Chamamento aos militantes

“Não vamos desistir do Brasil”

Eduardo Campos

(*) Roberto Amaral

Há um tempo para tudo. Há a hora de arar, a hora de semear, a hora de regar e, finalmente, a hora da colheita. Esta nos foi negada pelo destino. No último 13 de agosto, exatos nove anos passados do sepultamento de Miguel Arraes, voltamos ao cemitério de Santo Amaro, para, numa Recife envolta em lágrimas, levarmos de volta à terra nosso companheiro Eduardo Henrique Aciolly Campos, morto num desastre aéreo que nos ceifou ainda quatro companheiros  e a tripulação. Fatalidade que  a um só tempo levou nosso presidente e nosso candidato, e privou o país de um estadista de 49 anos, assim no alvorecer de sua projeção nacional.

Há um tempo certo para tudo. Há a hora triste do pranto e da saudade que não se remove. Há também a hora do agir em memória dos que não podem mais lutar.

Os argonautas portugueses diziam que não se deve recolher as velas enquanto houver vento – e  está ventando.

A hora, agora, é de responder ao legado dos que abriram as sendas que nos cabe palmilhar: João Mangabeira (nosso fundador de 1947), Antônio Houaiss (nosso primeiro presidente na refundação de 1985), Evandro Lins e Silva, Jamil Haddad e Miguel Arraes, socialistas de convicções inabaláveis que representam 67 anos de lutas de nosso partido pela justiça social.  Não por acaso Houaiss, Evandro, Arraes e Jamil foram vitimas da repressão da ditadura militar. Todos tiveram seus direitos políticos cassados; Jamil Haddad e Arraes viram seus mandatos populares surrupiados; Jamil ainda conheceu a prisão; Arraes a prisão, o degredo em Fernando de Noronha e o exílio na Argélia. Lutaram todos a vida toda pelos ideais socialistas da igualdade  social,  pela soberania nacional, pelo desenvolvimento  e pela defesa  de nossa economia. Somos herdeiros de suas biografias.

Da história recebemos a missão de manter  de pé a campanha de Eduardo Campos. Ela nos deverá  fortalecer e renovar a esperança e o dever, nosso, dos socialistas,  de construir uma nação rica e justa. O destino nos impôs a perda de Eduardo Campos. Nossa resposta é a renovação pública de nosso compromisso com o socialismo, com o crescimento econômico e a democracia. Para nós,  socialistas, os pleitos e a vida política não se encerram em seus projetos eleitorais: para além deles constituem uma pedagogia e um magistério. Não temos o direito de jogar fora essa oportunidade de proselitismo.

A tragédia que nos abate também nos nos fortalece. E torna hoje mais imperativa do que nunca a unidade de nosso Partido em torno dos ideais fundadores, sempre,  e, agora,  em torno das candidaturas de Marina Silva e Beto Albuquerque. Socialistas e ambientalistas nos completamos no compromisso de romper as amarras da miséria  e da desigualdade de classes, vencendo a dependência com a construção de nossa soberania, de povo, nação e país. Mais do que nunca é dever dos socialistas lutar  por uma cidadania ativa, que dê conta dos desafios que nos aguardam, na campanha e, principalmente, no governo. Mais do que nunca é nosso dever histórico assumir a bandeira do trabalhismo, desprezada pelas forças que se auto-nomearam como suas herdeiras, e que hoje, negando o legado de Getúlio Vargas, se entregam às falácias ideológicas do neo-liberalismo, anacronismo que os grandes meios de comunicação e as forças conservadoras embalam como ‘modernidade’ para, assim, melhor trair os verdadeiros interesses de nosso povo.

O Brasil precisa voltar a crescer, e fazê-lo assegurando a criação e distribuição da riqueza. Ajudar a construir uma nação rica, soberana, social e economicamente democrática, independente,  uma democracia participativa, eis a razão de ser do PSB. Eduardo viveu e morreu sob esta inspiração. A nação nos cobra a continuidade desse compromisso. O embate eleitoral é o instrumento necessário e democrático para, uma vez no poder, realizarmos nosso programa. Só assim a disputa pelo poder se justifica.

Nossa militância está sendo chamada  às ruas para defender nossas bandeiras e nossas candidaturas. Vamos renovar nosso compromisso de realizar um governo democrático que ensejará a efetiva participação popular nas decisões estratégicas. Aquele governo que Miguel Arraes chamava de nacional-popular.  A supremacia dos interesses do povo sobre os interesses das elites, do trabalho sobre o capital e  o rentismo, a prevalência do interesse público sobre os interesses privados, da atividade produtiva sobre o capitalismo  financeiro que explora e esteriliza a economia.  Esta é a mudança, esta é a renovação que prometemos levar a cabo.

Para ganhar, precisamos estar unidos e unidos lutando como um só corpo, sem esmorecer um só minuto. A partir de agora nos entregamos a uma luta sem quartel  que nos levará à vitória, se, ganhando as eleições, o que hoje só depende de  nós,  governarmos com o povo, realizando nosso programa. Precisamos eleger Marina e Beto mas precisamos também adquirir aquela musculação política que nos assegurará a governabilidade sem a traficância de hoje com os partidos e o Congresso. Para tal, precisamos eleger o maior número possível de deputados e senadores e o maior número possível de governadores. Para isso precisamos voltar às ruas.

Este é o apelo, este é o chamamento: eleger nossos candidatos, nossos governadores, nossos senadores e nossas bancadas de deputados. Sem uma grande bancada de deputados federais podemos perder, havendo ganho as eleições.

O sacrifício de Eduardo Campos e dos demais companheiros ceifados no desastre é semente e alicerce do fortalecimento do PSB e ao mesmo tempo da construção do país de nossos sonhos. O Brasil é viável e voltará a crescer. Viva a esperança!

(*) Presidente Nacional do PSB.