Inflação – a maestria e a elegância de Meirelles.

 

“Inflação – a maestria e a elegância de Meirelles” 
(*) por Jose Laredo

” Meirelles  em seus oito anos de mandato dosou com maestria o charme do consumismo e respeitou com elegância o pacto contra o dragão engolidor de salários! ”
A presidente Dilma ao assumir em 2011, convenceu-se de que o BC (Banco Central) tinha que ter menos independência do que vinha tendo na era Henrique Meirelles (presidente do BC entre 2003/2010) de que “um pouco mais de inflação oriunda da pressão em cima do consumo poderia em troca disparar o crescimento do PIB” abrindo largas avenidas para incrementar sua popularidade em busca do segundo mandato.
Nos últimos dois anos a política do governo em relação à inflação foi ficando menos relevante, tanto é que a busca pela meta de 4,5% ao ano foi deixada de mão, passando o foco para a queda dos juros, o estímulo ao crédito das famílias, a perseguição ao emprego e renda, achando que a inflação adicional seria facilmente absorvida pelo poder de renda dos brasileiros. Grande engano, parte do plano funcionou, depois que o BC demonstrou mais alinhamento forçando a queda da Selic até 7,25% ao ano ( já voltou para 8,5% e pode chegar a 9% em agosto), com o consumo respondendo positivamente depois das desonerações pontuais feitas em alguns segmentos.
No entanto, o mais importante, a inflação em vez de dar uma “subidinha” tipo “pibinho” (crescimento pífio do PIB como tem sido frequente), foi espalhando-se pelo tecido social e em junho/13 já perfura o teto da meta de 6,5% no acumulado de 12 meses. O problema é que a velocidade de chegada da inflação é muito mais rápida do que a de saída, e agora o que fazer?
Mesmo assim, em 12/06/13 o governo anunciou uma nova linha de crédito especial de R$ 18,7 bilhões para financiar a compra de sofás e máquinas de lavar – para fortalecer o “Minha Casa Minha Vida” – é claro que a juros subsidiados. Assim, vemos continuar a política de estimular o consumo, sem que se vislumbre uma linha demarcatória para essa ação, que gera aumento de despesas e ilude os consumidores ao não alardear a volta da inflação, forçando mais ainda a elevação dos preços porque os vendedores se vêm diante de mais pessoas em busca de seus produtos, cuja oferta não aumenta nas mesmas proporções. Quando virá a troca do estímulo ao consumo pela saudável política de contenção das despesas do governo?
A política econômica reincidente de pressionar o consumo, prevendo que o movimento da inflação vai ser insignificante já mostrou que não corresponde à realidade, justo quando os recursos globais para novos investimentos se redirecionam para os EEUU, por causa da boa performance de sua economia enquanto a nossa tropeça de novo na inflação.
A reação do governo brasileiro contra a inflação tem indicado ser movida mais por causa dos estragos políticos (queda de quase 30 pontos na popularidade) do que pela prevenção dos malefícios que o fenômeno da corrosão financeira exerce sobre o poder de compra da população. O governo esperava que a alta dos alimentos seria facilmente revertida com as novas safras, não aconteceu, que iria dar velocidade às novas concessões de exploração de petróleo, ferrovias, rodovias e portos, também não ocorreu, e que as commodities internacionais ofertadas pelo Brasil iriam ter seus preços estabilizados em melhores condições.
Também isso não se concretizou, os alimentos continuam chegando mais caros à mesa, as commodities não valorizaram-se como se esperava e as concessões estão atrasadíssimas com a primeira do pré-sal prevista somente para outubro/13.
Alguns economistas, entre eles Delfim Netto, Affonso Celso Pastore e Nathan Blanche têm dito que a economia brasileira necessita há muito de um choque fiscal (programa efetivo de redução de gastos, seleção de investimentos em infraestrutura mais urgentes, reformas políticas, fiscal e contenção da expansão das políticas assistencialistas geradoras de mais despesas fixas, por exemplo) por causa da crescente deterioração de seus fundamentos, mas parece que o conselho não estava vingando.
As reações do mercado estão noutra direção, com resultados não previstos pelo governo como: retração no consumo em vários setores, greves e manifestações contra a carestia (como os confrontos iniciados próximos aos estádio logo no início dos jogos da Copa das Confederações em 15 e 16/06/13) agora sem data para terminar pois espalharam-se pelo país. Com certeza virão novas cobranças de aumentos salariais para corrigir o que a inflação tem se apossado e assim, veremos descortinarem-se os malefícios da desastrada gestão da inflação.
É razoável afirmar que se a inflação hoje de 6,67% no acumulado em 12 meses já causou um tremendo susto ao governo, se vier bater na faixa dos 8 a 8,5% ao ano (o que é bem provável se o dólar continuar dando mais espirros para cima já acomodado no patamar de R$2,28) espera-se novos estragos na popularidade presidencial, com chances de assistirmos a aplicação de medidas emergenciais mais ortodoxas para frear com doses cavalares a velocidade Bolteana (Usain Bolt o recordista jamaicano na corrida dos 100 metros) de chegada do dragão da inflação, temido, arrasador, agressivo e premeditadamente acordado sem posterior determinação e persistência em combatê-lo.
Finalmente em 24/06/13, depois de quase duas semanas de manifestações, parece que o governo começou a despertar para a inflação com a inclusão entre suas cinco propostas de pactos, o da “responsabilidade fiscal para combater a inflação classificado como perene para a preservação dos fundamentos da economia”, mas aí vamos brigar com a lerdeza do monstro em regressar a seus aposentos.
A falta que faz o Meirelles que em seus oito anos de mandato dosou com maestria o charme do consumismo e respeitou com elegância o pacto contra o dragão engolidor de salários!
* Jose Laredo é Economista e professor titular da UFAM.