Estamos perdendo a capacidade de nos indignar

As nossas instituições estão em xeque. Vou mais além: a nossa sociedade está em xeque. Dois fatos recentes não causaram qualquer indignação, nem atitudes concretas, apesar da elevada gravidade. Em outros tempos, as instituições reagiriam principalmente a imprensa. Mas agora, tudo, por mais grave que seja, passou a ser normal.

Refiro-me a dois casos:

O primeiro, o depoimento do ex-policial “Moa” que revelou fatos da maior gravidade envolvendo policiais civis e militares, programas de televisão, o deputado estadual Wallace Souza, e, pasmem, um plano para matar a Juíza Federal Jaiza Pinto Fraxe.
O segundo, o depoimento de Martini Martiniano, tão explosivo quanto o de Moa, revelando fatos gravíssimos, inclusive um plano para matar o outrora Procurador Geral de Justiça, hoje Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Mauro Campbell.

Moa continua preso, sob custódia da Polícia Federal. Já Martiniano estava preso em Rio Branco, Acre, e amanheceu “suicidado”. Sem prejulgamento, mas aqueles que querem que se acredite na versão de suicídio deveriam pelo menos estar lembrados que isso não cola mais desde quando “suicidaram” Vladmir Herzog, o caso símbolo desses suicídios.

Vejam que as denúncias, dentre tantas outras da maior gravidade, revelam planos de eliminação de uma Juíza Federal e de um Ministro do STJ. E não há apuração, não há precaução, o preso sob custódia do Estado aparece “suicidado”, não há atitude, não há iniciativa, e o pior, não há indignação por parte da sociedade. Isso ficou como se fosse algo comum, do dia a dia.

Onde vamos parar?

Ou a sociedade e as instituições reagem ou o crime vai ampliando cada vez mais os seus tentáculos dentro do Estado que deixará de estar a serviço da sociedade para ficar a serviço do crime.

E aí, vamos fazer o que? Qual é a sociedade que estamos legando para as futuras gerações?

Que cada um examine a própria consciência, reflita e veja o papel que lhe cabe neste momento.

É duro, mas temos que reconhecer que a sociedade está perdendo a capacidade de se indignar.

6 thoughts on “Estamos perdendo a capacidade de nos indignar

  1. Sarafa,

    Nao é a populacao que nao se indigna mais, mas os nossos periodicos que nao querem divulgar essas informacões, pois afetam diretamente aos seus patrociandores.

  2. Senado;Câmara Federal;Assembléias Estaduais e Municipais; Superior Tribunal Federal…e por aí vai,escândalo após escândalo!…jornalistas, jornais e revistas vendidos a quadrilhas que há tempos articulam em beneficio próprios… polícia a serviço do crime…etc.

    Estamos entorpecidos, como exigir que nos indignemos? Nós, do povo, elegemos aqueles que deveriam indignar-se por nós e, quando esses não o fazem , o que sabemos fazer é jogar pedras, botar fogo, pois há hora que não dá para esperar mais quatro anos para mudar o voto.
    Senador Arthur Virgílio, votei no senhor, e ainda não o ví fazer nada de concreto para moralizar o senado. Falar não basta!…quero vê-lo desprender-se das benesses desnecessárias que todos, todos vocês, usufluem, juntamente com um monte de assessores completamente desnecessários.

  3. Essa sociedade que não se indigna é a mesma que só quer saber de dinheiro no bolso! E não é só dinheiro pra comprar o pão e os sapatos, não! É a geração que só quer saber de comprar carro, viajar e usar roupa “de marca”!

  4. Eu também fiquei indignado com a morte do MARTINIANO .Era um homem muito mau ,mas na hora de alcançar o Reino do Senhor ele viu que para chegar na Semana Santa ele teria que se penitenciar .
    Foi ARREPENDIMENTO a morte desse cidadão e ninguém quer acreditar.Eu também me indigno com essas coisas .
    O ARREPENDIMENTO cura a alma .

  5. Martiniano falou de mais amanheceu com a boca cheia de formiga é sempre assim, no Brasil engana-se quem diz que a ditadura acabou autoridades são intocáveis, políticos juízes, promotores, delegados, quem denuncia morre aí o caso esfria fica o dito pelo não dito e o único preso é o morto que pegou sete palmos de terra nos peitos, ninguém investiga porque não há interesse em apurar, no máximo fazem a chamada investigação de H para inglês vê que nunca da em nada, ninguém é preso ninguém é punido e cai no esquecimento. O Caso Wallace Souza e seu filho é um grande exemplo a se confirmar é olhe lá se o Moa não “se suicidar” também não duvido nada. Fica então a pergunta será que a explosão de sede da Polícia Federal foi mesmo um acidente? Ou foi uma tentativa de apaga o Moa que lá estava preso e não deu certo?

  6. É preciso saber por que as instituições não reagem ou quais são os limites de sua reação. O que leva jornais a silenciarem diante de denúncias tão graves? O que leva entidades e homens públicos a se acomodarem, como se nada tivessem a ver com os fatos?
    Agatha Christie recomenda que, diante de um crime, se deve buscar saber a quem ele interessa. O crime, aqui, é a não-apuração de denúncias de crimes. A quem interessa não apurar os fatos envolvidos nos depoimentos de Martiniano e Moa?
    Falo, exclusivamente, de apuração, de processo através do qual se pode descobrir o que do dito pelos depoentes corresponde à realidade e o que é fabulação.
    Aos inocentes, creio eu, interessa que a apuração dos fatos seja integral.
    Àqueles que tem participação nos fatos denunciados interessa tudo, menos que a apuração avance.
    Quanto à ausência de indignação da sociedade, bom, talvez se trate de resignação diante do que se acostumou a ver. Para muitos, aqueles que compôem a “elite no poder” são cúmplices, quando não, comparsas. Então, pensa-se: “por que esperar que cúmplices ou comparsas fiscalizem uns aos outros?”.
    Daí para uma atitude desencantada e cínica pode ser um passo. Mas a pergunta não parece despropositada.
    Enfim, as pessoas comuns, o povo freqüentemente parece não se identificar com as instituições públicas, pois nelas vê apenas um modo de organizar e proteger os interesses de quem manda.
    Se essa visão está certa ou errada, só se pode dizer avaliando casos em que denúncias se transformaram ou não em processos e julgamentos, nos termos da lei.
    Indignados muitos estão, mas as instituições parecem fazer ouvidos moucos para esse sentimento.
    O que explica essa “surdez”?

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