Açaí, ouro negro da Amazônia

O paraense José Maria Cardoso da Silva, professor titular do Departamento de Geografia da Universidade de Miami, Coral Gables, um dos co-autores do livro PAN-AMAZÔNIA, Visão Histórica, Perspectivas de Integração e Crescimento (2015), organizado por mim e o pesquisador da Embrapa Alfredo Homma, define biodiversidade como toda a variação de espécies e ecossistemas que existe no planeta, que inclui variedade dentro das espécies, entre as espécies, dentro de ecossistemas e entre os ecossistemas. Esta enorme variação, resultado de bilhões de anos de evolução, é que permite a nossa sobrevivência. Sem ela, afiança Cardoso da Silva, não seríamos o que somos e sem ela não poderíamos realizar todo o nosso potencial.

 

Por sua importância relativa à cadeia alimentar e da saúde, o açaí desponta como uma das estrelas do universo bioeconômico da região. Segundo estudos orientados pelo médico Euler Ribeiro, diretor da UnATI-UEA, Ivana da Cruz, bióloga da Universidade de Santa Maria (UFSM) e Ana Andreazza (Universidade de Toronto), o açaí demonstrou capacidade de proteger e recuperar condições normais de neurônios (células do cérebro) com alterações adversas em seu funcionamento encontradas em pessoas com transtorno bipolar.

De acordo com as pesquisas da UnATI-UEA/UFSM, efeitos positivos do açaí parecem resultar de grande quantidade de nutrientes ditos funcionais, os quais conseguem proteger as células dos radicais livres. Os resultados dessa pesquisa sugerem que o açaí é um alimento que, desde que indicado por profissionais da saúde, poderia ser adicionado à dieta de pessoas portadoras de problemas de saúde em diversos campos. De acordo com Euler Ribeiro e Ivana Cruz, a polpa do açaí tem recebido cada vez mais atenção na Amazônia e em todo o mundo de tal sorte que hoje em dia é considerado uma superfruta, recebendo ainda o título de fruto mais completo do mundo, autêntico ouro negro.

Em virtude de sua atividade antioxidante, ou seja de combate a moléculas que causam danos ao organismo e levam ao envelhecimento e ao desenvolvimento de doenças, o consumo de açaí tem sido eficaz como preventivo de doenças cardíacas. Estudo desenvolvido na Universidade de Arkansas- Estados Unidos concluiu que o consumo rotineiro de suco de açaí reduz os riscos de aterosclerose, o acúmulo de placas de gorduras nas artérias que pode levar ao Infarto e ao Acidente Vascular Cerebral.

Adicionalmente, o açaí apresenta atividade de proteção do cérebro contra a doença de Alzheimer, diminui a duração de convulsões em ratos e é capaz de prevenir danos no cérebro. Diante de tantas evidências dos benefícios do açaí, a parceria UEA-UnATI, Universidade Federal de Santa Maria e Universidade de Toronto, firmada em 2015, já apresenta importantes resultados. Um dos estudos realizado no Canadá, pelo aluno da UFSM Alencar Kolinski Machado, está publicado na revista científica inglesa Oxidative Medicine and Cellular Longevity.

Todos os estudos levados a cabo por diversas instituições de pesquisa atestam que o açaí possui 10-30 vezes mais antioxidantes que o vinho tinto; promove ótimo equilíbrio entre gorduras insaturadas e fibras, que ajudam a proteger a saúde do coração e do aparelho digestivo, uma combinação perfeita de aminoácidos e minerais, fundamentais para a regeneração e desempenho muscular. Além do mais, o açaí é altamente energético e protege todo o organismo contra o ataque de doenças.

Saliente-se, oportunamente que, por por deficiência de acuidade sobre extenso elenco de produtos amazônica estratégicos, perdemos os mercados da borracha, do pau rosa, das essências vegetais e de outros recursos de alto valor econômico de nossa biodiversidade. Nesse sentido, o Prof. Cardoso da Silva é conclusivo: precisamos bater na tecla de que somente os amazônidas podem desenvolver a Amazônia. Estratégias alternativas (modelos desenhados fora da região) não funcionam e nunca funcionarão. Cumpre apenas nos conscientizarmos dessa verdade elementar.