28 de Março

Por Marcelo Ramos: 

Hesitei muito em escrever sobre o acidente do dia 28 de março. Tenho pavor do risco da demagogia que explora o sofrimento das pessoas, da exposição das dores das famílias enlutadas ou mesmo de politizar os motivos do acidente.

Penso que a hora não é de julgamentos e nem mesmo de exposição das vítimas. É momento de consternação, de oração e de solidariedade. Ainda que escreva sobre o tema vou preferir a prudência contra qualquer açodamento no trato dessa questão.

O ocorrido nos dá um pouco a noção de como essa vida é uma passagem e que podemos a qualquer momento ¨voltar pra casa¨ (como diz um provérbio arborigene). Nessa passagem, vale a verdade, a alegria. Vale a Justiça, a fraternidade. Vale o desprendimento das coisas materiais e comprometido com a natureza e com os homens . Quem passar assim pela vida, seguirá em paz.

Episódios como esse também ascendem pela dor e pelo sofrimento os bons sentimentos que adormecem no coração das pessoas. De repente, percebemos o outro. Dedicamos uma oração a quem não conhecemos. Saímos de casa para deixar flores no local do acidente. Realizamos vigílias de rezas e orações. Lotamos o HEMOAM para doar sangue.

E precisamos refletir!

Será que para nos percebermos humanos, sensíveis e comprometidos com os outros precisamos que pessoas morram tragicamente? Será que esse comportamento solidário e fraterno não deve ser prática rotineira na nossa convivência humana?

Nesse momento de dor que coincide com as comemorações dos 50 anos da célebre obra de Thiago de Melo, Os Estatutos do Homem, vale a pena resgatar dois artigos.

Artigo 1
Fica decretado que agora vale a verdade, agora vale a vida e de mãos dadas marcharemos todos pela vida verdadeira;

Artigo 11
Fica decretado por definição que o homem é o animal que ama, e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã;

Como político, não farei qualquer comentário acerca de erros que possam ter ocasionado o acidente. Como cidadão manauara, minha solidariedade e que Deus conforte o coração das famílias enlutadas.