CBA: (des) esperando Godot

Por Alfredo MR Lopes (*) alfredo.lopes@uol.com.br

O pernambucano Armando Monteiro, empresário e, por hora, ministro do Desenvolvimento, entendeu desde sempre o mote do Geraldo  Vandré sobre a sabedoria do fazer a hora, e da insensatez da esperança no sentido do conformismo estéril. Por isso encomendou do InMetro as bases métricas do CBA, Centro de Biotecnologia da Amazônia, na expectativa de rápidas soluções. Para quem não viu, vale uma dica: seu plano/programa de exportação segue o mesmo critério: pouco papo e muita ação para achar saídas rápidas na crise. Nesta segunda-feira, em mais uma reunião sobre encaminhamentos, vimos um projeto que se arrasta há mais de uma década.  O dramaturgo Samuel Becket – desculpem a insistência em revisitar – um dos autores do Teatro do Absurdo,  escreveu, ainda sob os escombros da 2ª Guerra, em 1949, a peça “Esperando Godot”. O cenário é  simples como a vida:  uma estrada, árvore, à noite, a espera passiva de  Estragon e Vladimir por um sujeito de nome Godot. Nada é esclarecido a respeito de quem é Godot ou o que eles desejam dele. Quem é o Godot do CBA? Becket nos sugere  Pozzo e Lucky e este carrega uma pesada mala que não larga um só instante. No segundo ato, o cenário é o mesmo, Estragon e Vladimir seguem esperando enquanto  Pozzo e Lucky reaparecem. Pozzo está cego e Lucky surdo. Eles vão embora, e em seguida, um garoto reaparece  anunciando novamente: “Godot não virá, talvez amanhã.” O diálogo final, que encerra o ato e a peça é o seguinte: Vladimir: “Então, devemos partir?” Estragon: “Sim, vamos!”. E eles não se movem.

O que fez Armando Monteiro senão propor a desesperança de Godot?  Há muita água para rolar sob esta ponte desde que ela se proponha a unir as margens de sua estabilidade e união. Uma delas é perguntar a expectativa das entidades da indústria, o segmento social que financiou a empreitada.  O CBA representa um de seus polos, o da biotecnologia focada na produção industrial da biodiversidade amazônica. Que se  leve em conta a conexão inteligente com os demais  que se faz necessária. A produção de alimentos, com inovação e eficiência para uma nutrição prazeirosa é adequada aos colaboradores do distrito.  Isso, de quebra, é nova matriz econômica para reduzir o peso de carregar quase só a economia local. A produção de resinas industriais, biopolímeros, enzimas, dar sequência ao processo evolutivo com inteligência e biotecnologia eficaz.  Algumas consultas já foram feitas  para esta entidade. Precisa fazer todas com a interveniência do Estado, da região onde o CBA deve priorizar sua ação, a Amazônia Ocidental, Oriental, Continental. A indústria tem muito claro o papel complementar da biotecnologia no parque industrial que conduz. O Inmetro deu um pontapé inicial, com a edição de bolsas para resolver incidentemente uma questão pontual, mas o jogo quem joga é quem aqui vive.

O comitê gestor do CBA não pode prescindir do cardápio de soluções que Marcelo Rossi da Embrapa, que se alia a oferta de saídas de todas as Embrapas da Amazônia;  dos saberes do Inpa, dos seus cientistas que escasseiam todo dia. Eles precisam contar aos  bolsistas/empreendedores, envolvidos em projetos de desenvolvimento de produtos, seus Ovos de Colombo, que irão definir  o modelo de gestão deste Centro de negócios.  O Inmetro seguirá ajudando, como coadjuvante estratégico, em sua  função gerencial e  funcional de aferir a métrica dos produtos da indústria, bio e agroindústria. É imenso o potencial de produtos disponíveis nos botes do Mercado Adolpho Lisboa, Ver-O-Peso, entre outras da medicina, cosmética e fitoterapia regional. O pesquisador Adrian Poliht da Coordenadoria de Inovação e Luiz Antônio de Ações Estratégicas apontam a necessidade estratégica de combinar inovação com os bionegocios em andamento – uma fórmula de sucessos –  desde que os europeus aqui desembarcaram atrás das ervas do sertão, provando que, decididamente, esperar não é saber….

(*) Alfredo é filósofo e ensaísta.