Careiro-Castanho é município pioneiro em operações lábio palatal

Texto: Nathane Dovale e Robson Franco / Fotos: Tadeu Júnior e Robson Franco

Eis que se junta a fé com o interesse de realizar trabalhos voluntários. Careiro-Castanho, abril de 2010, o médico Antônio Guedes Alcoforado Assunção, de Recife, mas residente em São Paulo, chega à pequena cidade do interior do Amazonas com a vontade de ajudar a quem precisa e faz jus ao juramento de Hipócrates, que fez ao se formar.

A pequena Rafaelle com os pais: com a cirurgia, a possibilidade de uma vida mais próxima do normal

Interessado em realizar trabalhos filantrópicos, o médico cirurgião encontra na cidade uma estrutura adequada para realização de cirurgias de fissura lábio palatal. Ele integra a Associação Fala Sorriso! Que reúne médicos voluntários pra este tipo de atendimento gratuito. O problema não tem uma origem determinada, mas pode ser ocasionado durante a gravidez, fazendo com que algumas crianças nasçam com fissuras nos lábios e no palato.

Estudos mostram que durante o período de gestação o uso de álcool e cigarro, uma alimentação não balanceada, infecções durante a gravidez, intoxicações medicamentosas e fatores hereditários podem causar deformação nas crianças. Sabe-se que com a operação recupera-se a principal vontade que é a de viver.

O trabalho é continuo e para isso a equipe formada por um cirurgião, dois anestesistas e dois ortodontistas que contam com a ajuda da Prefeitura do Careiro-Castanho pagando a estadia, alimentação e estrutura médica; a Gleinner Bio-One Brasil que faz doações de matérias hospitalares; de um carro de anestesia doado pela SUSAM e dos próprios profissionais que fazem o trabalho voluntário.

O doutor Antônio Assunção, da Associação Fala Sorriso!, a diretora do hospital do Careiro, Francisca Rinckely, e do prefeito do Careiro, Joel Lobo.

A operação tem duas fases, cada uma no intervalo de seis meses. Já foram realizadas 22 cirurgias de primeira fase e 17 de segunda. Os pacientes sabem do recurso disponível na cidade através da comunicação direta, por rádio e os agentes de saúde que fazem todo o aparato dos pacientes e encaminham para exames clínicos. A cirurgia pode ser feita a partir dos três meses de idade, mas dá se prioridade para as crianças que já estão mais tempo com o problema e tem dificuldade de enfrentar a deformação no rosto. “As crianças sofrem bullying, por conta da fissura lábio palatal, na escola e algumas vezes em casa são motivos de briga entre os pais sofrendo rejeição por terem nascido assim. É importante que essas brigas não aconteçam, pois afeta o psicológico da criança que além de ter dificuldade de se aceitar fica constrangida ao falar e ao aparecer em público”, comenta o médico Antônio Assunção, que também atendeu no HRAC/USP Centrinho, hospital de referência internacional em operações lábio palatal. Acrescenta que as pessoas precisam saber que os conhecimentos empíricos envolto da deficiência no palato e nos lábios, como o mito de que guardando a chave próxima ao seio, faz com que a criança nasça deformada, precisam ser esquecidas, pois os estudos feitos mostram que não há fundamento nesta crença.

O tratamento além de beneficiar os moradores do Careiro-Castanho abrange os municípios próximos, como Coari, Anori, Manaquiri, Anamã, Beruri, Manacapuru, e inclusive da capital Manaus. “O maior resultado dessa conquista é fazer a reintegração dessas pessoas à sociedade, que muitas vezes por conta da aparência se sentem rejeitadas. Além de ver a felicidade das crianças ao observarem no espelho que são iguais às outras”, diz Joel Rodrigues Lobo, prefeito da cidade do Careiro-Castanho.

Após esta semana de atendimento a equipe voltará em abril do ano que vem, provavelmente para ver novos sorrisos e a esperança estampada em rostos de outras pessoas, que certamente já saberão desta notícia.

Francielly da Silva Cavalcante, de 6 anos.

Espera chega a ser de três anos

Das mais de 10 famílias que vieram de outros municípios, a busca pela cirurgia lábio palatal chega a ser de três anos. De acordo com autônomo Ronaldo Silva Moreira, 23, do município de Anamã, salientou que a maior dificuldade é agendar a operação para fazer a reparação no Centro de Oncologia de Manaus (Cecon), e esta é uma oportunidade rara. “O mais triste foi ouvir uma médica discutindo com uma enfermeira para parar de nos iludir porque não teria vaga nos próximos dois anos”, revelou.

Manoel Santos da Silva, 40, agricultor também de Anamã, ficou em choque quando a sua mulher, Luizete Bastos da Cunha trouxe o neto, Edenilson Santos da Silva, de três anos, já rejeitado pelos pais, para criar. “Eu nunca tinha visto e foi um coque realmente, mas já que ele tinha sido rejeitado pelos pais, não poderia cometer o mesmo erro.

A criança não tem culpa e não pode ser penalizada mais do que já é por ter nascido com a deficiência. Não bastasse o constrangimento que ele sofria por parte das outras crianças, não poderíamos deixar de procurar uma solução para resolver o problema e graças a deus encontramos”, afirmou.

Para Edilene Garcia dos Santos, 20, o nascimento de Rafaelle era esperado com alegria, mas foi um grande choque ver que ela tinha nascido com fissura lábio palatal. Mesmo tendo sido acalmada pelo médico de que o problema tinha solução, não deixou de ficar inquieta em função do preço das cirurgias e da dificuldade em marcar uma operação. “Agora, vendo a minha operada, vejo que ela terá uma vida o mais próximo do normal”.

A pequena Franciele da Silva Cavalcante, de seis anos, do alto de seus pouco mais de meio metro, e com todas as forças de seu corpo franzino consegue definir o resultado desta ação que conta com o apoio da Organização Não-governamental Visão Mundial, ligada à Igreja Presbiteriana.

“Agora já dá para sorrir”.

2 thoughts on “Careiro-Castanho é município pioneiro em operações lábio palatal

  1. Serafim,

    Ainda guardo comigo o sorriso da pequena Rafaelle, de apenas quatro meses, da palavra frágil e firme da Francielly, de que agora dá para sorrir. O que mais impressiona, no entanto, é o fato de este serviço ser feito sem quase nenhum recurso do governo do Estado pura e simplesmente por briga política. Nestes dois primeiros anos de mandato do prefeito Joel Lobo, os recursos com que foram feitas inúmeras obras no Careiro-castanho, chegaram através dos deputados federais Silas Câmara, Átila Lins e Marcelo Serafim. Algumas obras estão inacabadas porque os recursos não foram repassados pelo governo do Estado.
    Ainda assim, não falta vontade de realização ao Joel Lobo. Com recursos próprios, ainda que minguados por conta das dívidas deixadas pelo antecessor, estão em andamento várias obras. mas fundamentalmente, percebe-se a vontade política de beneficiar o povo.

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