As nossas elites políticas, empresariais, sindicais, e eu obviamente estou aí incluído, portanto isto é uma autocrítica, não é uma crítica, não têm sido capazes de construir alianças na defesa dos nossos interesses.
Adotamos o discurso démodé do “coitadinho” que diz que é pobre e mora longe, quando existem outros que são mais pobres e moram mais longe do que nós. Nosso discurso tem – zero – de racionalidade e uma emoção que não se sustenta, nem empolga.
Por outro lado, temos uma capacidade incrível de não termos a visão estratégica do Brasil como um todo, de sermos ingratos e de criarmos inimigos poderosos por muito pouco em troca.
Cito exemplos.
Falta de racionalidade – Os órgãos técnicos como SUFRAMA e SEFAZ não se sentem na obrigação de dar à classe política as informações técnicas, históricas e lógicas para que ela possa defender os nossos interesses. Já a classe política se sente autossuficiente e acha que só o discurso, sem qualquer sustentação lógica e racional, garante alguma coisa.
Ingratidão – Certa feita, numa palestra que fiz na UFAM, perguntei aos alunos:
– “Tancredo Neves e João Goulart fizeram alguma coisa pelo Amazonas?”
– “NÃO”, ecoou a sala unanime.
E eu perguntei:
– “Vocês sabem quem foi o presidente e o primeiro-ministro que assinaram a Lei nº 4069-A/62 que criou a Universidade do Amazonas?”
– Resposta: “NÃO!”
E eu, perplexo:
“Pois é, amigos, foram João Goulart e Tancredo Neves e aqui na UFAM não tem, ao menos, uma sala com o nome deles.”
Como construir alianças assim?
Criar inimigos e não fazer amigos – A Assembleia Legislativa do Amazonas agiu corretamente em pleitear junto ao TSE que refizesse os cálculos da proporcionalidade para as vagas de deputados federais. Só esqueceu duas coisas: a primeira, isso mexeria com outros estados e a segunda, isso geraria inimigos poderosos (os estados que perdessem as vagas), sem a garantia de que os estados que ganhassem vagas ficariam conosco.
Resultado: ganhamos uma vaga e o Pará ganhou quatro, mas nem por isso virou nosso aliado. Já Alagoas, Espírito Santo, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul perderam e viraram nossos ferozes inimigos, tendo inclusive dentre outros o Presidente do Senado, Renam Calheiros, que é de Alagoas. Que grande negócio.
Portanto, acho que precisamos refletir e fazer um reposicionamento estratégico.
Considero dentro desse contexto muito importante a presença amanhã em Manaus do Gilberto Kassab que vem como presidente nacional do PSD trazer seu apoio ao nosso estado que é governado pelo seu partido através do Governador Omar Aziz. Espero e torço para que isso se traduza em apoio no Congresso Nacional. Boa mexida do governador num momento em que caminhamos para o isolamento.
Importante registrar que o deputado com o discurso mais afiado contra a Zona Franca de Manaus e os demais pleitos do Amazonas é exatamente do PSD do Piauí, o deputado Julio Cesar, por razões óbvias, de vez que o seu estado perdeu 20% de sua bancada, pois tinha 10 deputados e ficou com 8.
Realmente, como ele pode ser nosso aliado?