A castanha, o acordo e a comenda

Por Alfredo Lopes:

O termo inovação, muito mais do que um mero avanço tecnológico, representa o desafio premente de um novo olhar sobre a rotina do processo produtivo, tendo como pano de fundo a equação harmoniosa entre homem e natureza, a sustentabilidade em seu sentido holístico e interdisciplinar. Inovar, no ponto de vista do desafio de empreender na Amazônia , portanto, é conferir equilíbrio entre demandas socioeconômicas e reposição dos  estoques naturais. Por isso, este dia 15 de julho poderá ser lembrado  como um momento emblemático da relação entre pesquisa e desenvolvimento na história do polo industrial de Manaus. Com a presença do ministro do Desenvolvimento, Marcos Pereira, acompanhado de “torcedores” pro-Amazônia, de seu escalão executivo, o gestor do CBA-Centro de Biotecnologia da Amazônia, Adrian Pohlit, energizado pela degustação da castanha do Pará, da Amazônia ou do Grasil, anunciou a assinatura do Termo de Consentimento entre o Centro e o empresário Sérgio Vergueiro, da Agropecuária Fazenda Aruanã, responsável pela produção certificada de castanha, pupunha e copaíba, entre outras espécies já estudadas e comprovadamente .   aptas a oferecer resíduos para a indústria bioquímica. Por esse termo, o CBA pode coletar os tais resíduos “…para a realização de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, visando a aplicação dos resultados para o desenvolvimento de processos e produtos cosméticos, de higiene pessoal, de perfumaria em geral, fitoterápicos, farmacêuticos, homeopáticos, alimentícios, dietéticos e alimentos funcionais, materiais de referência, dentre outros”. Ufa!

A boa notícia é que – diferentemente de outras prospecções de bionegocios – esse Acordo aponta para o equacionamento de um dos maiores gargalos de qualquer empreendimento florestal amazônico: a escala. Os resultados oriundos das pesquisas realizadas pelo CBA, comprovada a viabilidade técnica e econômica, poderão ser aplicados imediatamente para a fabricação e comercialização de processos tecnológicos e produtos, pois a oferta desses resíduos é abundante. Vergueiro plantou mais de 2 milhões de indivíduos – na região de Itacoatiara, Presidente Figueiredo… – entre as espécies citadas. O manejo já está previamente autorizado e a certificação de origem e o protocolo de produção orgânica já estão  devidamente selados pelos órgãos públicos. Até então, quem colhesse uma dessas espécies e não preenchesse calhamaços de questionários e licenças não poderia por a mão nessas  espécies. Ou iria para a cadeia se o fizesse.

Esta foi a razão basilar da comenda Mérito CIEAM, entregue a seguir ao empresário Sérgio Vergueiro, pelo seu presidente Wilson Périco, neste 21 de julho. Suas castanhas ajudam a prevenir Alzheimer, segundo a USP, bem como a obesidade, diabetes e doenças renais,  assim como a copaíba pode prevenir 10 tipos de câncer, de acordo com a Unicamp, e a pupunha deverá fornecer nutracêuticos de primeira linha para uma nutrição mais equilibrada. Sabe quem será mobilizado no Acordo de Repartição de Benefícios, previsto na Lei Nº 13.123 de 20 de maio de 2015 e Decreto Nº 8.772de 11 de maio de 2016, a ser firmado pela empresa responsável pela comercialização do produto final, quando comprovada a viabilidade econômica do projeto: as populações tradicionais. E o CBA se compromete a fornecer às instituições interessadas, informações necessárias quanto à rastreabilidade destes acessos. Esta é a verdadeira é nova matriz econômica amazônica. Avançamos, pois, na direção tão sonhada. Não há porque vacilar, protelar e não ir…já!