Freud, Francisco e a angústia

Por Alfredo Lopes:

Padece de coerência  a angústia supostamente cívica do ex-governador Amazonino Armando Mendes, neste momento em que se inicia a temporada eleitora. A catarse  foi declarada  em recente entrevista a um blog local.  Uma angústia que aponta responsáveis, e desrespeita o cidadão comum – como sempre o fez, aliás – e a quem sempre tentou cooptar com ranchos e cartões “Direito a Vida”, em troca de sufrágios de legitimação eleitoral.  “O povo é um desatento, é um desinformado, está à margem do conhecimento, o povo vive nas nuvens, fora da realidade… o povo não tem nenhuma informação”. As nuvens da informação e da nova consciência, excelência, começam a irromper das cinzas desta desastrosa conduta política que quase implode o país. Para quem governou o Amazonas em três oportunidades, essa afirmação é um veredito insofismável de autocondenação, a reafirmação de sua inépcia e descaso. Felizmente o povo, ao contrário desta deselegância, se dá conta do blefe, que sempre o tratou como o “admirável gado novo”, de que fala Zé Ramalho.

Jogar pedra no povo, na Assembleia, na Justiça, na ZFM, depois de ter governado o Estado e a capital, por três vezes, com passagem pelo Senado Federal, é reconhecer que a angústia decorre da omissão. Aliás o ex-governador reconhece isso. “A Zona Franca de Manaus nos deixou numa dependência absoluta e total porque nós fomos incompetentes, incapazes de, ao recebê-la, darmos a nossa contribuição para que ela se adaptasse e se aprimorasse à nossa realidade, às nossas condições”. Entre se dar bem e construir nova paisagem socioeconômica com a riqueza produzida, sabemos qual foi a escolha. Com ele, seu estilo “L’Etat c’est moi”, um despotismo, sucedâneo do oportunismo,  que fez escola, criou-se um espírito franciscano de fazer política, não no sentido do amor à natureza. Ninguém cuida do meio ambiente com motoserras. A política do “é dando que se recebe”, que enxerga o erário como extensão do interesse particular… E deu no que deu. A jato.  Angustiante é bater todos os recordes de arrecadação e deixar o Estado com 11 municípios entre os 50 piores IDHs do país.

“… o Distrito não dá a menor importância para a sociedade amazonense, ele não vende pra cá, não depende da nossa opinião, nada. Então, é um gueto de produção econômica absolutamente isolado da nossa sociedade”. A afirmação é infeliz e mais parece um “confiteor” agostiniano de quem se vê como ator da tragédia. Quem se isola não gera 600 mil empregos aqui e 2 milhões no Brasil em sua cadeia produtiva e de distribuição, nem financia integralmente a UEA, Universidade do Estado do Amazonas, uma ideia da qual se apropriou como convém a classe política. Cansadas do achaque, as empresas optaram por um legado precioso de qualificação das pessoas. Sob a batuta de Vicente Nogueira, o projeto poderia nascer ambicioso, na ótica do cidadão, dos bionegócios e Interiorização  de oportunidades. Infelizmente, falou alto o nepotismo, a gestão na ótica do interesse familiar, que custou anos reparar.  O Estado recebe, anualmente, R$1,4 bilhão/ano entre a manutenção integral da UEA, do CETAM, Centro de Educação Tecnológica, dos fundos de turismo, interiorização  do desenvolvimento e das cadeias produtivas rurais. Some-se a isso, outro bilhão/ano para as taxas da Suframa e verbas de P&D, além de R$ 600 milhões municipais. Um acerto republicano. Ninguém sabe direito para onde vai tanto dinheiro. Hoje, ao menos as 70 mil operações de crédito da Afeam, Agência de Fomento, que restou da venda sombria do BEA, Banco do Estado do Amazonas,  com o Banco do Povo, geram oportunidades e renda no interior graças a indústria que a angústia amaldiçoa. Essa angústia, porém, é capaz de discernimento, talvez em relação a classe política que o ex-governador ajudou a formar: .”Então eu vivo num poço de angústia, vendo os erros, esses absurdos, esses abusos, esse truncamento permanente da verdade. Eu vejo determinados políticos se darem bem quando eles deveriam ser banidos…” Tudo o que João fala de José nos ajuda a entender a visão de mundo de João, diz o angustiado e assustado Sigmund Freud, no divã de Amazonino Armando Mendes…