Minha primeira São Silvestre

Por Marcelo Ramos:

A São Silvestre é uma corrida cheia de imagens. Não é uma prova pra correr. É uma prova pra sentir e ver.Longe dos quenianos, tanzanianos, etíopes e brasileiros do pelotão de elite, um casal de paraibanos vestidos de sertanejos com um cartaz pedindo água pra Paraíba, uma mulher maravilha, um incrível Hulk, um mosquito da dengue, uma pai empurrando o carrinho de bebê com o filho dentro, muitos corintianos ainda embalados pela conquista do Mundial Interclubes, uma camisa falando “Corro da Corrupção, da Violência…”. Mas nenhuma imagem é mais marcante do que essa:
A camisa que ele veste está escrito: Campeonato Brasileiro de Futebol para Amputados. Se já me emocionei ao vê-lo na prova, a emoção foi maior quando lembrei que em 2006 representei o Ministério do Esporte no Campeonato que ocorreu em Maringá. Há época escrevi um texto que se perdeu com um velho computador.
Lembrei daquele texto. Das emoções que experimentei lá em 2006. Quando fui destacado para ao Campeonato Brasileiro de Futebol para Amputados, imaginei lá chegar e encontrar amputados de mãos ou até braço, mas encontrei amputados de perna jogando futebol de muletas numa competição cheia de talento, alegria e que teve como campeã a seleção do Pará que viajara de Belém-PA a Maringá-PR em duas kombis.
É inacreditável pensar que um amputado de uma perna possa completar os 15km da prova com suas descidas e subidas. Na verdade, não o vi completar, mas duvido que alguém comece um desafio como esse para desistir no meio do caminho. Para um homem como esse, a palavra DESISTIR não existe. Só existe PERSISTIR, PERSEVERAR, ACREDITAR.
A vida é um conjunto de coisas e não deixa de ser vida quando perdemos uma dessas coisas. Seja uma pessoa amada, um bem, um trabalho ou mesmo uma perna. Quando perdemos alguma coisa, física ou emocionalmente muito importante pra nós, podemos desacreditar e desistir da vida ou aprender a dar muito mais valor às tantas coisas que sobraram.
Alguns afogam suas mágoas na bebida, nas drogas. Outros reencontram sentido pra vida na religião, nas letras, na caridade ou na atividade física.
A lição é decidir viver! Quantas pessoas passam na vida sem fazer nada que dê sentido a sua existência. Muitas vezes, gente assim acumula fortuna e quando chega ao final, olha pra trás e não consegue ver sequer o caminho que as levou ao destino de solidão e infelicidade.
Esse corredor anônimo, antes de decidir correr, ele decidiu viver, ser feliz. Ninguém que desistiu da vida ou da felicidade dispõe-se a, com uma perna amputada, fazer uma prova de 15km.
São muitas as imagens da minha primeira São Silvestre. Mas fico com essa. A imagem da superação e do amor pela vida, traduzida na foto que acompanha esse texto e na poesia de Cora Coralina:
“Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.”
Termino esse texto, que chega com um pouco de atraso, aproveitando mais uma vez Cora Coralina para desejar um FELIZ 2013!
“Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: Leve tudo que for desnecessário. Ando cansada de bagagens pesadas… Daqui para frente levo apenas o que couber no bolso e no coração. “