Manaus – a Eubéia Amazônica precisa ser reinventada

Por Sandro Breval:

Certamente os gestores públicos que alcançam um cargo eletivo, principalmente do Poder Executivo, buscam orientar sua administração para o atendimento das demandas sociais. De um lado temos a sociedade demandando a presença do Governo e seus serviços, e de outro os atores públicos procuram atendê-las. Tal ciclo é chamado de “Ciclo Causal”, e considero um ciclo por que tem um funcionamento dinâmico e auto-ajustável ao longo do tempo.

O problema surge quando o ciclo causal, acima descrito, sofre em sua fisiologia, um processo de mal funcionamento, de retrabalho e sobretudo do não atendimento às causas. Portanto, podemos dizer, essa transformação em ciclotimia ocorre quando as estruturas sociais já não suportam ou quando os atores sociais (inclusive os públicos) não conseguem reagir ao processo de entropia (perda de energia e curva descendente).

Nosso ordenamento legal, garante e consagra a continuidade administrativa, e à sua esteira vem a governança por meio de controle, transparência e o equilíbrio econômico-financeiro, este último escudado na Lei de Responsabilidade Fiscal.

No Século IV a.C. , as cidades gregas foram perturbadas por inúmeras crises: sociais, guerras, diferenças, abismo comercial, escravos, enfim inúmeras características de difícil gestão e equilíbrio humano. Urgia uma nova ordem , uma nova esteira de medidas sociais e políticas. Muda-se o contexto mas a gênese é a mesma.

Ressalto que, de forma geral, o ato de administrar é buscar o equilíbrio das relações sociais, visando a criação de uma nova ordem, por meio de uma mudança organizacional profunda. Talvez esteja aí a grande dificuldade dos gestores, e suas lhanezas, o entendimento da necessidade de mudar. Mudar na visão de adaptar-se (Darwin e Spencer), mudar pelo maquiavelismo da Virtú e da Fortuna, mas sobretudo mudar pela “boa lei” – Bona est lex, si quis ea legitime utatur.

A gestão de estrutura sociais complexas, repercutem a necessidade de visão sistêmica na qual propicia um diagnóstico preciso, e obviamente uma ação mais focada , principalmente na questão das demandas, mas não pode ser morno – (alusão ao texto de Apocalipse 3:15), precisa ter posição, altivez e respeito a alteridade.

Tomando posse, o executivo municipal, por sua vez carrega consigo aspectos ontológicos únicos e coletivos, morando na vontade de mudar e no difícil reordenamento gerencial, por que sucumbe a rotina pequena, às causas pequenas. Não faço aqui uma homenagem ao utilitarismo de Jeremy Bentham, tampouco à sua dicotomia com John Rawls, mas conclamo que eles precisam vestir-se com o véu da ignorância, para que perfaçam um novo contrato social.

Se pudéssemos elencar os principais desafios, certamente estariam inclusos nestas quatro dimensões: um corte profundo na atitude estoicista, alavancagem gerencial, determinismo prioritário e sustentabilidade.

Primeiro, a mudança de atitude traz à baila uma nova rotina e uma nova reflexão sobre as demandas, emanando medidas petardas contra a curva inflexiva da administração. Segundo, mudar o perfil do capital humano, em todos os níveis gerenciais, com introdução de técnicas e ferramentas avançadas de gestão. Gritando Ruy Barbosa: “Mas o que lhe importa, é dê começo a governar-se a si mesmo”.

O determinismo prioritário alcança a aplicação de recursos com ênfase nas funções do planejamento, com base no diagnóstico específico, sem engrupir etapas e qualificando as ações governamentais.

E transversalmente, a dimensão da sustentabilidade como desenvolvimento eco-ambiental, no momento que altera a lógica de relação com os espaços, como também pela janela sócio-econômica advinda de medidas firmes nas contas públicas. O corte transversal, desta dimensão, dar-se pela concretude do suporte orgânico da municipalidade na sua anatomia.

Tais dimensões darão capilaridade aos programas governamentais, que por certo, traduziriam melhor as políticas públicas, como brisa pairante da gestão e de suas atividades. Para o entendimento e cumprimento de tais dimensões que cuida de um governo, ou uma boa gestão, vis-a-vis alguns vetores são lançados, os quais podemos citar o comportamento ético. Ética no sentido da morada do homem, no sentido reflexivo que ajuda a construir atitudes morais mais adequadas.

Trago aqui as ideias de David Osborne, em seu livro Reinventando o Governo, onde sugere uma grande reforma na máquina administrativa governamental. Vale ressaltar que Osborne foi um importante Assessor de Al Gore, quando do Governo de Bill Clinton nos EUA, e participou ativamente da reforma administrativa americana. Sua abordagem de reforma contempla: redução da papelada por meios eletrônicos, priorizar as necessidades e exigências dos cidadãos, atribuir maior poder aos funcionários da ponta e otimizar a ação governamental. A força-motriz de seu livro é transformar as burocracias públicas em governos empreendedores, quebrando o ceticismo do cidadão, o que podemos referenciar com a Nova Administração Pública de Bresser Pereira quando trouxe o instrumental privado para a gestão pública.

O gestor precisa “Voar fora das Asas” como diria Manoel de Barros, olhar diferente, catalisar e inserir na sua peça teatral todos os atores, de modo que desperte o aplauso preso pelos grilhões da passividade e da idiossincrasia.

No próximo ano as cenas iniciarão – novos prefeitos – com roteiro pré-estabelecido como se fosse o teatro grego, mas sem máscara.