NOVA REPÚBLICA, 28 anos depois

Talvez poucos lembrem, talvez nem mesmo a imprensa registre, mas 15 de janeiro é um dia muito importante para o Brasil.

Foi num dia 15 de janeiro, 28 anos atrás, que numa obra de engenharia política liderada por Tancredo Neves tornou-se possível a transição do Regime Militar para a Nova República.

Para os mais novos cabe relembrar: em 1964 a ordem constitucional foi quebrada, o presidente Jango foi deposto e pela via indireta foi eleito o General Castelo Branco como presidente da República.

Em 1984, o Brasil clamava pelo retorno a ordem democrática e constitucional. A Emenda Dante de Oliveira que devolvia ao povo o direito de escolher seus governantes, a chamada Emenda “Diretas Já”, sob a principal liderança de Ulisses Guimarães mobilizou e empolgou o Brasil. A Emenda foi derrotada.

Diante disso, Tancredo liderou a chamada “Aliança Democrática” e decidiu disputar as eleições indiretas no Colégio Eleitoral com o discurso da conciliação e pacificação nacional.

A Wikipedia assim resume aquele momento:

“A Eleição Presidencial brasileira de 1985 foi a última ocorrida de forma indireta, através de um Colégio Eleitoral, sob a égide da Constituição de 1967.

Disputavam a sucessão do Presidente João Figueiredo, as seguintes chapas:

Durante o ano de 1984, o Partido Democrático Social (PDS), sucessor da antiga ARENA e partido de apoio ao Regime Militar, celebrou uma espécie de eleição primária para escolher seu candidato à Presidência da República nas eleições de 1985. Duas pré-candidaturas então surgiram: a do ex-governador de São Paulo e então deputado federal Paulo Maluf (com o deputado federal cearense Flávio Marcílio para Vice-Presidente) e a do ex-Ministro dos Transportes do Governo Médici, o coronel gaúcho Mário Andreazza (com o ex-governador de Alagoas Divaldo Suruagy para Vice-Presidente). Maluf derrotou Andreazza nas primárias do PDS, contando com o apoio do ideólogo do Regime Militar, o general Golbery do Couto e Silva, mas encontrou forte oposição de caciques nordestinos, notadamente Antônio Carlos Magalhães, Hugo Napoleão, Roberto Magalhães, entre outros. Estes descontentes, após a vitória de Maluf na eleição primária do PDS, saíram do partido e formaram a chamada Frente Liberal. A Aliança Democrática foi uma coligação entre o PMDB, o principal partido de oposição ao Regime Militar e os dissidentes do PDS que formavam a Frente Liberal. Esta dissidência acabaria por formar o PFL (atualmente o Democratas).

No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral reuniu-se e Tancredo Neves foi eleito presidente para um mandato de 6 anos com 480 votos (72,4%) contra 180 dados a Maluf (27,3%). Houve 26 abstenções, principalmente de parlamentares do PT, que foram orientados a votar nulo pelo diretório nacional partido. Os deputados Bete Mendes, Airton Soares e José Eudes, votaram na chapa da Aliança Democrática e acabaram sendo expulsos do PT.”

No dia 15 de março, marcado para a posse, Tancredo adoeceu e não assumiu. Quem tomou posse foi José Sarney, seu vice. Em 21 de abril Tancredo faleceu. Coube a Sarney fazer a transição, convocar a Constituinte e em 1989 o Brasil voltou a eleger pelo voto direto o seu Presidente da República.

Esse período de 28 anos é, por incrível que pareça, o mais longo período de estabilidade política, econômica e social da nossa República.

Ao contrário das outras quatro fases – República Velha, Era Vargas, República Nova e Regime Militar – que tiveram sucessivas crises políticas, institucionais, econômicas e sociais, a Nova República alcançou estabilidade social, institucional e econômica.

Há muito que fazer, mas se compararmos todos os indicadores, a começar pelo da mortalidade infantil e terminando pela expectativa de vida dos brasileiros, apesar dos pesares, o Brasil avançou muito.

Por exemplo: a mortalidade infantil em Manaus que era de 100 crianças por cada 1.000 nascidas vivas nos anos 80, hoje é de 13. Nos países de 1º mundo são apenas 7, mas já estivemos mais longe.

Portanto, dia 15 de janeiro é dia de comemorações. Ou, pelo menos, deveria ser.

Leia abaixo o discurso histórico de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.