ZFM: os indicadores da desindustrialização

Por Alfredo MR Lopes (*)

alfredo.lopes@uol.com.br

Nos quatro primeiros meses de 2012, a produção industrial de Manaus sofreu queda de 6%, com destaque para motos, TV e linha branca, a despeito das reduções de IPI neste setor ser concedida há mais de seis meses. O polo de duas rodas despencou nas vendas e a produção beirou a redução de 10%. Os dados, objetivamente, não constituiriam razão de sobressalto não fossem as demais sinalizações do modelo na linha do desemprego e da desarticulação de projetos e revisão de investimentos. Sem alarmismo, muito menos ingenuidade, podemos dizer que o processo de desindustrialização está a caminho, tendo em vista que alcança dois segmentos que restaram dos oito polos que floresceram na Zona Franca de Manaus em momentos não distantes. Qual a relação dessa iminente debacle com aquela ocorrida há cem anos, que desembarcou no esvaziame nto da economia extrativista fundada na Hevea brailiensis, a árvore da fortuna e das folias do látex por três décadas?

As respostas são múltiplas e os estudos a respeito, apesar de difusos e fragmentados, caminham numa só direção, onde emerge e se escancara uma incapacidade atávica de inovar pela tecnologia a agregação de valor aos bens produzidos, fator de diversificação industrial, comercial e de serviços e interiorização da economia. Assim como no apogeu e quebra do ciclo gomífero, negligenciamos o dever de casa, embalados pela preguiça do glamour, de quem se apressou em deitar na fama da cama que improvisou. A história se repete como farsa ou como tragédia, parodiando o pensador austríaco sobre os ciclos da quebradeira e do Capital?

Como sustentar e consolidar um modelo que repassa – em nome de uma renúncia fiscal questionável – 53% de seus resultados aos cofres federais e tem que responder pelo amparo socioeconômico de quase todas as demandas regionais, descuidando sistematicamente de sua alimentação estratégica, infraestrutural e tecnológica, que são as condições essenciais de seu adensamento e perenização? Priorizamos e nos deleitamos no imediatismo dos frutos do segmento industrial, negligenciando os demais pilares de sustentação da economia, o comércio/serviços e o setor agrícola. Abrimos mão do Projeto Suframa de Entreposto Aduaneiro Intercontinental, nos moldes do Panamá, que teria o tempero adicional de oferecer ao consumidor global o fascínio florestal. Um polo de serviços, que se complementaria – o centro estratégico da Amazônia – através do fomento de múltiplos entrepostos, ou conglomerados multidisciplinares amazônicos, de Ciência, Cultura, Lazer, Turismo, apostando – pra citar uma proposta densa – nas linhas conceituais básicas e promissoras do Proecotur, uma iniciativa grandiosa de turismo e ecoturismo para a região, engavetada pela pequenez e miserabilidade politica habitual. Na mesma lógica da negligência, patinamos, há mais de uma década, na implantação do polo de bioindústria, para inserção dos produtos da biodiversidade na cadeia produtiva da Zona Franca de Manaus.

Vivemos uma era perversa de imediatismo politico na conquista de resultados, onde planejar com médio e longo prazo é incompatível com esse modo tacanho de ordenar a polis, que tolera, no máximo, o arco de realizações e colheitas no limite estreito de dois mandatos. Por isso, planejar, maturar e implantar nova matriz energética, utilização sustentável com agregação de valor de novas cadeias produtivas de minérios, de silvicultura, aquicultura, são, desse ponto de vista vesgo e tacanho, caminhos a evitar. Planejamento estratégico só na prorrogação da preguiça fiscal, num frontal descaso com a sábia ponderação de Albert Einstein, segundo a qual, é apenas no dicionário que o sucesso antecede o trabalho. É hora de arregaçar as mangas.

(*) Alfredo é filósofo e consultor ambiental.