Apagões afetam abastecimento de água em Manaus, denuncia Arsam

Agência faz levantamento sobre ocorrênicas e encaminhou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)

Reproduzido de ACRITICA.COM, por Júlio Pedrosa :

A Arsam constatou que a perda de energia desses poços ocasiona a falta d´água e afeta diretamente a população (Márcio Melo )

As constantes quedas de energia que comprometem a qualidade dos sistemas isolados de abastecimento d’água de Manaus levaram a Agência Reguladora dos Serviços Públicos Concedidos do Amazonas (Arsam) a elaborar um relatório contendo um histórico de problemas desse tipo registrados entre janeiro e dezembro de 2010.

O documento – um calhamaço com mais de 300 páginas – foi encaminhado no último dia 30 para o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson José Hubner Moreira, com pedido de providências e a recomendação de que sejam aplicadas as sanções cabíveis à Amazonas Energia com a finalidade de sanar o problema, inconcebível para uma cidade subsede da Copa do Mundo.

O dossiê foi preparado pela Arsam ao longo de 2010 e relata todas as oscilações de energia ocorridas de janeiro a dezembro, nas zonas Norte e Leste, onde se concentram 90% dos poços artesianos pertencentes à Águas do Amazonas. O diretor-presidente da Arsam, Fábio Alho, explica que os poços artesianos têm vazão que varia de 13 a 100 metros cúbicos por hora, dependendo da demanda.

“Achamos por bem, dadas as constantes reclamações da concessionária Águas do Amazonas, aferir, in loco, se havia prejuízo. E, de fato, constatamos o diagnóstico de oscilação e perda de energia desses poços, um problema que ocasiona a falta d’água e afeta diretamente a população que, muitas vezes, permanece por períodos de até uma semana sem fornecimento”, afirma Alho.

O relatório traz um espelho do que está acontecendo e revela números surpreendentes. Segundo Fábio Alho, são registrados, em média, nos sistemas isolados, 30 desligamentos/mês -, quase um por dia – e 25 oscilações de tensão/mês, o que causa a queima das motobombas que alimentam o sistema. De janeiro a dezembro de 2010 foram 79 equipamentos (motobombas) queimados, com picos entre setembro (7), outubro (10) e novembro (12 aparelhos danificados e que precisaram ser substituídos). O equipamento chega a custar R$ 20 mil.

O documento da Arsam pede à Aneel, entre outras recomendações, que faça uma avaliação da continuidade da prestação do serviço público de energia e determine que a empresa do sistema Eletrobras informe quais as causas e as ações saneadoras a serem tomadas na correção das não conformidades. “O que acontece é que a empresa não explica o que de fato gera as baixas de tensão. Não explica claramente, fala em cabos, postes que são derrubados, alimentação, questões climáticas”, afirma Alho, observando que a Arsam recebe inúmeras denúncias de desabastecimento quando são registrados problemas nos sistemas isolados.

Demora

Uma equipe de eletricistas da concessionária Águas do Amazonas pode levar, em média, entre oito a dez horas para conseguir fazer o restabelecimento do sistema elétrico dos chamados Centros de Produção de Águas Subterraneas (CPAS), os locais onde funcionam os sistemas isolados de distribuição de água que fazem o reforço à rede.

Muitas vezes só há oscilação porque o sistema funciona com tensão específica de energia. Qualquer queda ele imediatamente desliga para proteger o equipamento de um problema maior. Atualmente, Manaus possui 130 CPAS espalhados pelas zonas Norte e Leste. “Com o desligamento, até que o sistema pressurize e volte a bombear água perde-se de um a dois dias. Se a manobra não for suficiente, a reação é em cadeia e chega a ser infinita, até chegar água num sistema precário”, afirma o presidente da Arsam.

A Aneel é a agência federal de regulação das concessionárias subsidiadas pelo Governo Federal em todo o País. O órgão é o único habilitado para lavrar multas e advertências às empresas de energia dos Estados. É a primeira vez que é feito um relatório circunstanciado sobre as oscilações de energia.

Armazenamento

Essa é a solução encontrada por aqueles que moram nas zonas Norte e Leste de Manaus, que sofrem diariamente com o problema Milhares de famílias residentes nas zonas Norte e Leste de Manaus convivem, em seu dia-a-dia, com o problema da falta d’água, gerada por conta de problemas elétricos.

Em alguns casos, o armazenamento de água pode ser a solução. A dona de casa Mariana Conceição Carvalho, 19, moradora do bairro João Paulo, conta que costuma acumular água em casa para evitar surpresas. “Até hoje não tivemos problemas, porque meu sogro tem poço na casa dele e fornece pra gente. Mas há casos de moradores aqui que dependem exclusivamente da Águas do Amazonas”, informa.

Segundo ela, o poço da Águas do Amazonas que abastece as residências no local foi inaugurado há pouco mais de um ano e até agora não registrou problemas por conta de quedas de energia. Pelo sistema isolado, o abastecimento é precário, com um dia com água e dois sem.

A empresa Águas do Amazonas, por meio de sua assessoria de comunicação, informou que os CPAS existem com a finalidade de reforçar a rede de distribuição de água. Segundo a assessoria, 97,5% da cidade têm cobertura de rede. periferia Alguns locais que são os mais periféricos necessitam de reforço.

A produção de água feita hoje pela empresa seria suficiente para abastecer 3 milhões de pessoas, quase o dobro da população. Todo o sistema – desde a estação de captação até os CPAS funcionam à base de energia. As quedas de tensão interferem diretamente na qualidade da prestação do serviço.