Parintins

Por Marcelo Ramos

Meu pai nasceu no Paraná do Aduacá, entre Parintins e Nhamundá. De família muito humilde, foram 12 filhos e uma história de vida construída com muito trabalho. Escrevo esse artigo aqui em Parintins sentado a mesa com 3 desses filhos. Tia Francisca, Tia Adélia e Tio Manuel.

As histórias contadas nessa mesa resgatam minhas origens. Da minha vó Mariinha costurado o joelho do meu pai (Umberto) ou a língua da minha tia Teodósia com agulha banhada no álcool e linha de costura ou do “flutuante” que ficava na terra firme em frente à Igreja do Sagrado Coração de Jesus, onde meu avô abrigou sua família quando chegou à sede da cidade de Parintins.

Ouço tio Manuel relatar a história de que ele e meu pai carregavam 100 bolas de barro por dia para a olaria dos padres, trabalho com o qual meu pai tirou dinheiro para comprar sua dentadura e a passagem para ir estudar em Manaus.

Assim foi construída a saga da minha família em Parintins e aqui estou tentando resgatar os laços que construí com esse povo.

Ontem, na procissão de Nossa Senhora do Carmo, padroeira da cidade, assisti a manifestação de fé de mais de 20 mil pessoas, crianças vestidas de anjos, casas enfeitadas em homenagem a santa, cantos, rezas, fogos, expressam a força da religiosidade do povo parintinense.

Cada vez que piso no solo da ilha sinto a presença do meu pai que há tanto tempo se foi. Sinto sua presença no reconhecimento de seus antigos amigos, no papo com meus tios, no caminhar nas imediações do Colégio do Carmo, onde soltei papagaio, joguei bola de gude, ou no passeio no arraial de Nossa Senhora do Carmo.

Parintins deu a mim os maiores bens que um homem pode receber, o meu sangue, a minha história, as minhas raízes, os valores que trago em meu coração e na minha alma, espero ser capaz de, com a minha vida pública, retribuir a essa cidade e ao seu povo, tanta graça que deles recebi.

Salve Nossa Senhora do Carmo! Salve Parintins!