EDUCAÇÃO – DESCULPE SENADOR

Francisco R. Cruz

Ano de eleição é ano de muitas promessas. A educação será alvo de muitas delas, mas, a grande maioria voltada para a escola e não para o ensino. Constarão das propostas construção de novas salas de aulas e recuperação das antigas. Creches e computadores serão prometidos. E é possível que tudo seja cumprido e daqui a quatro anos veremos propagandas e discursos mencionando números como um grande feito em favor da educação.

Enquanto isto, crianças continuarão a deixar o quarto ano do ensino fundamental na condição de analfabetos funcionais, pois, nessas belas escolas ensinar a ler e escrever corretamente continuará sendo um desafio que candidato algum se dispõe a enfrentar. E de eleição em eleição o país vai vivendo sem avanços que transformem, significativamente, essa área tão estratégica para o desenvolvimento sustentável do país.

Determinar e atacar as causas que fazem da nossa educação uma das piores do mundo, tem sido de uma assombrosa dificuldade para o poder público. A falta desse rumo tem permitido o surgimento de inúmeras receitas, que mesmo quando boas, pecam pela falta do sentido de urgência que o momento exige.

Por melhor que seja qualquer proposta, se não levar em conta encurtar rapidamente a distância que nos separa dos países com os melhores resultados nessa área, não nos serve.

Não dá mais para aceitar a educação como uma atividade que só produz resultados num longo prazo que nunca chega. Acreditar nesse axioma é um erro estratégico que tem determinado a condenação de milhares de crianças e jovens ao holocausto da pobreza, tão grave e tão cruel quanto ao da segunda guerra mundial.

O mais lamentável é que os casos de sucesso são desprezados sem nenhuma cerimônia, em favor de propostas mirabolantes que nunca apresentam resultados satisfatórios.

No momento, a bola da vez é uma antiga propositura do ilustre, respeitável e brilhante senador Cristovam Buarque, por quem tenho grande admiração, que pretende federalizar todas as escolas públicas do país, escudada no sucesso delas nos diversos exames nacionais, inclusive no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes).

A premissa é verdadeira, mas se inviabiliza nos detalhes que, pelo visto, não foram considerados. Começaria lembrando que as escolas federais representam apenas 1% do universo da educação do país e é composto pelas antigas escolas técnicas (atuais institutos federais e as profissionalizantes) e os colégios militares. Essas instituições abrigam alunos de alto desempenho oriundos dos ensinos público e privado, escolhidos em rigorosos exames de seleção, detalhe que faz o sucesso.

Ou seja, os bons resultados são produzidos pela elite da educação pública do país, portanto, muito distante da realidade, não servindo de referência para a tomada de tal decisão.

Continuando nos detalhes, deve-se entender que essa decisão é eminentemente política e, como se sabe, a educação envolve uma comunidade de mais de oitenta milhões de pessoas, o que representa para estados e municípios uma fabulosa parcela do poder eleitoral. Abrir mão desse poder exigiria longas negociações, tornando a proposta inviável, também, pelo lado da urgência. Aliás, o nobre senador informa que, sem contar essa fase de negociação, a transição levaria mais de 20 anos, o que significaria a perda de algumas gerações.

Nessa dita fase de transição o projeto comete, ainda, um desvio de finalidade, pois escalona a transferência das escolas, a partir das mais bem avaliadas. Ora! Se o objetivo é melhorar a qualidade, não tem sentido começar pelas cidades com melhor desempenho. Será que não deveria ser exatamente ao contrário?

Desculpe senador! Mesmo o respeito e a admiração que tenho pela sua luta em favor da educação e, ainda, a brilhante trajetória de político e educador, não foram suficientes para considerar a sua proposta como um razoável caminho para a nossa educação. Esta, como a da escola de tempo integral, também, está com um século de atraso.

Com o conhecimento e o prestígio que tem Vossa Excelência, talvez, o mais proveitoso fosse encabeçar uma campanha, que propugnasse copiar os exemplos de “bom desempenho” de inúmeras escolas brasileiras. Eles existem.

Empresário. Foi presidente de empresa estatal. Na primeira década de 2000 coordenou a área de educação do Pacto Amazonense.

frcruz2@uol.com.br