Estadistas globais

Por Cristóvam Buarque

Com o fim da guerra fria, os presidentes já não são defensores de idéias e posições estratégicas na geopolítica internacional. A globalização apequenou os dirigentes nacionais em agendas locais, sobretudo comerciais. A globalização ainda não produziu os estadistas globais que o Mundo precisa. O estadista global precisa perceber a necessidade de ir além do comércio, deixar de ver as fronteiras de seus países como um problema alfandegário e migratório e entender seu papel na arquitetura do futuro mundial.

O Presidente Barak Obama e a Presidenta Dilma Rousseff estão entre os poucos com condições de olhar para o mundo como estadistas globais, e não apenas como líderes de seus países. Ambos têm biografia comprometida com valores e princípios, com bandeiras de luta. Têm idéias e sentimentos dos problemas mundiais. Além disto, como negro e como mulher, cada um deles tem uma gênese biopolítica diferente dos seus antecessores. O que lhes permite sentimentos e posições novas em relação ao futuro.

Por estas razões, a visita do presidente Obama ao Brasil e seu diálogo com a Presidenta Dilma nos permite esperar um fato histórico e não apenas mais um simpático gesto diplomático. De início já se percebe a grandeza de ambos ao lembrarmos que é a primeira vez que um presidente norte-americano vem ao Brasil, antes do colega brasileiro ir aos EUA.

Mas para ter uma marca histórica, será necessário que os dois presidentes transformem o Encontro em uma Reunião de Cúpula de dois estadistas globais, definindo agenda comum para os problemas do mundo.

A proliferação de armas de destruição em massa e o terrorismo devem estar entre as principais preocupações desta agenda; aspectos comerciais não podem ser esquecidos, mas os problemas mundiais vão além. Os dois presidentes precisam colocar na agenda pelo menos três outros temas: a luta contra a pobreza, lembrando a fala da presidenta Dilma de que “mundo rico é mundo sem pobreza”; a subordinação da economia ao equilíbrio ecológico; e a defesa dos direitos humanos.

Roosevelt e Truman, já no espírito do estadismo da guerra fria, lançaram o Plano Marshall pela reconstrução da Europa; Kennedy, ainda no espírito da guerra fria, lançou o Alimentos para Paz e diversos programas de apoio ao desenvolvimento econÃ?mico de cada país subdesenvolvido. Obama e Dilma devem ir muito além, adaptando-se às exigências do mundo global no século XXI. Não mais unilateralmente vindo dos EUA e não mais apenas de desenvolvimento econÃ?mico de cada país.

Devem juntos lançar as idéias de um Plano Social Global de luta contra a pobreza, sobretudo por sua superação pela educação, com a adoção mundial de programas como o Bolsa Escola e o apoio à escolaridade com qualidade para todas as crianças do mundo. E apresentar linhas de uma Carta a ser submetida aos Chefes de Estado e de Governo na Reunião “Rio + 20” em 2012. Dilma e Obama têm manifestado preocupações ambientais, especialmente em busca de fontes alternativas de energia e poderiam levar em conjunto este discurso para o mundo. Assinar uma aliança atualizando o conceito da autodeterminação dos povos para levar em conta o Mundo como um Condomínio de países com responsabilidades mútuas: com os direitos humanos; contra o terrorismo; impedindo a proliferação de armas de destruição em massa; e permitindo o uso do avanço técnico a serviço de toda a humanidade.

Dilma e Obama representam países fortes e têm qualidades pessoais para transformar um encontro de dois presidentes em uma reunião de cúpula de dois estadistas globais. O Brasil, os EUA e o mundo, nós de hoje e as gerações futuras esperamos que eles aproveitassem a oportunidade que a História, a biografia e o mérito de cada um que estão a nos oferecer.

Cristovam Buarque é Professor da Universidade de Brasília e Senador pelo PDT/DF

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