O grande desafio da aliança PSB-REDE-PPS é unir os brasileiros para discutir o futuro

 
Humberto Pradera
PSB/REDE/PPS – 15/03/2014 O presidente Nacional do PSB, governador de Pernambuco, Eduardo Campos, afirmou aos participantes do 2º Seminário Regional Programático, em que a aliança PSB-REDE-PPS debate seu programa de governo com a região Sudeste neste sábado (15), no Rio de Janeiro, que encontrar uma casa lotada em pleno sábado para discutir o Brasil é mais do que animador. “Esse envolvimento nos enche de alegria e de esperança e nos traz a certeza de que estamos no caminho certo”, declarou ele. “São lideranças políticas, militantes, intelectuais, artistas, sonhadores e lutadores unidos nesse momento desafiador. E nosso desafio é unir os brasileiros de cada região para discutir o futuro desse país – porque todos nós queremos morar no futuro”.Segundo Campos, essa participação crescente nos eventos e encontros da aliança deixa claro que o Brasil precisa cada vez mais trazer as ideias da sociedade para o centro do debate. “O povo sabe o que quer, mas o povo também quer o que não sabe ainda”, disse ele, citando Gilberto Gil. “Nós buscamos com esses debates pelo país justamente encontrar o querer do povo brasileiro e com esse querer reencontrar o nosso país, formado por uma gente generosa, um patrimônio humano e natural extraordinário”.

Lembrando a luta de tantos presentes contra a ditadura militar e os 50 anos, completados em 2014, do regime de exceção então instalado, que sabotou o Brasil ao suprimir as liberdades elementares à democracia, o líder socialista avaliou que só derrotamos a ditadura quando conseguimos unir o país. “Aquele primeiro ciclo de redemocratização só foi possível porque uniu brasileiros de norte a sul, brancos, pretos, índios, de diversas correntes políticas, mas todos tomando para si a responsabilidade de, juntos, tirar o país daquele cenário”, enfatizou.

A união também foi necessária quando, apontou Campos, vimos esse mesmo ciclo depois se encher de contradições, a mudança econômica introduzida se esgotar, a frustração da sociedade brasileira com o fim dos planos econômicos que não conseguiram durar além do processo eleitoral. Igualmente, foi a juventude e o povo unido nas ruas que pouco tempo depois tirou do poder um governo que havia traído os compromissos com a sociedade e os valores republicanos.

“Também foi pela união que um brasileiro poucas vezes referenciado, o mineiro Itamar Franco, conseguiu formar uma ampla frente para reconstruir o Brasil em mais aquele momento”, ressaltou Campos. Depois disso, o desafio foi enfrentar as desigualdades sociais no Brasil, ciclo iniciado em 2002 pelo ex-Presidente Lula, que conseguiu coloca-las no centro do debate.

Agora, defendeu o líder socialista, é preciso agir unidos mais uma vez para enfrentar a grave crise mundial, “que é não só econômica, mas de padrão econômico, e também ambiental”. “Ela nos exige uma profunda reflexão, para que a humanidade discuta como queremos viver no século 21, qual deve ser a relação entre os países e a de sua economia com a natureza”, apontou. “Precisamos avançar nesse debate com a mesma velocidade dos fatos, e sem colocar a democracia em xeque”.

Debater em profundidade – Eduardo Campos afirmou ainda que é em respeito ao Brasil que militantes do PSB, REDE e PPS estavam ali reunidos no Seminário Regional Programático. Para discutir o país de forma diferente, em dimensão diferente do que faz o governo da Presidente Dilma. “Quando secam os reservatórios de água de São Paulo, a maior cidade do país, quando a energia começa a dar sinais de crise – e o mercado, via o aumento dos preços do setor, nos dá esse termômetro e diagnóstico da gravidade da situação que estamos vivendo – não podemos fingir que não vemos”, disse. “Temos um debate em profundidade a fazer nesse momento”.

O socialista revelou que imaginava que iríamos ter no Governo avanços de institucionalidade após as manifestações populares que tomaram as ruas do país em junho, mas que esses gestos não vieram. “O povo brasileiro foi às ruas porque tem o que falar e, se não lhe foram dados mecanismos de participação popular de junho para cá, é claro que ele vai falar na hora de votar”, ressaltou.

“Que debate nós queremos ver no Brasil – o que esconde, o que adia, o que usa o marketing para encobrir o essencial do que é estratégico? Eu tenho absoluta certeza que não é esse”, assegurou Campos. Ele afirmou que a crise do setor energético preocupa, como preocupa a Petrobras, maior empresa do setor no país, ter seu patrimônio reduzido à metade nos últimos três anos, o fechamento recente de 40 unidades de etanol, os parques eólicos do Nordeste estarem gerando energia sem ter como chegar ao consumidor, enquanto o país gasta mais de R$ 1 bilhão para comprar diesel no exterior a fim de alimentar as termelétricas na seca.

“Isso é estar bem? Num pais continental, com a sexta economia do mundo, este não pode ser um debate só de governo, porque é questão estratégica. Por que um estado pobre como Pernambuco pode fazer leilão de energia solar e o governo não, tem que importar diesel?”, indagou. “A sujeira que botam para baixo do tapete com a ajuda dos marqueteiros está aumentando, o tapete está dessa altura e as pessoas estão vendo”.

“Isso exige de nós coragem para fazer o debate, e nós vamos fazê-lo, porque tem muita gente nas ruas torcendo para que ele ocorra e que este seja o caminho para levarmos o nosso país mais longe”, assegurou. “Isso pode desagradar a muita gente mas eu estou feliz aqui, cercado de pessoas que estão usando o seu sábado, a sua folga para fazer algo muito maior do que pensamos que poderíamos alcançar – discutir como mudar de verdade o Brasil”.

Marina – Marina Silva, fundadora de REDE Sustentabilidade, também declarou estar muito feliz nesse 2º Seminário Regional Programático. “Feliz com o que está acontecendo Brasil afora e Brasil adentro em torno de nosso projeto com Eduardo Campos”, afirmou. “De alma plena e inspirada pela música de Arthur Moreira Lima, que aqui veio exercer seu patriotismo e ativismo político, compartilhar seus sonhos e ideais que também são os nossos: construir juntos o Brasil do encontro e não do confronto, do embate, e não do combate”.

Segundo ela, é preciso reconhecer as conquistas e avanços obtidos até aqui, mas, ao mesmo tempo, sem ter complacência com os erros. “As críticas que fazemos à política energética atual e à governabilidade torta com que a enfrentam, baseada na distribuição de cargos políticos, são necessárias porque a situação prejudica a democracia e o país”, defendeu.

A ambientalista lembrou que seguidamente projetos importantes para fontes alternativas de energia no Brasil, que foram debatidos com a sociedade, são barrados e ameaçados pela chantagem dentro do Congresso Nacional. “Nós temos a clareza de que não vamos fazer essa política do quanto pior melhor, nós queremos o quanto melhor, melhor. Não queremos compactuar com a chantagem daqueles que usam a politica para obter mais um cargo”, assegurou. “Defenderemos as propostas justas e corretas que passarem pelo Congresso, pois queremos uma governabilidade programática, e não pragmática”.

Propostas, apontou Marina, como as que irão suprir a nossa matriz energética com recursos limpos. “Neste momento, todas as usinas térmicas do país estão operando a pleno vapor, importando diesel para produzir uma energia poluente e que sai caro aos consumidores brasileiros”, ponderou. “Mas nós estamos aqui hoje para debater a sustentabilidade econômica, a social e também a ambiental. Não podemos destruir as bases do nosso desenvolvimento, nossas riquezas de recursos naturais, pois são uma vantagem competitiva imensa”.

Se continuarmos degradando nossas riquezas naturais, alertou, vamos acabar com a nossa galinha dos ovos de ouro. “Por isso agradeço imensamente ao PSB e ao PPS por estarem abraçando essa nossa causa da sustentabilidade. Eduardo (Campos), por exemplo, admitiu que não veio dessa tradição, porém, por compromisso político, ético e social, abraçou a causa e hoje percebe sua necessidade mundial, inclusive”.

Inversão de papéis – Marina também lembrou que os ambientalistas, durante muito tempo, foram taxados de ser contra o desenvolvimento. “Nós tínhamos sempre que pedir para os desenvolvimentistas fazerem alguma coisa pelo meio ambiente, mas, agora, eles é que nos pedem o que podemos fazer para ajudar num desenvolvimento sustentado”, comparou.

A ex-senadora enfatizou que a REDE traz para o debate a consciência de que, para o Brasil se desenvolver e produzir mais e melhor, é necessário que isso também se traduza em políticas que melhorem a qualidade de vida das pessoas. “É preciso promover em novas bases o nosso desenvolvimento, na sustentabilidade econômica, tirando proveito de nossas vantagens competitivas naturais e do uso da tecnologia limpa”, defendeu ela. “Saímos de programas sociais baseados na caridade e no assistencialismo, transitamos pela inclusão e agora estamos indo para aos programas sociais de terceira geração, que sejam capaz de criar soluções para o fim da desigualdade social. É a inclusão produtiva que buscamos, para que a pobreza não seja a miséria, que ela não faça mais parte da história do nosso país”.

Marina Silva disse que sonha em ter um país onde o sentimento de República faça parte da nossa cultura e das nossas instituições. “A sociedade precisa de homens e de mulheres virtuosos, sem eles não se vai a lugar algum. Mas pessoas podem falhar, por isso é preciso institucionalizar as conquistas, sem fulanizar”, defendeu ela. “Pesquisadores afirmam que o que mais contribui para melhorar a vida de um povo, de uma sociedade, é o processo correto e justo de institucionalização das conquistas. O Brasil está a beira de perder ganhos conquistados porque não consegue institucionalizá-los”, alertou.

Para a ex-senadora, é fundamental que o Brasil enfrente o desafio de desfulanização da política, pois políticas públicas têm de ser institucionalizadas como um ganho da sociedade. “Não podem mais ser só do Fernando Henrique, do PSDB, ou do Lula e PT. Elas são do povo brasileiro”, defendeu. “O Brasil que queremos não será fruto da ação dos partidos, mas das pessoas que estão aqui colocando uma agenda que não mude de acordo com as mudanças de governantes”, destacou.

Freire – Já o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, admitiu que se preparou para falar do necessário programa de governo e da exigência de uma nova política no Brasil, no entanto, ao chegar ao evento e se deparar com o concerto de Arthur Moreira Lima, não poderia deixar de falar do século passado. “Em 1985, no teatro Santa Izabel, em Recife, ele fez um recital em homenagem ao retorno do Partido Comunista à legalidade, quando também tocou a Polonaise Heróica, de Chopin. Isso nos reforça que mesmo quando estamos falando do novo, é preciso saber lembrar das pessoas que construíram a nossa história, do caminho de resistência que trilhamos para chegar até aqui”, apontou.

Freire contou que também no 1º Seminário Regional Programático, realizado em Porto Alegre em 22 de fevereiro, encontrou velhos companheiros dessas lutas democráticas, do velho MDB e de tantos brasileiros, conhecidos e anônimos, que ajudaram a mudar o país na década de 80 e engrossaram o coro de 50 milhões de pessoas gritando pelas Diretas Já na Candelária, Rio de Janeiro.

“São esses movimentos que trazem o fio condutor que nos permitem dizer hoje que estamos nos reencontrando”, avaliou ele. “Não estamos aqui sem nenhuma visão crítica nem sem reconhecer os avanços conquistados. Mas é preciso reconhecer que é um momento de esgotamento de um ciclo lá atrás, da política e da economia em crise”. Segundo ele, estamos encerrando um ciclo, e no mesmo momento em que o golpe militar completa 50 anos. “O Brasil tem que olhar para trás, aprender com o que foi feito de bom e com os erros também. Ninguém pense que a direita está tranquila achando que está tudo certo no país depois das negociatas que esse governo aprontou – incluindo aí a preocupação com a crise energética que vem por aí e que o Governo quer empurrar com a barriga, anunciando desde logo um estelionato eleitoral”.

Roberto Freira afirma em alto e bom som: nós fizemos a opção por esse reencontro. “A história maior é a história desse encontro, em que o Brasil está buscando o seu caminho. A disputa e o embate eleitoral, se continuar no cenário atual, é até tranquilizante para nós. Mas não sei se este cenário se mantém, por conta dos equívocos e do enxovalhamento que fizeram com a esquerda brasileira, envolvendo-a em corrupção e todo tipo de medidas antidemocráticas. A responsabilidade, agora, é de vocês, de construir um  grande programa como alternativa ao que aí está. Contem conosco neste luta!”.

Márcia Quadros – Assessoria de Imprensa do PSB Nacional