Batalha perdida do cacau

Por Osíris Silva:

Medicilândia, no Oeste do Pará, é um pequeno município emancipado apenas em 1989, que se originou do programa federal para colonizar a Amazônia, na década de 70. Localizado às margens da rodovia Transamazônica, no km 90, tornou-se a a capital nacional do cacau. Responde por 70% da produção estadual, de 45 mil toneladas. Com 36 mil hectares de lavoura, a área instalada é menor que a de Ilhéus (BA), o mais tradicional produtor do País. A diferença é que, de acordo com estudos da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), do Pará, em Medicilândia a produtividade é bem maior. A cidade produz em média entre 1.000 e 1.060 quilos de amêndoas por hectare. Alguns produtores conseguem até 2.500 quilos (o que seria a maior produtividade do mundo). Na Bahia, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a média do estado é de aproximadamente 300 kg/ha.

O Pará, desta forma, poderá se tornar, em cinco anos, o maior produtor brasileiro de cacau por meio de melhoramento genético das plantas e acesso a novas tecnologias. O planejamento da Ceplac até 2022, no entanto, não prevê mudanças no ranking nacional. Mas a estratégia é ampliar a produção das atuais 88 mil para 250 mil toneladas.  De acordo com a CEPLAC-Pará, “há cerca de 60 mil hectares de terra na região que podem ser usados para plantação de cacau. Embora o objetivo não seja o de atingir a liderança, se as coisas continuarem no ritmo que estão (aumento de 7% da área plantada por ano), o Pará pode sem dúvida se tornar o maior produtor do País”.

Até o final da década de 70, o Brasil, segundo maior produtor de cacau do mundo, com cerca de 350 mil toneladas/ano, após a entrada da “vassoura de bruxa”, o País despencou no ranking da produção mundial, passando a importador da amêndoa. Hoje, depois de muitos anos de estudos e pesquisas sobre a melhor forma de controlar o fungo e manejar a lavoura; e em face à expansão do cacau na Amazônia, o Brasil tem se recuperado e atualmente detém o sexto lugar no ranking da Organização Internacional do Cacau (OICC). Dados do Anuário do Cacau (2012) mostram que, a fim de ampliar as oportunidades de negócio, bem como agregar valor ao produto, vêm sendo produzido na região os chamados cacau fino e chocolate gourmet, mercado que, no entanto, representa não mais do que 2 a 3% dos tipos comuns de chocolate.

O cacau é cultivado em cerca de 17 milhões de hectares em todo o mundo.  De acordo com a FAO, os maiores produtores mundiais, dados de 2012, são os seguintes países: Costa do Marfim, em 2,49 milhões de hectares produz 1,35 milhão de toneladas, Indonésia, 1,67 milhão de ha – 712 mil t, Gana , 1,65 milhão de ha – 700 mil t, Nigéria, 1,27 milhão de ha – 400 mil t, Camarões, 897 mil ha – 272 mil t, Brasil, 680,4 ha – 248,5 mil t e Malásia, em 21,2 mil ha produz 15,9 mil t. A região Norte, com 185,5 mil t, responde por 26,9% da produção nacional. Deste total, o Pará alcançou 164,4 mil t (23,8 % da produção nacional), Rondônia, 15,9 mil t (2,3%) e o Amazonas, de onde  o cacau é originário, respondeu pela produção de apenas 5,2 mil t ou 0,8 % da produção brasileira.

Devido ao crescimento na Amazônia, acredita-se seja apenas uma questão de tempo para que a cultura, sobretudo no Pará e Rondônia, venha a se tornar tão expressiva quanto o vinho, a laranja, o café e o azeite. Depois do Pará, Rondônia desponta como boa opção regional para investimentos na cacauicultura (plantio e beneficiamento). O estado participa ainda apenas marginalmente como fornecedor da matéria-prima (cacau em amêndoas) para as indústrias de beneficiamento de cacau e produção de achocolatados. Mas vem crescendo rapidamente. Quanto ao Amazonas, não se tem notícia de algum esforço significativo para a retomada da cacauicultura no Estado. As lavouras são muito suscetíveis a vassoura de bruxa, praga que, sem controle fitossanitário adequado, dizima os plantios amazonenses. Outra batalha perdida.

Manaus, 1 de junho de 2016

Osiris Silva, ECONOMISTA, osirisasilva@gmail.com