Collor sai por cima

Veja o que disse o ex-presidente Collor de Melo ao Blog do Josias:


Indicado para representar o PTB na CPI da Petrobras, Fernando Collor de Mello (AL) é categórico: vai à comissão para investigar, não para abafar.

“Eu não farei parte de nenhuma tropa de choque na CPI”, disse o senador, em entrevista ao blog.

Adota, desde logo, um discurso que o diferencia de outros integrantes do consórcio governista. Acha que há, sim, “pontos obscuros da administração da Petrobras.

“Sempre há o que investigar. Basta a pessoa ser um pouco curiosa para detectar dúvidas e perguntas que precisam ser feitas”.

Dá de ombros para uma tese de Aloizio Mercadante (SP). O líder do PT defende que a CPI se ocupe do debate sobre o marco regulatório da exploração do pré-sal.

E Collor: “Essa questão é algo para ser discutido na comissão de Infraestrutura ou na de Assuntos Econômicos. Não há campo para esse tipo de discussão na CPI”.

De resto, faz uma reflexão de cunho historiográfico: “Eu, que fui alvo de uma CPI que me afastou do governo pelo impeachment, partiparei agora dessa CPI…”

“Uma CPI de envergadura, constituída para investigar pontos obscuros da administração da Petrobras, a maior estatal brasileira”.

Realça uma coincidência: “Vou conviver na CPI com pessoas que foram artífices na CPI contra o meu governo, que resultou no meu afastamento”.

Entre risos, constata: “A história tem seus caprichos”. Afirma que não está nos seus planos aproveitar-se das artimanhas do acaso para vingar-se dos ex-algozes.

“De jeito nenhum. Atuarei com a sobriedade que o tema exige”. Vai abaixo a entrevista do senador:

– Como se deu sua indicação para a CPI?

Foi um pedido meu. Eu disse ao Gim [Argello, líder do PTB] que gostaria de fazer parte da CPI.

– Por que o interesse?

Primeiro, é uma experiência muito interessante. Permite que eu participe das atividades legislativas com mais densidade. Em segundo lugar, é uma forma de eu colaborar para que os trabalhos tomem um rumo de tranqüilidade, sem exageros e sobressaltos. É isso o que eu espero.

– Vai à CPI para investigar ou para acalmar os ânimos?

As duas coisas. Meu desejo é o de que a CPI alcance o objetivo de elucidar alguns pontos que não estão claros sobre a administração da Petrobras. São os tópicos elencados no requerimento do senador Álvaro Dias [PSDB-PR] e outras questões supervenientes.

– Acha, portanto, que há o que investigar?

Sempre há o que investigar. Basta a pessoa ser um pouco curiosa para detectar dúvidas e perguntas que precisam ser feitas.

– O governo escala uma tropa de choque para defendê-lo na CPI. Vai integrar essa tropa?

Eu não farei parte de nenhuma tropa de choque na CPI. Disso não farei parte. Meu intuito não é esse. O que vou fazer é tentar ajudar para que a CPI não se transforme numa arena de lutas verbais. Espero que tenha a maior objetividade possível dentro das finalidades para as quais foi criada.

– Quer objetividade para investigar?

Sim, claro. Creio que é do interesse do próprio governo que todas as questões fiquem esclarecidas.

– Aloizio Mercadante defende que a CPI se ocupe do debate do marco regulatório do pré-sal. Concorda?

Não creio que seria o foro ideal para isso. Essa questão do marco regulatório do pré-sal é algo para ser discutido na comissão de Infraestrutura ou na de Assuntos Econômicos. Não há campo para esse tipo de discussão na CPI. Até porque desvirtua o objetivo da CPI.

– Em discurso no plenário, Arthur Virgílio disse que Collor não criou obstáculos para a CPI que levou ao impeachment e não seria agora que obstaculizaria uma CPI da Petrobras. Concorda com o raciocínio?

Concordo plenamente.

– Seus propósitos foram explicitados ao líder Gim Argello?

Deixei tudo muito claro. Vamos com o propósito de investigar. Apenas tentaremos evitar que a tensão pré-eleitoral possa desaguar na CPI. Isso criaria um clima de indisposição grave entre partidos políticos que tem candidatos à eleição de 2010. Se necessário, trabalharei no sentido de apaziguar. Minha palavra será sempre no sentido de que não podemos perder a objetividade da CPI.

– Fez alguma reflexão pessoal do ponto de vista historiográfico?

Sem dúvida, é uma coincidência curiosa. Eu, que fui alvo de uma CPI que me afastou do governo pelo impeachment, partiparei agora dessa CPI. Uma CPI de envergadura, constituída para investigar pontos obscuros da administração da Petrobras, a maior estatal brasileira.

– Empresa que agora está sob gestão do PT…

Exatamente. Vou conviver na CPI com pessoas que foram artífices na CPI contra o meu governo, que resultou no meu afastamento.

– A história é caprichosa, não acha?

É verdade. A história tem os seus caprichos [risos].

– Move-o o instinto de vingança?

De jeito nenhum. Atuarei com a sobriedade que o tema exige.