FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO AMAZONAS: 50 ANOS

Amanhã, dia 12.06.2012, a Lei nº 4069-A que criou a Fundação Universidade do Amazonas faz 50 anos. Até por ter vivido essa história sinto-me na obrigação de escrever sobre o assunto fazendo alguns resgates que considero importantes para que as novas gerações conheçam os fatos e o papel importante de homens que foram fundamentais para que a Universidade virasse realidade.

No início do século XX tivemos a Escola Universitária Livre de Manáos que foi a primeira universidade brasileira, mas com a quebra da borracha ela foi junta e sobrou uma única Faculdade, a de Direito, que funcionava na Praça dos Remédios.

Até os anos 50 era a nossa única escola de nível superior. Por isso, os jovens de classe média (que era pequena) quando concluíam o nível médio iam estudar fora. Rio, São Paulo, Minas, principalmente Itajubá e Curitiba.

No primeiro governo do Dr. Plínio Coelho (55 a 59) ele criou duas faculdades estaduais, a de Filosofia e a de Ciências Econômicas.

Esse era o quadro no início dos anos 60 quando o então deputado Arthur Virgílio Filho apresentou um projeto muito bem articulado que criava a Fundação Universidade do Amazonas, numa verdadeira obra de “engenharia” institucional, pois era em forma de Fundação que incorporava a Faculdade de Direito, que era federal, e as duas Faculdades estaduais, bem como criava novas faculdades.

Hoje, 50 anos depois, tendo a exata noção das dificuldades de aprovação de uma matéria como essa no Congresso Nacional, digo que o deputado Arthur Virgilio Filho gozava, inquestionavelmente, de enorme prestígio junto ao Congresso e ao Governo federal, comprovado pela aprovação do projeto que foi sancionado pelo presidente João Goulart e pelo primeiro ministro Tancredo Neves, levando ainda a chancela dos ministros Walther Moreira Salles, da Fazenda, e Antonio Brito, da Educação. Somos devedores desses grandes homens públicos, porque sem o “sim” deles não teríamos tido a recriação da nossa Universidade. No entanto, que homenagens fizemos a Jango, a Tancredo, a Moreira Salles e a Antonio Brito? Nenhuma.

Relembro bem aqueles tempos. A sanção da lei foi recebida com euforia por todos nós, a época, estudantes secundaristas, pois afinal teríamos em Manaus uma Universidade com outros cursos e poderíamos estudar aqui mesmo. Todos tinham a expectativa de que a Universidade sairia logo, mas isso não aconteceu por várias razões, sendo a principal delas a quebra da ordem constitucional com a deposição do Presidente João Goulart e, em seguida, também do Governador Plínio Coelho.

O movimento estudantil fervilhava. Existiam duas entidades, uma, a UEA – União dos Estudantes do Amazonas, que congregava os estudantes de nível superior e a outra, a UESA, União dos Estudantes Secundaristas do Amazonas.  As duas tinham como bandeira de luta a “refundação” da Universidade e eram fortes os laços que ligavam o movimento estudantil a dois políticos: Arthur Virgilio e Almino Afonso, sendo que Almino havia viabilizado recursos para a construção da Casa do Estudante, para abrigar os que vinham do interior estudar em Manaus. Fica na Rua Barroso, entre a Saldanha Marinho e a 24 de maio, ao lado da então sede da UEA/UESA que lamentavelmente deixaram ruir e desmoronar. Lembro-me bem das principais lideranças estudantis da época: Secundaristas – Clinio Brandão, Ary Brandão de Oliveira, Edson Oliveira, Raimundo Valois, Alfredo Mendonça, Alvaro Gazineo e Tarsila Negreiros (foi a primeira mulher a presidir a UESA e mais tarde casou-se com o Amazonino, que também militava no movimento estudantil). Universitários – José Renato da Frota Uchoa, Luiz Augusto da Santa Cruz Machado, Edson Farias, Felix Valois.

Retomando a história da “refundação” da Universidade, só em 1965 foi nomeado o respeitável professor Aderson de Menezes para o cargo de Reitor, tendo a missão de implantá-la. Nesse ano, o Amazonas era governado pelo professor Artur Reis que havia sido nomeado para cumprir o restante do mandato do Dr. Plínio Coelho. A reitoria não tinha nem ao menos sede e o Reitor Aderson tomou a iniciativa de encontrar um imóvel que pudesse abrigá-la, com o compromisso do governador de desapropriá-lo e, em seguida, destiná-lo para a reitoria. Encontrado  o imóvel, foram redigidos todos os atos pelo reitor que os entregou ao governador, viajando em seguida. No seu retorno constatou pela leitura do Diário Oficial que o imóvel havia sido desapropriado, mas destinado ao IPASEA e não à Universidade. Diante desse fato pediu demissão do cargo.

Posteriormente, ainda em 1965, foi nomeado Reitor o Dr. Jauary Guimarães de Souza Marinho que avançou na implantação das novas faculdades. Existiam, no entanto, muitas dúvidas, pois não havia quadro de professores, nem prédios para a instalação de cursos como medicina, odontologia, farmácia e engenharia, para citar alguns. Isso gerava dúvidas sobre se iam funcionar mesmo.

Naquele ano eu estava concluindo o curso científico no Colégio Dom Bosco (estudava pela manhã) e o de técnico em contabilidade (estudava à noite) no Colégio Comercial Brasileiro. No ano seguinte, deveria prestar vestibular. Alguns colegas iam estudar fora e eu, depois de uma conversa com meus pais, Joaquim e Safira, decidimos que ia morar em São Paulo na casa dos meus primos Ana e Alcestes para estudar. Saí daqui no dia 31 de dezembro de 1965 e cheguei em São Paulo na hora da corrida de São Silvestre que naquela época era à noite.

O tempo passava e a saudade, quase banzo, aumentava. Naqueles momentos de intensa saudade, recebi uma carta do meu pai em que ele dizia ter conversado com o Dr. Jauary, que quando Juiz de Direito havia feito o casamento dos meus pais, e ele havia dito que a Universidade ia mesmo ser implantada e que novos tempos viriam. Voltei no primeiro semestre 1966. Nessa altura os cursos de medicina, farmácia, odontologia e engenharia estavam começando a funcionar. E funcionaram pela determinação e ousadia de seus diretores que foram verdadeiros heróis naqueles primeiros dias – Nelson Porto, Engenharia; Mário Morais, Medicina; Manoel Bastos Lira, Farmácia; Crowel Padilha, Odontologia.

No início de 1967 fiz vestibular para o curso de Economia na Faculdade de Ciências Econômicas. E durante quatro anos vivi intensamente a Universidade, mas isso é assunto para outro artigo.

Neste o que quero registrar é a importância de tantos homens públicos na “refundação” da nossa Universidade desde o autor do projeto o então deputado Artur Virgilio Filho, passando pelos que sancionaram a lei – Jango, Tancredo, Moreira Salles e Antonio Brito – e chegando até aqueles que viveram os seus primeiros momentos e a implantaram – Aderson de Menezes, Jauary Marinho, Mario de Morais, Bastos Lira, Nelson Porto e Crowel Padilha – , para citar alguns.

A eles, quando comemoramos meio século de refundação da nossa Universidade, a nossa eterna gratidão.