Para retratar a crise espanhola, o tão polêmico quanto genial cineasta Pedro Almodóvar fez o filme Os Amantes Passageiros (Los Amantes Passageiros, Espanha, 2013) que conta a história de um avião que voa sem sair do lugar e que carrega, nas palavras do jornalista Bruno Meier (Veja), comandantes que não dizem o que está acontecendo, uma classe econômica anestesiada e a classe executiva repleta de privilégios. O jornalista registra ainda que o filme foi rodado em um aeroporto espanhol novo, mas onde nunca pousou um avião sequer.
Perguntado por Meier se os pilotos do filme eram representação do primeiro-ministro espanhol, Almódovar respondeu: “Há uma imagem terrível dessa situação: numa sala para jornalistas, nosso primeiro-ministro aparece em uma tela de plasma, recita seu monólogo e não aborda nenhuma questão real nem permite que alguém faça perguntas”.
O filme ainda não chegou ao Brasil, talvez nem chegue. Mas, com esse roteiro, impossível não refletir sobre a realidade brasileira.
Impossível não pensar na economia brasileira paralisada por um crescimento ridículo do PIB e com a inflação saindo do controle, na classe econômica anestesiada pelos efeitos do Bolsa Família e da classe executiva mantendo suas regalias ainda que a custa de mais sacrifícios para os pobres.
Impossível não pensar no senador Renan Calheiros – ignorando a voz que vem das ruas por moralidade e austeridade – indo para o casamento da filha do senador Eduardo Braga num avião da FAB. Mesma conduta do deputado Henrique Alves (Presidente da Câmara dos Deputados) para ver um jogo da seleção brasileira.
Impossível não pensar na presidente Dilma no seu patético monólogo sobre constituinte, depois sobre plebiscito, para, ao final, nada dizer sobre as verdadeiras demandas do povo brasileiro.
É Almodóvar! Lá como cá, o avião voa sem sair do lugar, a classe econômica está anestesiada, a classe executiva segue com os seus privilégios e a comandante insiste em falar com o povo como se nada tivesse acontecendo.