Novas matrizes, paradigmas e atitudes

Por Alfredo MR Lopes (*):
Antes tarde do que nunca o governo estadual se rende às obviedades e imperativos da criação das Novas Matrizes Econômicas, negócios coerentes com a vocação regional de geração de riqueza. O olhar estrangeiro arregalou sua cobiça ao desembarcar no Novo Mundo diante da biodiversidade e da geodiversidade que brotam da floresta. Foi sempre assim, desde a procura frenética pelas “ervas do sertão” que fizeram da Amazônia o Eldorado Verde. A borracha, a castanha, as resinas, óleos essenciais e fibras vegetais – com destaque para o fator humano mais produtivo do planeta – a riqueza da Hileia é essencialmente florestal e a evolução biomolecular guarda o segredo da perenidade vital. A guinada estratégica se deve não à queda de arrecadação estadual desde agosto mas sobretudo à percepção da indiferença federal com o modelo ZFM. Acaso ou necessidade de movimentação? Os gestores da agonia recessiva gostariam de incluir ZFM no desesperado ajuste fiscal. Apesar do otimismo avestruz de alguns atores que se contrapõe ao derrotismo crônico dos céticos, a ordem da tribo é ocupar os primeiros lugares, nos próximos três a quatro anos, na aquicultura nacional. Um bom começo é sempre fator de contaminação positiva. Hoje, a arrecadação gerada pela criação de peixe em cativeiro é semelhante à do açaí, onde é incipiente a industrialização. Não chega a R$ 100 milhões.
O Amazonas, apesar de ser o primeiro do ranking em consumo de peixe, é apenas o 12º produtor, de acordo com o IBGE. A dificuldade logística, o preço da ração e a grande oferta de peixes  na natureza  são nossas desculpas, confirmadas nos dados oficiais.  A maior delas tem sido a dependência e acomodação do modelo ZFM, há 14 meses em queda nos indicadores de produção industrial. Daí a pressa. No tambaqui, espécie mais produzida no Estado, o Amazonas figura em quarto lugar.  Somos o maior produtor extrativo de tucunaré, tambaqui, pirapitinga, surubim, tucunaré, pescada, jaraqui, pacu e piau, com desperdício na safra de 6 a 8 ton/ano, sinal do descaso crônico com o setor, contra 15 mil produzidas, 3,8% da produção nacional, o que rendeu R$ 98,8 milhões  ao Estado, em 2013, 4,9% do valor total nacional. O pesquisador Efrem Ferreira, autoridade no assunto, insiste na tecla do ordenamento da pesca artesanal, para combater o desperdício e distribuir benefício à população de baixa renda.  No Estado, 53 municípios fazem aquicultura sem maiores aportes de inovação. Na Região Norte, o Amazonas aparece em terceiro lugar, atrás de Roraima, com 16,1 mil t e Rondônia com 25,1 mil t. Não há registro significativo da criação de pirarucu nem tucunaré em cativeiro. Este é o cenário recente.
Apostar em inovação, revisão fiscal e fomento são alguns dos instrumentos imediatos para as respostas rápidas de que a economia precisa. Identificar gargalos significa mobilizar a academia, os órgãos de extensão rural e os de fomento, além de empreendedores pioneiros que fizeram da ousadia o insumo de sua obstinação. O debate – que pretende juntar academia e economia – implica em entender a métrica real e a ideal, planejada nos laboratórios de pesquisas e de ideias, aquelas que deram certo e as outras que padecem de lapidação, para definir aonde podemos chegar para fazer da deliciosa economia pesqueira, testada e temperada com o irresistível murupi da inovação, o pirão delicioso da mudança, de paradigmas e atitudes, na direção de uma nova utopia, um convite para desencadear a transformação.
(*) Alfredo é filósofo e ensaísta.