Amazonas, história e memória

Por Osíris Silva:

Recebi, por especial cortesia do amigo Moisés Sabba, e família, exemplar do significativo livro “História e Memória: Judeus e Industrialização no Amazonas”, 2015, de Elias e David Salgado. Sou, por formação, sensível a obras semelhantes que se ocupam em resgatar o passado para melhor valorizar o presente e o futuro. Entendo a necessidade não de “reviver” o passado, mas resgatá-lo, para compreender o presente e, por extensão adquirir meios de tentar influir o futuro livre dos erros e amarras pregressos. Max Weber (1864-1920), ao publicar em 1904 “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”,  considerado, na lista das obras de não-ficção como o livro do século XX, tornou-se conhecido do mundo científico por buscar comprovar a eficácia da interpretação da sociedade partindo “não dos fatos sociais já consolidados e suas características externas (leis, instituições, normas, regras, etc), mas centrando-se no indivíduo que nela vive, ou melhor, pela verificação das ‘intenções’, ‘motivações’, ‘valores’ e ‘expectativas’ que orientam as ações do indivíduo na sociedade”.

Como explicam os próprios autores, História e Memória “tem como objetivo central retratar, sob a perspectiva da História e da memória, a participação do elemento judaico no processo de industrialização do Amazonas”. Constitui, na verdade, “uma viagem no tempo ao universo histórico do tema em questão, por meio de uma vasta pesquisa bibliográfica, documental e iconográfica, de uma profunda incursão no universo da memória de descendentes dos pioneiros”, protagonistas, por meio de entrevistas/depoimentos exclusivos e inéditos, realizados e transcritos pelos autores e sua equipe de trabalho, que revivem “um tempo especial e uma experiência ímpar no plano pessoal e coletivo”.

Destaca ainda que “com o estabelecimento da Zona Franca de Manaus em 1967 foram criadas muitas empresas cujos proprietários e sócios eram de origem judaica, destacando-se, entre todos, o empresário e industrial Isaac Benayon Sabbá, que construiu a Companhia de Petróleo da Amazônia – COPAM, inaugurada em 3 de janeiro de 1957 pelo presidente Juscelino Kubitschek”. Reunindo um conglomerado de 41 empresas, “o grupo Sabbá “empregava diretamente seis mil pessoas, o equivalente a 5% da população urbana da cidade de Manaus”.

Além de Isaac Sabbá, despontaram nesse período “Isaac Jacob Benzecry, importante exportador de produtos amazônicos e fundador da fábrica Beneficiadora de Produtos da Amazônia Ltda., que também, “em associação a Abraham Pazuello, fundou a CIEX, exportadoras de produtos regionais beneficiados”. É também salientado o papel de Jacob Samuel Benoliel (dono da Drogaria Universal, líder empresarial, presidente da Associação Comercial entre 1931 e 1944, além de Cônsul Honorário de Portugal em Manaus).

Isaac Israel Benchimol, “idealizador da empresa Benchimol &Irmãos, hoje grupo Bemol-Fogás” figura em destaque no livro. O sucesso de Israel Benchimol, contudo, não se encerra nos empreendimentos que construiu, mas nas cabeças que formou, destacando-se os irmãos Samuel e Saul Benchimol (meu eminente professor de Macroeconomia), empresários, professores e intelectuais de grande expressão em nosso Estado, e os netos Jaime, Salomão e Jonathan Benchimol, que dirigem com sucesso o complexo empresarial da família.

Bem a propósito, a edição deste domingo, 11, de A Crítica, publica entrevista com outro importante pioneiro da industrialização do Amazonas, Mario Guerreiro. Aos 95 anos de idade dá continuidade aos negócios que, há 70 anos, aqui desenvolve, capitaneados pela Brasiljuta. A UFAM e UEA precisam juntar figuras paradigmáticas desse porte, acrescentados de outros importantes nomes, como Antonio Simões, Vasco Vasques, Waldomiro Lustosa, José Azevedo, Nathan Albuquerque, Sócrates Bonfim e Moisés Israel, dentre outros, e organizar “cases” a serem estudados pelas novas gerações de empreendedores amazonenses.