Fucapi, a vítima da vez

Por Osíris Silva

Até 1981 o suporte técnico à Suframa era proporcionado pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA), situado em São José dos Campos, e pelo Grupo Executivo Interministerial de Componentes e Materiais (GEICOM), com sede na cidade do Rio de Janeiro. Isto ocasionava sérios problemas operacionais que impediam imprimir maior celeridade ao processo de crescimento da Zona Franca de Manaus (ZFM), principalmente porque, algumas vezes, os interesses daquelas instituições conflitavam com os locais. Além, evidentemente, dos altos custos financeiros e de logística decorrentes do fator locacional, que exigiam permanente deslocamento de engenheiros e técnicos entre Manaus e os dois centros.

Para dotar a região de uma instituição técnica capaz de realizar esse suporte, é que no início de 1982, por ocasião das comemorações dos 15 anos da Suframa, o então Superintendente Rui Alberto Costa Lins, com apoio da Fundação Universidade do Amazonas, da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, do Centro da Indústria do Estado do Amazonas e do GEICOM criou a FUCAPI- Fundação Centro de Análise da Produção Industrial, que passou a funcionar em uma sala da própria Suframa sob a direção do jovem engenheiro Manuel Rodrigues, cedido pelo CTA.

Em 1984, na gestão do superintendente da Suframa, Cel. Joaquim Igrejas Lopes, a FUCAPI ganhou sede própria no Distrito Industrial, onde funciona até hoje. Dotada de amplas instalações e de modernos laboratórios a Fundação passou a fazer a análise de projetos técnicos e de viabilidade econômica apresentados à Suframa e o acompanhamento da produção industrial, incluindo os “breakdown”. A operação consistia em “explodir”, dividir em suas artes, um produto “made” in ZFM tendo em vista a análise de cada componente, a indicação da origem, a determinação do índice de nacionalização e as melhorias que eventualmente pudessem ser aplicadas ao bem.

Foi com base nos índices de nacionalização que o governo do Amazonas e a Suframa puderam implantar, com sucesso, o Programa de Regionalização, tão necessário à época face às limitações impostas pelas temidas cotas de importação. Nessa época já trabalhavam na Fucapi, além de Manuel Rodrigues, engenheiros de alto nível como Aluizio Barbosa (depois seu Presidente por quase 10 anos), Guajarino Araújo, Roberto Lavor, Niomar e Nilmar Pimenta, Evandro Vieiralves, Fabiano Souza (que chefiava o Centro de Energia Solar), José Renato Alves e José Milton Bandeira.

Em 1987 foi levada a cabo o plano de reestruturação da Fucapi, quando a instituição passou a atuar nas áreas de educação, ciência e tecnologia, capacitando mão-de-obra especializada para as indústrias do PIM por meio de convênios com algumas universidades brasileiras, como a UFSC, UFMG e UFRJ. Eram então oferecidos cursos de pós-graduação em diversas áreas de interesse, tais como: instalação de novos laboratórios para pesquisas e testes de produtos fabricados em Manaus, incluindo um moderníssimo laboratório para teste de brinquedos, o único no Brasil fora do Estado de São Paulo.

Idealizou-se o DIALTEC- Distrito de Alta Tecnologia, destinado a incentivar indústrias emergentes de base tecnológica, em apoio às pequenas empresas em suas próprias instalações, já que a instalação definitiva do DIALTEC não foi possível por falta de recursos financeiros. Criou-se o Prêmio Fucapi de Tecnologia, atraindo o interesse de dezenas de pesquisadores amazonenses que tinham suas criações premiadas pelo Programa, o que passou a despertar o interesse de empresas de São Paulo que ofertavam prêmios extras. O Prêmio Fucapi de Tecnologia conquistou atenções do CNPq, que propôs que o Premio se tornasse Prêmio FUCAPI/CNPq de Tecnologia, e assim foi suas últimas versões até ser extinto.

É absolutamente inverossímil que uma instituição com um passado de tantas realizações e conquistas encontre-se hoje envolta em dívidas superiores a R$ 100 milhões, ameaçada de falência ou extinção pelo Ministério Público do Amazonas.