2014: Aécio dá o troco e fala bem de Eduardo Campos

De O GLOBO:

O GLOBO propôs a Aécio uma entrevista para ele falar apenas sobre Eduardo Campos, e vice-versa. Em meio às perguntas sobre o colega, Aécio passou seu recado:

– A nossa identidade é tão forte que em determinado momento nós vamos estar juntos e construir um projeto de Brasil.

Ele não economizou elogios ao colega Eduardo Campos e vê mais afinidades entre eles do que entre seus avós, Tancredo e Arraes:

O GLOBO: Quando se aproximaram na época das Diretas, imaginava que o Eduardo Campos chegaria onde chegou?

AÉCIO NEVES: Não, e acho que tampouco ele podia me ver com a trajetória que eu fiz. É uma história curiosa, porque o Miguel Arraes e Tancredo nunca estiveram muito próximos. Mas, nos momentos cruciais da vida nacional, eles se uniram. Do ponto de vista conceitual e ideológico, temos uma identidade muito maior do que tinham nossos avós, e isso pode facilitar muito uma aproximação no futuro. Do ponto de vista de gestão, Eduardo é um daqueles com quem encontrei maior afinidade durante todo o meu governo.

O GLOBO: Qual seria o peso da lembrança do avô Miguel Arraes no jeito de fazer política do Eduardo?

AÉCIO NEVES: O Arraes é uma lenda, pela resistência e pela forma com que demonstrou coragem na defesa dos valores democráticos, porque os desafios naquela época eram estes. Hoje, os desafios são outros. A herança maior é nos princípios, da correção e da seriedade, além do compromisso com o Nordeste, essa visão humanista que ele permanentemente tem. Na política, nada substitui a relação pessoal entre as pessoas, e o Eduardo é muito agradável na relação pessoal e um homem que tem um compromisso com o país. Se um dia vamos estar juntos, o destino que vai dizer, mas eu acho que é inexorável. A nossa identidade é tão forte que em determinado momento nós vamos estar juntos e construir um projeto de Brasil.

O GLOBO: O que há no jeito de fazer política do Eduardo que você admira e se identifica?

AÉCIO NEVES: Sempre foi um homem de muita conversa, na busca do entendimento. Há uma identidade forte na nossa forma de ver o país, temos visão parecida em relação à gestão e à necessidade de intervenção forte para tornar o estado mais ágil e eficiente. O Eduardo veio aqui no início do seu governo buscando também um pouco da nossa experiência. Julgo que ele tem muito mais afinidade conosco até do que com muitos aliados que estão na base do governo.

O GLOBO: A que aliados você se refere?

AÉCIO NEVES: Do ponto de vista de gestão, vejo mais similaridade da ação dele com a nossa do PSDB do que do próprio PT, que não fez nenhum gesto até hoje do ponto de vista de qualificação do serviço público, pelo contrário.

O GLOBO: O que não gosta no jeito dele fazer política?

AÉCIO NEVES: Não gosto, hoje, de ele estar em um campo e eu em outro.

O GLOBO: Em Pernambuco, é grande a expectativa de Campos se candidatar à presidência em 2014. Você acha que ele deveria?

AÉCIO NEVES: Quem sou eu para dizer sim ou não. Ele participa de um grupo político amplo, mas sem dúvida é dos nomes que se afirmam com maior consistência. Ele está se preparando para um voo maior, certamente. Mas é prudente, tem um jeito um pouco mineiro de ver as coisas. Na política, a arte maior está exatamente em administrar o tempo, e ele está sabendo fazer isso com muita competência.

O GLOBO: Você o apoiaria?

AÉCIO NEVES: Eu teria muita facilidade de estar ao seu lado. Agora, somos reféns das circunstâncias que nos cercam. Hoje eu milito em um outro campo político, quem sabe não podemos nos encontrar na frente, independente da condição de o candidato ser ele, não importa. Eu acho que ambos gostaríamos muito de nos encontrar. Você falar em apoiar alguém que está no outro campo político hoje, pode parecer que você está abdicando de defender esse campo. Mas onde ele estiver, o Brasil vai estar servido.