Osso duro de roer

Entrevista publicada ontem (1) no jornal Diário de Natal:

Contrariando setores do partido, como o caso da governadora Wilma de Faria (PSB) que defende claramente a candidatura da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), o deputado federal Ciro Gomes (PSB-SP) não dá sinais de que abrirá mão do projeto de disputar a presidência da República. Muito pelo contrário. Embora tenha atendido a um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tenha transferido seu domicílio eleitoral do Ceará (seu estado natal) para São Paulo, disputar o governo paulista está fora dos planos de Ciro. Homem de convicções e firme no seu propósito, o parlamentar continua atuando nos bastidores para viabilizar sua candidatura presidencial, contrariando a cúpula pessebista. Convencer Ciro Gomes do contrário não será fácil, pelo desempenho dele nas pesquisas, pelo sentimento de que a disputa não deve ser polarizada entre “a turma do Lula e a turma do FHC” e pela certeza de que não cogita outra postulação. A seguir a íntegra da entrevista exclusiva concedida ao Diário de Natal.


“A candidatura do PSB pretende abordar essas eleições de uma forma mais ampla que apenas um plebiscito” Foto: Gustavo Moreno/CB/D.A Press

Entrevista >> Ciro Gomes

Como o senhor avalia o comportamento de líderes do seu partido, incluindo o presidente nacional, governador Eduardo Campos, contra o lançamento de candidatura própria? O senhor acredita que eles estão mais afinados com o projeto da ministra Dilma Rousseff ou preocupados em viabilizar alianças nos seus estados para se elegerem?

Em primeiro lugar, eu quero deixar claro que o governador Eduardo Campos e outras lideranças importantes do meu partido não são contra o lançamento de uma candidatura própria ou, pior, que estejam apenas preocupados em viabilizar essa ou aquela aliança em seus estados. Não, não é isso. Existe um debate dentro do partido, debate aliás saudável, sobre se devemos ou não ter uma candidatura própria uma vez que apoiamos – e fazemos isso sem nenhuma vergonha ou às escondidas – o governo Lula. Nós acreditamos sinceramente que este governo, o Governo do Presidente Lula mudou este país e merece todo o nosso apoio. Mas, eu sou candidato de uma uma corrente de pensamento, que se organiza no PSB, que acredita que nós temos uma responsabilidade maior com o momento do país.

Como assim?

Acho que estamos reduzindo em muito o debate político com a tentativa de fazermos simplesmente um plebiscito entre a turma do Lula e a turma do Fernando Henrique. O Brasil está diante de um fato em que a candidatura do PSDB, eventualmente a candidatura do Serra representa claramente uma volta ao passado. Não porque eu queira falar mal de ninguém, mas o Serra foi ministro oito anos de Fernando Henrique. O Serra foi a Dilma de Fernando Henrique. Ele foi o candidato de Fernando Henrique, nas eleiçoes, contra mim, contra o Lula. Ele representa a volta do projeto Fernando Henrique, que na minha humilde opinião fez muito mal ao Brasil. A Dilma, que é uma figura de grande valor, representa, vamos dizer assim, o presente, que é um belo presente. Eu digo sem nenhum medo de errar que o Brasil tá melhorando em tudo. Mas quem vai falar do futuro? E olhando o futuro do Brasil eu tenho um misto de esperança e medo. Esperança porque oBrasil tem tudo para dar uma grande virada e enfrentar o debate do futuro com a China, com a India, com os Estados Unidos, com a Europa, com a Russia. Com todos eles em pé de igualdade. Mas nós não estamos com projeto necessário para isso e é preciso que esta eleição seja a oportunidade, o justo ponto, para mantermos o que está certo, mas sem perder de vista, sem esquecer, sem deixar para segundo plano, o debate do futuro. Sem esse debate, sem um projeto de futuro, o Brasil não irá bem.

Aqui no RN, a governadora Wilma de Faria tem dito que o PSB só deverá participar diretamente da disputa presidencial dentro de um entendimento com o presidente Lula. O senhor também entende que o projeto do PSB passa por um acordo com o presidente?

Veja bem. O nosso partido faz parte desse governo, apóia o presidente Lula, reconhece as conquistas que foram alcançadas e mantém institucionalmente as melhores relaçoes possíveis com o Presidente. Eu pessoalmente, inclusive, me considero amigo e tenho um diálogo franco e muito honesto com o Lula. Qualquer que seja a nossa decisão evidentemente que passará por uma discussão com o presidente. Mas a decisão sobre o lançamento de uma candidatura do nosso partido evidentemente que é uma decisão interna do PSB. Entendo que a governadora Wilma, que aliás tem feito um trabalho admirável, aqui no Rio Grande do Norte, tem expressado, é exatamente este ponto de vista. Nós não somos oposição ao presidente. O que uma eventual candidatura do PSB pretende é abordar essas eleições de uma forma mais ampla que apenas um plebiscito entre, como já disse, a turma do PSDB e a turma do PT. E, o Presidente Lula, como grande democrata que é, compreenderá, se for o caso, esse processo.

No caso específico do RN, o senhor tem mantido contato com as lideranças locais a respeito da sua possível candidatura de presidente?

Olha, em primeiro lugar precisamos tomar essa decisão internamente. E para que essa decisão seja tomada, com consciência, com certeza do que efetivamente desejamos para o futuro do nosso país,esse debate está sendo feito pelo partido. Quanto à questão de alianças com outros grupos e agremiações o que vier a facilitar a nossa vida será bem-vindo. Se você tiver um projeto de país e se esse projeto for encantador e comover e organizar a população, agregaremos, sem a menor dúvida, outras forças. Essa é a missão de um partido de esquerda, moderno, independente, que considera a política como um ato coletivo, um movimento de idéias. Todos são bem vindos, mas a hegemonia moral e intelectual dessa eventual coligação tem que ser o projeto. Um projeto que contemple e mantenha tudo o que já foi conquistado, mas que mire o futuro.

Deputado, o senhor se arrepende de ter transferido seu domicílio eleitoral para São Paulo?

Não, não me arrependo. Eu transferi o meu título atendendo a um pedido do meu amigo Lula, que embora soubesse claramente que não é meu desejo, nem meu projeto, ser governador do Estado de São Paulo, pediu que eu assim o fizesse e com isso pensasse tivesse um tempo para refletir sobre essa possibilidade. Atendi ao apelo do presidente para trasnferir o título e refletir sobre essa possibilidade. Mas não sou candidato ao governo de São Paulo. Eu coloco o meu nome a disposição do partido para ser candidato à presidência da República.

A imprensa nacional tem noticiado que o senhor terá dificuldades para fazer campanha presidencial pelo pequeno número de palanques nos estados. O senhor concorda? Que estratégia o PSB deverá lançar para driblar dificuldades de ordem estrutural?

Vamos ver um pouco da história recente do Brasil. O PSDB quando ganhou as eleições era muito menor que o PSB é hoje. Para se ter uma idéia, eu era o único governado do PSDB na época. O PT era muito menor sob esse ponto de vista orgânico, conservador, do que nós somos hoje, em 1994 e em 98. Em 89 então nem se fala. O PSB tem hoje três governadores e está à frente da Prefeitura de Belo Horizonte. O que eu pretendo perguntar aos brasileiros, durante a campanha, se for candidato, é muito simples. Vou dizer o seguinte: olha brasileiro, se você está pensando em votar em mim, não me mande para Brasília, ser o Presidente da República, sem me dar uma maioria de gente decente no Congresso. Não importa de que partido for. O que importa é que seja uma gente decente. E posso dizer isso. E aí o eleitor pode fazer uma reflexão: o Serra está com Quércia, a Dilma está com o Renan, como é que vai ser essa questão? É bem claro isso se a gente quiser reduzir o quadro. A Dilma é maravilhosa, o Serra é perfeitamente respeitável, mas na política é a nossa circunstância.

Até quando o seu partido deve decidir se vai ou não lançar candidato próprio?

Em março devemos ter uma definição, eu acho.

Caso não seja candidato a presidente, que cargo o senhor deverá disputar?

Não pretendo disputar nenhum outro cargo. Não faço da política um meio de vida. Estou na política por um ideal. Posso ficar sem ocupar cargos políticos.

Se não disputar a presidência, o senhor pedirá votos para a ministra Dilma?

Eu não trabalho com a hipótese de não ser candidato. Eu quero ser presidente, eu tenho um projeto que contempla o futuro desse país e acredito que os brasileiros estão interessados nisso. Com o Governo Lula avançamos muito, mas o país não tem projeto. Todas as coisas que foram conquistadas não foram institucionalizadas, não estão garantidas e o desenho, a forma como o país deve se organziar para enfrentar o futuro não existe. Não existem sequer propostas nesse sentido. Precisamos debater formas concretas de melhorar ainda mais a distribuição de renda, de fazer uma verdadeira revolução na saúde pública, na educaçao pública, em resolver efetivamente os graves problemas do transporte urbano e criar políticas que permitam ao Brasil crescer, de forma consistente, nos próximos anos, tornando-se competitivo no mercado externo e ampliando de forma sólida as oportunidades para todos os brasileiros, sem exceção.

5 thoughts on “Osso duro de roer

  1. A NOTICIA É “A BANCADA SE REBELA E ACEITA A CPI DO TRANSPORTE PUBLICO” O QUE ME ENTRIGOU FOI SABER QUE A CPI VAI SOMENTE INVESTIGAR A SUA GESTÃO. O INTERESSANTE AINDA VÃO POUPAR A GESTÃO DO MINISTRO E A DO PREFEITO TAMPAO CARIJÓ PORQUER SERA´

  2. Eu penso que os principais candidatos ao posto de presidente do Brasil são capacitados, e serão excelentes administradores do país. Com exceção da senadora Marina Silva, e com todo respeito mesmo, penso que ela não será boa presidente por não ter experiência administrativa.
    Dilma é técnica, menos política, e isso é bom. Serra é experiente, técnico e racional. Serra é a Dilma de calças. Ciro é extremamente preparado e seria um presidente dinâmico. Já foi prefeito, governador e ministro de estado. Acredito que os três continuarão levando o Brasil no rumo certo. Não divido os 3 pois são iguais. Ciro inclusive já foi tucano.

  3. O Ciro Gomes é um político com maturidade e inteligência suficiente para alcançar a Presidência da República e realizar um bom trabalho. Pena que isso para o Brasil seja pouco mensurado na hora de votar. Nunca votei nele, mas se este discurso me fez considerar o voto. Boa matéria.

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