ENSINAR É PRECISO, REPROVAR NÃO É PRECISO.

Por Francisco R. Cruz (*)

frcruz2@uol.com.br

Sempre considerei o instituto da reprovação um castigo desmedido, além do desperdício de dinheiro e de talentos. À vergonha da reprovação se junta o inconformismo do reprovado de voltar a estudar o que já sabia e a repetir o que detestava. Muitos não resistem abandonam a escola e o país perde um profissional e, eventualmente, um cidadão. Nunca tive notícia que alguém tivesse se motivado e se tornado um aluno melhor por repetência. Na verdade é um jogo em que todos perdem.

Há algum tempo, porém, o Brasil e grande parte do mundo vêm usando o sistema da “progressão continuada”, menos danoso às crianças e aos cofres públicos. Por meio dele, muda-se a frequência das avaliações para afeito de progressão. Elas deixam de acontecer anualmente e passam para ciclos mais longos. No ensino fundamental, por exemplo, só acontecem ao final do quito e do nono anos.

É claro que ao efetuar as avaliações dessa forma, o sistema oferece o risco de o aluno chegar ao final do ciclo na condição de analfabeto funcional, o que de fato ocorre com frequência preocupante. Mesmo assim, o modelo tem a vantagem de prender o aluno na sala de aula, muito melhor do que a rua, caminho natural da evasão escolar.

Fracassos dessa natureza não são por culpa do modelo. É uma questão de atitude inadequada. Países como a Finlândia e outros campeões da educação mundial dele são usuários. Mesmo no Brasil as escolas que cuidam bem da sua operacionalidade estão obtendo muito sucesso.

O “forte apoio do professor ao aluno para fazê-lo aprender” é uma exigência do sistema e a mais elementar demanda do “ensinar”. Todas as escolas que assumirem esse compromisso, certamente terão bons resultados.

Não é outro o lema da diretora da melhor escola da rede pública de Goiânia, uma das melhores do Brasil e do mundo, que juntamente com outras, aqui já mencionei em outro artigo. Diz ela: “Aqui não temos tempo de esperar que os alunos aprendam. Temos de ensinar a todos eles”. Resultado: média 7,1 (maior que a média mundial e quase o dobro da brasileira); reprovação zero; evasão escolar zero e violência zero. Há oito anos, quando a diretora lá chegou, essa escola, de periferia, diga-se de passagem, ia fechar por desempenho crítico e altíssima evasão escolar. Hoje todas as famílias querem colocar lá os seus filhos.

É claro que a educação pública brasileira tem inúmeras carências. Mas melhoraria muito, se a prioridade não fosse, em muitos casos, a perda de tempo na tentativa de formar cidadãos a partir de ideologias provadamente ultrapassadas e dela, também, não se aproveitassem as demandas eleitoreiras.

Anônimas diretoras e professoras têm provado essa possibilidade de melhoria. Saíram da zona de conforto, desgarraram-se do corporativismo desmedido e provam no dia a dia que quem quer faz. Infelizmente elas, ainda, são a minoria.

A maioria é de quem não quer fazer. É dos que aceitam e se acomodam com o fracasso. Nunca sairão da sua zona de conforto e se escondem atrás de frases feitas: “Os alunos não querem estudar”; “As famílias não participam”; “Os salários são baixos” e tantas outras desculpas. Essa turma perdeu o foco e até já esqueceu que a finalidade da escola é fazer o aluno aprender.

Já a outra turma acredita. Vai lá e faz. Sabe muito bem, que quando se quer ensinar reprovar não é preciso.

(*)  É empresário. Foi dirigente de empresa estatal e coordenador da área de educação do Pacto Amazonense.