Por Marcelo Ramos (*):
A vida precisa de gestos. Vivemos num mundo carente de demonstrações de carinho, afeto, amor e respeito. As pessoas esqueceram o outro, não enxergam quem está ao seu lado e se enxergam não sentem o coração do outro pulsar de alegria, dor ou sofrimento e se sentem não se importam e se não se importam são indiferentes.
E o mundo vai sendo tomado pela indiferença, pelas relações promíscuas, descompromissadas, fundadas em interesses materiais. E a vida, as amizades os amores entram numa jogatina, onde é a sorte, a esperteza e a dissimulação que decidem as partidas.
Mas é possível resistir. Gestos não mudam as coisas de forma imediata, mas são uma arma poderosa contra a indiferença, quando a vida deixou de ser vida pra ser uma coisa qualquer e insignificante que nem nome tem.
Abraços, apertos de mão, ligações e visitas inesperadas – pros mais modernos, emails, sms – sorrisos, palavras de carinho e afeto curam doenças do corpo e da alma, saram as mentes hostis à solidariedade e à caridade. Combatem até a corrupção porque nas almas inundadas de amor e respeito ao próximo não entra a avareza.
Mas, esquecemos o quanto esses gestos podem mudar o mundo.
Sempre achamos que o outro sabe do nosso sentimento e, por isso, não precisamos falar. Ai aquele que amamos passa a vida toda ao nosso lado esperando uma simples palavras de amor, um abraço, um beijo, uma lembrança. Um gesto.
Sempre achamos que um abraço apertado ou uma lágrima compartilhada não mudam nada, por isso, preferimos a omissão afetiva. E sem percebemos o outro está ali pedindo socorro, mas como ele não fala nossos ouvidos não ouvem e como nós somos indiferentes os nossos corações também não sentem.
Vamos abraçar, chorar juntos, dizer eu te amo, mandar flores, largar tudo pra passar um dia com a família, ligar pra um amigo e saber como ele anda, fazer uma visita surpresa.
Pra mim foi muito duro aprender isso. Perdi meu pai, minha filha, cometi erros. E um dia percebi que nos gestos, nos pequenos gestos, estão as grandes porções de felicidade.
Hoje posso lhe garantir. Isso faz toda a diferença. Isso muda você e muda o mundo.
A felicidade do dinheiro acaba se ele acaba. A alegria da farra acaba com o fim da festa. Só a felicidade e a alegria compartilhada com quem você ama dura para sempre, renova-se a cada novo pequeno gesto, reascende sempre mais forte e poderosa.
Podem tirar de você um dinheiro, uma casa, um carro de luxo. Mas ninguém tira um abraço recebido.
Termino esse texto com a beleza da poetisa Cora Coralina.
“Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
(*) – Deputado estadual e vice-presidente do PSB.
