P&D, universidade e crescimento

Osiris Silva

Segundo a série “1901, Texto para Discussão”, IPEA,  2013, “a existência de um amplo e moderno parque de pesquisa científica e tecnológica é um dos requisitos fundamentais para a produção de conhecimento em um país e um dos pilares do sistema nacional de inovação”. Observa ainda que boa parte dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) realizados pelos países é proveniente de universidades e instituições públicas de pesquisa.

Israel tornou-se contemporaneamente réplica do Vale de Silício no Oriente Médio. Qual a razão dessa performance? De acordo com números da Battelle, de Columbus, Ohio, Estados Unidos, organização especializada na questão, ostentando a impressionante taxa de 4,2% ao ano o país é o que mais investe em pesquisa e desenvolvimento no mundo como percentagem do Produto Interno Bruto (PIB).

De fato, qualquer visitante não tem qualquer dificuldade em observar a extraordinário infraestrutura universitária e de pesquisa lá montada. O país é dotado de campi moderníssimos que atraem cérebros do mundo inteiro. Desta forma, vêm revelando internacionalmente produtos de tecnologia de ponta em diversos segmentos. Desde biomedicina, nanotecnologia, indústria de informática, de segurança, química, farmacêutica, cosméticos, e, em especial, o setor de agricultura irrigada.

Em seguida, também como percentuais do PIB, posicionam-se Finlândia e Coreia do Sul – 3,6%, Japão e Suécia – 3,4%, Dinamarca – 3,0% e Suiça – 2,9%; Alemanha, Estados Unidos, Áustria e Catar, a mesma posição – 2,9%, Singapura – 2,8%, França, Austrália e Taiwan, igualmente investem 2,3% do PIB por ano. Por fim, o Brasil, com 1,3% em relação ao PIB, ocupa a última posição do rank de 15 países. Embora, em termos absolutos, seja o 10º país da lista, cai, entretanto, para o 36º lugar considerando a parcela da economia total.

Enquanto os Estados Unidos ano a ano perdem posição relativa, as nações asiáticas vêm elevando significativamente suas posições no investimento global em pesquisa e desenvolvimento. Saltou de 25% na década passada para 34% em 2011. Ganho que se traduziu no aumento de produtos tecnologicamente avançados e no aumento de investimentos em P&D em muitos daquelas nações. A China é um caso à parte. Devido aos altos investimentos que realiza nesse campo, registrou impressionante incremento na produção científica, medida pelo número de publicações, seguida de perto pela Coreia do Sul, Taiwan e Singapura.

O aumento médio do número de publicações foi da ordem de 6 a 9% ao ano.  Estes países também apostaram em educação de alto nível. Estão efetivamente determinados a reduzir o gap que os separa das nações mais desenvolvidas em termos econômicos e tecnológicos. A China, com renda per capita comparável à de outros países em desenvolvimento se destaca por ser a única nação a ter uma presença global em atividade econômica de alta tecnologia e P&D comparável à de países desenvolvidos.

Enquanto isso, Brasil, Amazonas e a Zona Franca de Manaus pouco avançam, quadro que,entretanto, pode ser revertido. De fato, recursos da ordem de R$ 1,86 bilhão aportados de 2012 a maio de 2017 pelas empresas incentivadas do Polo Industrial de Manaus (PIM) sustentam 100% as atividades da Universidade do Estado do Amazonas (Uea). O FTI, constituído de repasses originários das empresas incentivadas, nesse período aproximaram-se de R$ 4,0 bilhões. Adicionados a cerca de R$ 1,0 bilhão/ano da Lei de Informática, conclui-se que os problemas da ZFM, como modelo de desenvolvimento, passam longe da carência de recursos. Mais de R$ 10 bilhões (cerca de 3,0 bilhões de dólares) mobilizados nos últimos cinco anos com resultados apenas discretos. O suficiente, contudo, para promover uma verdadeira revolução na modernização tecnológica de nosso sistema de ensino-pesquisa-extensão e a incorporação dos setores da biodiversidade no conjunto da matriz econômica do Amazonas. Condição sine qua non à demarragem do processo de crescimento.