É preciso reinventar a forma de fazer política, escreve Paulo Hartung

Fonte: Poder 360

A convite do Insper e do Renova BR, ministro nesta 2ª feira (28.jan.2019) aula a legisladores federais em primeiro mandato no Câmara dos Deputados e no Senado da República. A reflexão que levo é: precisamos reinventar o fazer político.

Segundo Manuel Castells, no livro “Ruptura – A crise da democracia liberal”, “na raiz da crise de legitimidade política está a crise financeira, transformada em crise econômica e do emprego, que explodiu nos Estados Unidos e na Europa no outono de 2008”.

Como diz o próprio pensador, essa crise política é global, mas ela também tem suas colorações nacionais. A brasileira, por exemplo, se agravou assustadoramente por uma série de equívocos na gestão de políticas econômicas, em ambiente atravessado por práticas de corrupção endêmicas.

Esse conjunto explosivo nos jogou no fosso da mais grave recessão econômica de nossa história, justamente interrompendo um também histórico processo de diminuição das desigualdades entre nós, iniciado com a estabilidade da moeda. Esse desencontro tão marcante na vida nacional só fez ampliar o descrédito da política.

Formular um mandato para este tempo requer engenho e arte, pois demanda lidar com a estrutura do ultrapassado e ao mesmo tempo construir o novo que não se sabe o que será. De toda sorte, há questões bastante evidentes e impositivas sobre as quais pensar.

Uma delas é que a nova política precisa ser feita em 2 ambientes diversos, ainda que absolutamente interligados: o presencial e o midiático/virtual. Nas palavras de Castells: “Na prática, só existe a política que se manifesta no mundo midiático multimodal que se configurou nas últimas décadas”.

Em “Crise e reinvenção da política no Brasil”, Fernando Henrique Cardoso diz: “O desafio está justamente em encontrar –ou inventar– as formas mais propícias à reconexão entre ‘o mundo da vida e da sociedade’ e o ‘mundo das instituições e do Estado’”.

Mas, nesse mundo de transições turbulentas, é preciso ter claro que não se pode desprezar a importância das institucionalidades e dos valores civilizatórios. A democracia não é um instrumento, mas um valor a sustentar e orientar o imprescindível fazer político. A dignidade humana não pode jamais ser relativizada. O primado da razão e das ciências não pode ser abandonado em função de dogmas e carismas.

Diante da “ruptura da relação institucional entre governantes e governados”, Castells alerta sobre algo gravíssimo, avisa que a democracia liberal está deixando de existir “no único lugar em pode perdurar: a mente dos cidadãos”.

Isso equivale a dizer que o nosso investimento no revigoramento da política e no reencontro do fazer político com a sociedade passa, sim, pela reconstrução dos laços de interação e diálogo com os cidadãos e pela atualização das instituições, mas depende fundamentalmente também do nosso investimento na educação para a vida política e seus valores civilizatórios fundamentais como base da paz, da prosperidade, da emancipação cidadã e do desenvolvimento humano para todos.

Não há receita para que sigamos nesse caminho. Mas não há outro rumo a se tomar se quisermos fazer ecoar novamente, aqui e mundo afora, a legitimidade da ação política, se quisermos promover o reencontro dos cidadãos com a vida político-institucional –uma das mais preciosas conquistas e ao mesmo tempo garantias da Humanidade.