Que pastor é esse?

Tânia Fusco publicou no Blog do Noblat o artigo intitulado “QUE PASTOR É ESSE?”, sobre a polêmica decisão do Arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, de excomungar a mãe da menina estuprada em Recife que buscou autorização judicial, e obteve, para interromper a gravidez da filha. Também foram excomungados os profissionais de saúde que atenderam a menina de nove anos de idade.


Aborto é pecado mais grave que estupro. É pouco ou quer mais?

Pois essa pérola de insensibilidade humana, tão descolada do espírito cristão, é o presente que Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife, oferece às mulheres brasileiras na véspera do Dia Internacional da Mulher.

Diga-se de passagem que o estupro em questão foi perpetrado contra uma menina de nove anos, que dividia a tragédia com a irmã de 14. Duas crianças, a mais velha inclusive é especial. Ou seja, tem também a fragilidade de uma deficiência.

O padrasto estuprador das duas, no entanto, foi qualificado pelo bispo apenas como mais um grave pecador. Já a família da violentada e os médicos que lhe fizeram o humanitário aborto salvador mereceram sumária excomunhão — pecado sem perdão.

Saiba o senhor bispo que as duas coisas são absurdas violências. Mas o aborto, que também fere corpo e alma da mulher, ao menos pode ser uma decisão pessoal. (No caso da menina, nem isso. Porque alguém de nove anos não tem condições sequer de decidir se quer ou não abortar a invasão que lhe gerou fetos gêmeos. Fez por uma decisão médica. Seu útero ainda não tinha maturidade suficiente para suportar uma gravidez. Alguém precisou decidir por ela. Qualquer um com um mínimo de lucidez sabe disso. Menos o senhor arcebispo de Olinda e Recife).

Provavelmente para o senhor Dom José Cardoso Sobrinho também os torturadores são merecedores do mesmo perdão que a Igreja oferece a qualquer pequeno mentiroso. Porque o estupro, caro arcebispo, é uma tortura continuada. Além da indignidade, da dor e da humilhação ainda deixa no corpo violentado o esperma do agressor, que pode resultar na gravidez indesejada, como a da pequena pernambucana.

Gerar, gestar e parir filhos é uma benção da natureza às fêmeas racionais ou irracionais. Entre os irracionais não há o estupro, porque a atividade sexual é conduzida pelo instinto. Com os racionais, senhor arcebispo, o ato sexual tem que ser consensual. Ele pode nem envolver amor e afeto, mais exige o desejo de ambos para não ser agressão, para não ser tortura imposta por um pecador e seu incontido (e perdoável?) desejo animal.

As leis da Igreja ainda consideram o aborto como assassinato. Para parte de nós mulheres cristãs é difícil compreender essa insensibilidade. Mas aceitamos o debate e lutamos para reverter essa posição radical tão distante da realidade. Como decisão e risco pessoal, muitas cristãs enfrentam medo e ameaças e fazem abortos em clínicas clandestinas, sujeitas a toda a espécie riscos, porque a proibição da Igreja não permite que o aborto seja um procedimento médico regular, feito em condições ideais de segurança, higiene, etc.

Essa rigidez da lei católica castiga muito mais as mulheres pobres, senhor arcebispo. Porque as que podem pagar, conseguem fazer seus abortos com bons médicos, com as melhores condições de segurança hospitalar. As carentes, coitadas, vão a aborte iras que, ainda hoje, usam até agulhas de tricô e crochê para provocar a expulsão dos fetos. Muitas morrem nesses procedimentos. Isso acontece cotidianamente pelo mundo afora.

No momento em que escrevo, senhor arcebispo, milhares de abortos estão sendo feitos no Brasil e em todo o mundo. Isso é publico e notório. Só a hipocrisia oficial – santa ou não — ainda se dá o direito de negar a realidade evidente, explicita e dolorosa.

Todas essas mulheres serão excomungadas? Ou só as que tiverem a infelicidade adicional de, ainda por cima, serem vitimas de tragédias que tornem seus casos públicos, como a da pequena inocente de sua arquidiocese?

Aliás, senhor Dom José Cardoso Sobrinho, não ocorreu ao seu espírito cristão que a menina em questão já foi suficientemente violentada para merecer da Igreja da fé, que muito provavelmente ela professa, ainda a crueldade do castigo máximo da excomunhão aos seus próximos?

Seu confessor lhe dará a absolvição para o pecado público de tão distinto tratamento – a generosidade do perdão ao estuprador e a condenação inapelavelmente aos médicos e à família da pequenina estuprada.? Em que cofre foi confinado sua caridade cristã?

Quem será merecedor do Céu: médicos e família excomungados ou tão radical e insensível pastor de almas?

Tânia Fusco é jornalista

8 thoughts on “Que pastor é esse?

  1. Serafim, sou católico mas, vamos fazer o seguinte a respeito do comportamento desse arcebispo estúpido e incoerente, vazio de alma e de bom senso e de justiça da igreja católica: Vamos pedir ao Papa a sua manifestação sobre o caso e ao mesmo tempo, pedir ao Papa o completo afastamento desse padre demente. Por tudo dele proferido, ficou bem claro que ele preferia que houvesse três mortes, a da mãe (criança de 9 anos) e possivelmente seus dois filhos que não iam de certo nascer, até poderiam nascer com vida, mas, bem, caberia agora a medicina se manifestar sobres os riscos futuros. Esse padre tem que ser internado, ele está doido…

  2. A Imprensa tem divulgado que o Sr. Arcebispo de Olinda e Recife, D. José Cardoso Sobrinho excomungou as pessoas que praticaram o aborto na menina de 9 anos de idade estuprada pelo padrasto. Na verdade, o Sr. Arcebispo não aplicou a pena de excomunhão aos que praticaram o aborto, ele apenas avisou que essas pessoas estavam excomungadas pelo “Código de Direito Canônico”, que prevê a excomunhão “latae sententiciae” (cânon 1398), ou seja, automática, para quem pratica o aborto ou colabora com a sua execução. Portanto, não se ponha o peso da decisão no Sr. Arcebispo, mas sim no Código de Direito Canônico aprovado pelo Papa João Paulo II, em 1983.

    A Igreja não aceita o aborto em caso algum, nem mesmo em caso de estupro ou má formação congênita, porque o dom da vida só pode ser tirado por Deus. Apenas no caso de legitima defesa da vida, quando não há outra alternativa, pode-se tirar a vida do agressor injusto; nem de longe é o caso ocorrido com a menina. Jamais um feto pode ser taxado de agressor.

    Os médicos poderiam ter tratado da menina com tudo o que a medicina tem de recursos, mas jamais matar as crianças. Se a criança no ventre da mãe vier a morrer por efeito secundário devido a um tratamento aplicado à mãe, nesse caso não há pecado, pois não se quis voluntariamente matar a criança.

    Será que os médicos avaliaram se a menina poderia gerar os filhos e dá-los à luz, mesmo com o auxílio da cesariana? Sabemos que um feto pode sobreviver hoje fora do útero até com cerca de 400 gramas.

    O aborto é uma violência inaudita que a Igreja considera um pecado gravíssimo, a ser punido com a pena máxima de excomunhão; brada justiça ao céu.

    Um erro não justifica cometer outro; quem deveria ser punido é o estuprador e não as crianças gêmeas; o juiz deve punir o réu culpado e não as vitimas; dessa forma a Justiça age às avessas.

    Prof. Felipe Aquino / http://www.cleofas.com.br

    Publicado 06/03/2009

  3. Caro Sarafa, confesso que estou um pouco afastado da igreja, mas acredito no catolicismo; Porém fiquei indignado com a declaração deste arcebispo. Deveria a igreja reformular seus conceitos, uma vez que os escândalos envolvendo seus colaboradores estão cada vez mais frequente, inclusive envolvendo pedofilia. Assim ao invés de jogar a pedra, deveria acolher e amparar-la.

  4. Vocês querem saber quem está certo neta história toda? Leiam a BÍBLIA. Ela é a fonte da verdade. Que Deus abençoe a todos.

  5. Concordo com você WLNManaus, mas irei além. Para aqueles que acreditam em Deus…. Deus da Bíblia.
    As pessoas têm valor e identidade antes de nascer. A Bíblia diz em Jeremias 1:5 “Antes que eu te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da mãe te santifiquei; às nações te dei por profeta.”
    Deus está ativo na vida de um ser humano enquanto ele está no útero. A Bíblia diz em Salmos 139:13-14 “Pois tu formaste os meus rins; entreteceste-me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei, porque de um modo tão admirável e maravilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem.”
    O mandamento de Deus proíbe tirar a vida. A Bíblia diz em Êxodo 20:13 “Não matarás.”

  6. Bem para aqueles q querem falar em pastor… é só lembrar de Jesus… pois seus inimigos ao levarem aos seus pés uma adúltera para que ela fosse apedrejada, pq era a “lei” daquela época… Jesus disse disse: “Quem não tiver pecado.. que atire a primeira pedra!”… e após os seus acusadores sumirem o mestre disse à mulher “vá e não peques mais”… que exemplo de perdão e acolhimento… o Cristo prega o perdão… acolhe o pecador.. quanto mais uma pobre menina… não deve ter nem a consciÊncia do ato q sofreu… é uma inocente… agora esse PADRE, profundo conhecedor das leis católicas desconhece a misericórdia.. q deriva da palavra miséria… que é sentir a miséria dos outros… pois é o q esta situação denota.. a profunda miséria dos desprotegidos…
    Essa menina.. precisa de proteção.. de carinho…de acolhimento… pq esse PAdre ou tantos outros não depreciaram o pedófilo? Pq não desenvolvem na sua paróquia programas de proteção contra a violência doméstica e à criança?… Jesus veio para abolir a lei e instituir o império da Graça… Ele veio se reconciliar com os pecadores…e não expulsá-los do convivio com a Igreja… QUE PASTOR É ESSE? SEGUIDOR DE JESUS ELE NÃO É!!!!!!!!!!
    UM ABRAÇO FRATERNO A TODOS E QUE DEUS TENHA MISERICÓRDIA DESSE MUNDO PERDIDO!!

  7. Seguir um código de conduta escrito há séculos é um absurdo. As sociedades mudam com o passar dos tempos, as regras também têm de mudar, nesse caso 3 vidas inocentes seriam perdidas porque algumas pessoas resolveram escrever que a prática do aborto é proibida. Tenha a Santa Paciência (sem o perdão do trocadilho)! Quem se diz católico deveria viver de acordo com as leis que a Bíblia apresenta como sendo divinas e imutáveis, agora quero ver se a Igreja não tem carro, celular e todo o tipo de invento que só foi possível porque alguns pensadores desafiaram ela própria. Em tempo, sou ateu, portanto algumas das minhas frases podem soar um pouco agressivas, não é por querer, eu simplesmente tenho um profundo desgosto pela Igreja Católica.

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