Coronavírus, a universidade e a pesquisa

Coronavírus, a universidade e a pesquisa

Estudo recém publicado pelos doutores em Educação, professores Adriana Sales de Melo e Remi Castioni, da Universidade de Brasília, considera que, no Brasil, as universidades foram sendo criadas no intenso movimento em torno da modernidade integrado ao esforço de desenvolvimento que tomou curso na segunda metade do século 20. Convém refletir permanentemente acerca dos efetivos resultados alcançados, e, de outra perspectiva, sobre o padrão tecnológico que a instituição pretende alcançar, nos valores e missões presentes e a respeito de que modelo “queremos construir como parte integrante de novos projetos de sociedade, educação, arte, cultura, ciência, tecnologia, inovação e tantos outros campos de conhecimento, de trabalho e de vida”.

O trabalho da UnB induz a que o foco daquele momento buscou dar resposta “à sociedade, auxiliando no esclarecimento, na crítica e na elaboração de respostas e ações para as questões sociais”. Afinal, “para formar novas gerações de professores, pesquisadores, extensionistas e profissionais de todas as áreas de conhecimento, a universidade precisa fazer exercício constante de autoavaliação”. Afim de ser reconhecida e respeitada mundialmente, por outro lado, faz-se necessário renovar-se quotidianamente, condição sine qua non para se tornar apta a responder aos mais exigentes desafios. Na medicina, em particular, para enfrentar males conhecidos ou desconhecidos, a exemplo do covid-19.

Efetivamente, a pandemia, que vem provocando perdas de vidas preciosas e enormes prejuízos econômicos e sociais em todo o mundo desde dezembro de 2019, revelou que nem a universidade, os centros de pesquisa, a própria estrutura de governo, ao menos no início, estavam preparadas adequadamente ao enfrentamento da doença. Para grande parte do sistema educacional, incluindo as instituições do ensino básico e superior no Brasil, o planejamento das atividades escolares e acadêmicas para 2020 manteve-se inalterada como se estivéssemos fora do mundo real, afirma o estudo da UnB.

Sem definição concreta da epidemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e, como se encontrava ainda restrita à China, a hipótese era de que não houvesse razões objetivas para despender tempo com uma doença que, supostamente, talvez não chegasse aqui tão cedo. Até porque não se tinha, como ainda não se tem informações científicas precisas  sobre sua origem. Na verdade, a doença chegou e foi logo causando danos sem precedentes à população e à rede de saúde pública. Cabe, então, questionar: o que governos e prefeituras fizeram com os trilhões de reais destinados à construção e equipamento de hospitais, postos de saúde e pronto-socorros nos últimos 20 anos? A pandemia, além de matar, escancarou de vez a pobreza da infraestrutura hospitalar brasileira.

A universidade precisa integrar-se de vez à pesquisa, aos institutos que lideram investigações científicas, a produção de vacinas, antídotos e outras drogas no país. Numa visão pan-amazônica, ao lado do INPA, do Instituto de Medicina Tropical do Amazonas e de outros centros de pesquisa, liderar cluster de conhecimento local. Juntando-se a parceiros da Amazônia sul-americana, otimizar respostas de pesquisas a partir de trabalhos cooperados e relativamente consolidados no combate à malária, leishmaniose e outras enfermidades típicas dos trópicos úmidos..

A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que reúne Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela poderia assumir a governança do processo ao lado do INPA, CBA e do Comando Militar da Amazônia, que detém vastos conhecimentos de logística operacional consolidados na região. A hora, afirmam os professores da UnB é de agir, de inovar, de permitir-se novos rumos calcados em experiências consideradas exitosas pelos especialistas de todas as áreas. Não cabe mais amadorismo. O preço pago pela sociedade brasileira, com viés de alta, tem sido  pesado demais.