As irmãs

Por Téta Barbosa, do Blog do Noblat:

No começo eram trevas.

Aí Deus pensou: já que eu estou aqui, de bobeira, vou criar o mundo.

E criou rios, mares, oceanos, Olinda e Recife, nesta ordem.

Olinda veio primeiro! Chegou junto com o português Duarte Coelho que, quando aportou em terras brasilis disse: “Oh, linda situação para se construir uma vila!”.

Aí, “Oh, linda” virou Olinda num piscar de olhos.

E a filha do Brasil já nasceu muito disputada: era português pra cá, holandês pra lá. Um puxava de um lado, o outro puxava do outro. No que Olinda disse: “calma, tem beleza pra todo mundo” e trouxe à vida Recife, sua irmã caçula.

As duas cresceram no esquema: tudojuntomisturado.

Ninguém sabia onde acabava uma e começava a outra.

A verdade é que, no começo, Recife era um puxadinho de Olinda. Isso porque a irmã caçula nasceu praticamente da costela da outra, ou melhor, de um foral (carta de direitos feudais) de Olinda, concedido por Duarte Coelho em 1537, como uma referência a “Arrecife dos navios”, um lugarejo habitado por mareantes e pescadores.

Aí, como em toda família que se preze, cada uma seguiu seu rumo nesta vida de Deus.

Uma puxou ao pai e guarda até hoje as memórias e casarios de sua herança portuguesa. Foi Olinda que, com seu amor à terra paterna, conquistou o título de cidade Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela UNESCO.

Já a caçula, toda moderna e inovadora, saiu pelo mundo construindo pontes, viadutos, prédios e centros tecnológicos. Se Recife fosse uma menina, teria piercing no umbigo, se fosse rapaz, sairia por aí com seu alargador de orelha e tatuagens nos braços.

No aniversário das duas, que é no mesmo dia como convém a irmãs tão unidas, poderíamos comemorar com um bolo em forma de igreja e uma vela de raio laser. Porque por aqui, história e modernidade são da mesma família.

No DNA um pedaço de cada canto do mundo: a ginga africana, os claros cabelos holandeses, a brancura portuguesa, o dourado índio. Um povo que nasceu de mãos dadas com colonizados e colonizadores, na quentura dos trópicos e com a brisa do além mar.

E juntas permanecem.

A ladeira da Sé desemboca na Av. Agamenon Magalhães e ali, pelo meio, fica uma divisão que ninguém viu, ninguém vê. Uma faixa de gaza que não separa cidades gêmeas.

Dizem que a melhor coisa que tem em Olinda é a vista do Recife. Mas que, se estiver no Recife, o coração bate de saudade “das Olindas”.

O meu bate pelas duas.

É a minha homenagem ao aniversário de Olinda e Recife

Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre às segundas-feiras sobre modismos, modernidades e curiosidades no Blog do Noblat. Ela também tem um blogBatida Salve Todos