O dia que meu filho correu comigo e outras histórias

Por Marcelo Ramos:

O esporte me traz boas lembranças com histórias emotivas e engraçadas.
Desde muito cedo pratiquei esporte. Do futebol jogado no asfalto da rua com meus amigos Alexandre, Oliveira, Alo, Nando, Marcelo Amarelo, ao time de futebol de salão do Dom Pedro com os craques Marquinho, Ivan, Guegueu e Fabinho.
Mas foi o vôlei que me apaixonou e que me traz as melhores lembranças.
Pra mim, esporte e família tem tudo a ver.
Lembro com o coração cheio de emoção da inesperada presença do meu pai no meu jogo de vôlei dos Jogos Estudantis Mirim de 1985. Meu pai trabalhava na Embrapa, com sede no Km 25 da Manaus- Itacoatiara, e a saída dele no horário do expediente de tão longe para acompanhar o meu jogo ficou marcada pra sempre na minha alma. Mas ainda porque pouco tempo depois ele faleceu.
Ou seja, não deixe pra amanhã uma demonstração de amor pelo seu filho e pelas pessoas que você ama. A hora de dizer eu te amo, de abraçar, de beijar, de mandar flores, de fazer uma surpresa é agora!
Mas o vôlei também me traz histórias engraçadas.
Minha mãe sempre foi uma leoa para defender os filhos. Brigava com os técnicos quando deixavam eu ou os meus irmãos na reserva, xingava o time adversário e torcia o jogo inteiro nas partidas de todos os filhos. Mas um dia ela passou dos limites.
Era uma partida da Glenda (minha única irmã). Irritada com o juiz, Dona Graça pegou do chão o chinelo da pessoa que estava ao lado dela e tacou no juiz. Pronto. Dona Graças era muito querida por todos do vôlei, mas estava proibida de entrar na quadra para assistir os nossos jogos.
Conto essas histórias para chegar no dia em que meu filho Gabriel correu comigo.
Meu filho não é muito adepto da atividade física, na verdade, é nada adepto.
Sempre insistia para que ele fosse para o futebol comigo, jogasse basquete na quadra do prédio, praticasse um esporte na escola ou fosse pra corrida comigo. Nada. Não era a praia dele.
Um dia fiz diferente, ao invés de perguntar se ele queria ir pra corrida comigo, fiz a inscrição dele e disse que ele podia decidir.
No dia da Corrida da Infantaria (2012), por desencargo de consciência acordei-o na certeza de que ele não iria. Pra minha surpresa, ele levantou todo disposto e disse: vamos pai! E foi. Correu bem os 5km – eu corri os 10km – e me encheu de alegria e orgulho.
Depois disso, nunca mais consegui convencê-lo novamente a correr comigo. Mas valeu muito a pena e vai ficar na minha memória com a mesma força e emoção que ficou aquela partida de vôlei que meu pai assistiu em 1985.

(*) – Marcelo Ramos é deputado estadual e vice-presidente do PSB-Am.