Crise na base aliada adia votação da Lei Geral da Copa

Transcrito de OGLOBO.COM:


Deputados adiam votação da Lei Geral da Copa
Foto: Agência Brasil / Fábio Rodrigues

Deputados adiam votação da Lei Geral da Copa Agência Brasil / Fábio Rodrigues

BRASÍLIA – No mesmo dia em que o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, disse que a crise com a base estava superada, o governo sofreu nesta quarta-feira derrotas na Câmara dos Deputados que culminou com a obstrução da votação do projeto da Lei Geral da Copa e o adiamento para a próxima semana. Partidos da base e da oposição – DEM, PSD, PMDB, PR, PMN, PPS, PDT, PTB e PSC – pressionam pela votação antes do projeto do Código Florestal, cuja apreciação o governo quer protelar. O líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves, disse que a obstrução da Lei da Copa foi decidida para assegurar o sucesso da votação.

– O obstrução é para não correr riscos. Prefiro obstruir para ganhar depois do que votar agora e perder – disse Alves.

A crise na base aliada já provocou hoje outras duas derrotas do governo. Na CCJ da Câmara, foi aprovada a admissibilidade de uma Proposta de Emenda Constitucional que determina que passe pelo Congresso Nacional a demarcação de terras indígenas, o reconhecimento de terras quilombolas e a definição de áreas de preservação ambiental (PEC dos Índios). O PT até tentou suspender a votação, mas foi derrotado por 38 votos a 2. Já na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, os deputados aprovaram a convocação da ministra do Planejamento, Miriam Belchior.

PTB e PSC formam novo bloco para votar independente do governo

Pouco antes, o PTB anunciou que deixou o bloco parlamentar que integrava com o PSB e PCdoB para aliar-se ao PSC. Os dois partidos, que juntos somam 38 deputados (21 do PTB e 17 do PSC), participaram da obstrução da votação Lei Geral da Copa e prometeram tentar obstruir qualquer votação no plenário da Câmara até que seja pautado ou acordada nova data de votação do Código Florestal.

Sobre no novo bloco na Câmara, os líderes do PTB, Jovair Arantes (GO), e do PSC, Ratinho Junior (PR), disseram que os dois partidos continuam na base de sustentação do governo Dilma Rousseff, mas que juntos, mais fortes, podem adotar posturas de independência em relação às matérias enviadas pelo governo.

Nos bastidores, no entanto, deputados das duas legendas não escondem a insatisfação pelo tratamento recebido do governo. Muitos afirmam que partidos pequenos da base têm ministérios e os dois partidos sequer conseguem ver resolvidas suas pendências. Entre os exemplos, citam o caso da indicação de Marcelo Crivella para o Ministério da Pesca. O PRB, partido de Crivella, tem 10 deputados.

O líder Jovair Arantes afirmou que a motivação para a saída do bloco com PCdoB e PSB e a formação de bloco com o PSB não teve como motivação essas insatisfações com cargos e emendas e que esses problemas serão discutidos no momento oportuno.

– Nosso tamanho agora é do tamanho das duas bancadas e em relação ao governo também será assim. Mas hoje não é discussão de ministério, de emenda, não é essa a motivação. Isso será tratado no momento oportuno. Agora é a prioridade para votar o Código Florestal, nossas bases estão nos cobrando. Entendemos a importância da Copa, mas o Código é mais importante – disse Jovair.

Os dois partidos também decidiram intensificar os entendimentos para as eleições municipais deste ano, para que juntos lancem candidatos majoritários.

Políticos comentam crise no Twitter

A rebelião dos partidos repercutiu nesta quarta-feira no Twitter. Na análise do deputado Roberto Freire (PPS-SP) a crise é “brava”.

“Não é só no Congresso com a base aliada, são aliados se desconhecendo no campo cultural, na economia, trabalho”, disse o deputado no microblog.

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) comentou:

“A situação na CD ( Comissão de Desportos) está ‘de vaca desconhecer bezerro’: base do governo fracionada, nenhum setor tem hegemonia. Resultado: PARALISIA! “.

O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) disse que o resultado da “truculência” da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti , foi visto na semana passada quando ela insistiu na quebra dos acordos firmados pelos líderes da Câmara. Ele também criticou a condução do líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP).

“Estou impressionado com a falta de tato do líder do PT, Jilmar Tatto. Conseguiu a proeza de ser pior que Paulo Teixeira”, criticou Caiado.

Para tentar melhorar om relacionamento da base aliada com o governo, o líder no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM) anunciou que planeja levar um ministro por semana à Casa para atender não apenas os parlamentares aliados, mas também os prefeitos das capitais e os governadores. Nesta quarta-feira, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, esteve no Senado já como parte dessa estratégia. Mercadante ouviu as demandas de diversos senadores aliados e até da governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini, que aproveitou a oportunidade para conversar com o ministro.