Do d14am:
Rios do Amazonas têm potencial para ser ‘corredor’ de exportação de grãos
Para o coordenador da Expedição Safra, Giovani Ferreira, o Estado tem um potencial logístico para escoar a produção brasileira de grãos
Por Henrique Saunier / portal@d24am.com

Para o coordenador da expedição, Giovani Ferreira, o Estado tem um grande potencial logístico para servir de escoamento da produção brasileira de grãos. Ele afirma que o porto de Itacoatiara já está se preparando para dobrar a sua capacidade de armazenamento, iniciativas de melhorias lideradas pelas empresas privadas. Nesta entrevista, ele comenta a importância de projetos como o da ‘Potássio Brasil’, companhia situada em Autazes que poderá por fim à dependência externa brasileira fertilizante agrícola.
Como foi definido o roteiro da expedição?
A expedição Safra está no seu oitavo ano na estrada. A visita ao Norte do Brasil estava prevista para o ano que vem, na Safra 2014/2015. Resolvemos antecipar para este ano por conta da discussão de infraestrutura logística. Nos últimos cinco anos, a produção de grãos no Brasil cresceu em 65 milhões de toneladas, foram mais de 10 milhões de toneladas ao ano. A Safra 2013/2014 vai terminar com 195 milhões de toneladas. Um crescimento grande que nos leva a uma pergunta: Esse crescimento é sustentável? Não digo do ponto de vista ambiental, mas sim econômico da atividade. Existe mercado e infraestrutura para esse crescimento para escoar essa produção?
E qual o papel do Amazonas nesse contexto?
O Amazonas não produz grãos, mas está na expedição, pois é um importante corredor de grãos. Nosso último roteiro foi Pará, Amazonas e Roraima, onde estudamos a produção e escoamento de grãos. É uma produção vinda do Mato Grosso, vai até Porto Velho e sobe de barcaça até Itacoatiara, onde embarca em um navio e vai para o exterior. Essa soja que vai hoje pelo Rio Madeira e depois pelo Rio Amazonas, que passa por Itacoatiara, antes era escoada por caminhão para o Sul do País. Então, esse ramal hidroviário ganha escala e reduz custo. Checamos in loco que o potencial de usar os rios do Amazonas para exportar grãos é enorme. Hoje, o porto de Itacoatiara movimenta por ano aproximadamente 2,8 milhões de toneladas de grãos, dependendo do ano e da safra. Há um investimento para dobrar a capacidade do porto de Itacoatiara.
Sobre esse projeto de Itacoatiara. Qual a situação atual?
É o Grupo A. Maggi que está investindo no porto da Hermasa em Itacoatiara. É um projeto de atingir 5 milhões de toneladas e deve ficar pronto em 2020. Eles prestam serviços para outras multinacionais também, como a Bunge. O porto de Itacoatiara opera desde 1997, quando o volume era de 90 mil toneladas e esse investimento é para dobrar a capacidade atual. É disso que precisamos. Mas essa infraestrutura está chegando basicamente pela iniciativa privada. Por enquanto fizemos um mapeamento pontual, mas a partir de agora vamos estudar a fundo essa infraestrutura e as suas limitações.
A expedição foi a Autazes ver de perto o projeto do Potássio Brasil. Quais foram as impressões?
Fomos a Autazes, porque lá tem uma empresa chamada Potássio Brasil, que mapeou uma mina grande de potássio, altamente utilizado na agricultura. Atualmente, o Brasil importa 90% do potássio utilizado na agricultura. Com essa mina vamos conseguir praticamente zerar nossa dependência de potássio, de fertilizantes. Fertilizante é tecnologia para aumentar a produção e produtividade. A capacidade da mina é de 2 milhões de toneladas de cloreto de potássio ao ano. Eles estão discutindo a possibilidade de conectar o Linhão de Tucuruí, para ter uma energia elétrica de qualidade, mas isso vai depender do poder público. Na questão de logística, eles estão estudando os rios e estradas. Provavelmente o escoamento será por meio de contêiner ou barcaças. O desafio será grande. Serão necessários muitos investimentos. Até agora eles já investiram R$ 180 milhões em quatro anos, somente na prospecção da área.
Quais os potenciais de agronegócios identificados no Amazonas?
Sentamos com a Organização das Cooperativas Brasileiras do Amazonas (OCB/AM) e a Federação da Agricultura do Amazonas (Faea), pois existe um esforço grande para mapear a cadeia produtiva de produtos mais regionais. Como não se produz commodities no Amazonas é preciso produzir os itens de valor agregado, os nichos de mercado. Há uma preocupação das entidades em organizar essas cadeias produtivas temáticas para agregar mais valor e busca de mercados e profissionalizar essas cadeias produtivas. Foi falado muito da região do leite de Autazes, e da juta e malva. Mas as perguntas que ficam são: será que esses Estados (do Norte) têm a completa dimensão da importância desse processo logístico e será que estão se beneficiando disso? O Estado precisa achar uma maneira de se inserir nesse processo. O Amazonas não produz um grão de soja, mas está emprestando sua infraestrutura e precisa saber como ganhar nesse processo.
Essa é ideia, a de escoar os grãos do Mato Grosso, via Itacoatiara, é do saudoso economista e meu amigo Raimar Aguiar, aprovada e incorporada pelo então saudoso Governador Gilberto Mestrinho, ambos considerados inimigos dos ecologistas, e que fez a “alegria”e a riqueza do empresário Blairo Maggi, mas que é o mais consistente projeto ecológico que deu certo, pois retirou milhares de carretas das estradas brasileiras para exportar grão produzidos do Mato Grosso com a economia de TRINTA DÓLARES por tonelada no frete ( o que significa dizer que o Blairo Maggi fica mais rico a cada ano 2,8 milhões de toneladas X 30,00 = 84 milhões de dólares graças a uma boa ideia não reconhecida). Por outro lado, o ganho ambiental é consistente e importante.
O que defendo?
Que o Governo Federal estimule essa solução. Afinal, ao que sei, o Mato Grosso produz 85 milhões de toneladas de grãos, mas apenas 2,8 milhões escoam por Itacoatiara. Os restantes 82,2 vão por Santos e Paranaguá. Aumentar a saída pelo norte e diminuir o número de carretas nas estradas brasileiras é positivo do ponto de vista econômico, logístico e ambiental.
Boa proposta de Raimar e Gilberto (os dois já em outro plano superior) que precisa ser ampliada. Por todas as razões. E principalmente, porque na Amazônia os rios são as nossas estradas.