JORNAL DA TARDE: Depois de quase 47 anos de história deixa de circular

De OGLOBO.COM:

SÃO PAULO – Perto de completar 47 anos, o “Jornal da Tarde” vai circular pela última vez nesta quarta-feira. A decisão de encerrar a publicação do diário foi anunciada ontem pelo Grupo Estado, que também edita o jornal “O Estado de S. Paulo”. De acordo com Francisco Mesquita Neto, diretor presidente do Grupo Estado, a medida teve por objetivo o “aprimoramento do foco empresarial da companhia”.

“A determinação leva em conta o objetivo de investir no Estadão com uma estratégia de multiplataforma integrada (papel, digital, áudio e vídeo e mobile), para levar maior volume de conteúdo a mais leitores, sem barreira de distância e custos de distribuição”, escreveu Mesquita Neto, em nota divulgada no início da tarde de ontem.

O “Jornal do Carro”, suplemento de automóveis que fez do “JT” um campeão de vendas às quartas-feiras nas bancas de São Paulo, será incorporado ao “Estadão”. Essa medida, segundo ele, “ajudará a ampliar a estratégia de marcas que compõe o universo” do jornal.

“Quero agradecer pela confiança e apoio de todos que participaram dessa história: jornalistas, colunistas, publicitários, equipe de arte, integrantes das áreas comercial e administrativa, e das áreas de produção e administração”, despede-se Mesquita Neto no comunicado.

Capas memoráveis na história da imprensa

O “JT”, como é conhecido por leitores e jornalistas, começou a circular em 4 de janeiro de 1966 com um projeto gráfico inovador para os padrões da época, explorando muito fotografias, ilustrações e charges em sua composição, além de ter uma linha editorial que valorizava grandes reportagens e a prestação de serviços. Na época, era dirigido pelos jornalistas Mino Carta, hoje publisher da revista “Carta Capital”, e Murilo Felisberto (morto em 2007).

O jornal produziu capas memoráveis sobre momentos marcantes da História recente do país. Como a capa toda em preto, apenas com o título do jornal no alto, quando o Congresso barrou a Emenda Constitucional do deputado Dante de Oliveira que restituía as eleições diretas no Brasil. Ou a que estampava de alto a baixo a foto de um pequeno torcedor chorando a derrota da Seleção Brasileira por 3 a 2 para a Itália na Copa de 1982, na Espanha. A imagem tresloucada de Jânio Quadros, prefeito recém eleito de São Paulo, em 1985, também foi um clássico das capas.

No seu auge, no início dos anos 1990, o “JT” chegou a ter circulação média diária de 190 mil exemplares, e além da região metropolitana de São Paulo, era distribuído no interior e em outros estados. Ao longo da década passada, contudo, sua circulação média girou em torno de 55.000 exemplares declinando nos últimos anos. Nos primeiros nove meses deste ano, a circulação média caiu a 37.778 exemplares diários, segundo informações do Instituto Verificador de Circulação (IVC).

A perda de circulação levou a empresa a suspender a circulação do “JT” no interior e em outros estados, restringindo suas tiragens à região metropolitana da capital paulista. A esse movimento seguiu-se o encolhimento do quadro de pessoal do diário. Dos 110 profissionais que formavam a redação do “JT” em 2010, restaram 40, que hoje terão a incumbência de confeccionar a última edição do jornal.

Ainda em julho, depois de anunciar novos cortes de postos na redação do jornal, o Grupo Estado informou que trabalhava para o lançamento de um novo projeto gráfico para elevar sua circulação. A ideia não prosperou.

— Tentamos de todos os modos revitalizar o “Jornal da Tarde” antes de tomar a decisão empresarial de encerrar as atividades. Optamos por seguir aprimorando nosso foco estratégico na marca “Estadão” — disse Mesquita Neto, por email, ao GLOBO.

Em reunião que contou com a participação de funcionários, de dirigentes do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e representantes do jornal, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT-SP) vetou a demissão dos 40 trabalhadores do “JT” até o dia 4 de dezembro para que, até lá, se busque um acordo para evitar ao máximo a dispensa de pessoal. Uma nova audiência será realizada no TRT no início de dezembro.

— Faremos todos os esforços para manter o maior número de profissionais possível. Como estamos em negociação com o sindicato, teremos um posicionamento oficial somente após as definições — acrescentou Mesquita Neto.

Ainda ontem, a revista “Istoé Gente”, da Editora Três, anunciou que passará a circular mensalmente a partir de dezembro, após 13 anos com edições semanais. O redesenho está sendo elaborado pelo novo publisher da revista, Paulo Borges, idealizador da São Paulo Fashion Week. De acordo com Gisele Vitória, diretora de núcleo da revista, a publicação vai ganhar em qualidade de papel e em número de páginas.

Comentário meu: Vi nascer o Jornal da Tarde. No final de 65 fui estudar em São Paulo e o então novo jornal foi lançado bem no começo de 66. Era vespertino e trouxe um projeto gráfico diferente com destaque para a foto de capa. Lamento que agora esteja vendo “morrer”  o jornal, talvez vítima dos novos tempos em que a comunicação impressa vai perdendo campo para a mídia via Internet.