos dois beijos

O CASO DOS DOIS BEIJOS

No tapete ao lado da cama,

hoje pela manhã,

encontrei dois beijos vadios

que se desprenderam à noite

de teus cabelos

e caíram no chão.

Um deles (o mais tímido)

machucou-se um pouco na queda,

chora e só fala em voltar pra casa.

Já o outro, de uma família de saltimbancos,

em troca de dois vinténs

tomou o lugar de um dos meus.

Agora, teu beijo saltimbanco anda comigo.

Faz piruetas dentro do bolso da calça,

e diz que nunca mais voltará pra casa.

Enquanto isso o meu beijo, um andarilho,

fugiu e agora anda contigo.

Tem feito longas caminhadas pelo teu rosto,

se enrosca em teus cabelos,

escorrega pelo teu corpo,

pendura-se no bico de um seio,

vez por outra se esborracha no chão,

e, com um sorriso safado,

abre os bracinhos

e diz umas piadas sujas

que te fazem rir,

encabulada…

Paulo José Cunha é poeta, jornalista e professor.

One thought on “Toda poesia é semente – O caso dos dois beijos

  1. Esse Paulo José é realmente um “grande poeta”.
    Gostei desse cara nessa nova versão.

Comments are closed.