De OGLOBO.COM:
BRASÍLIA – O conjunto de gravações da Polícia Federal sobre as relações entre Demóstenes Torres (sem partido-GO) e o bicheiro Carlinhos Cachoeira mostram que em março de 2011 o senador tentou indicar uma pessoa ligada ao bicheiro, a pedido dele, para os quadros da Receita Federal. Esse era o período em que Demóstenes estava aprofundando seus laços com o braço internacional da quadrilha, mantendo contato e fechando negócios com o argentino Roberto Coppola, apontado pela PF como um “mega empresário argentino do caça-níqueis” e consultor de Cachoeira na Argentina e Uruguai.
Para tentar pôr um nome de Cachoeira na Receita, mesmo sendo um dos principais líderes da oposição, Demóstenes procurou o senador Francisco Dornelles (PP-RJ), ex-ministro da Fazenda e ex-secretário da Receita. O diálogo gravado pela PF mostra que Dornelles não aceitou ajudá-lo, frustrando a quadrilha:
— (Dornelles) diz que não tem nenhuma influência lá. Eu falei “mas e se houver, você apoia uma indicação?” Ele falou assim “o Fisco não recebe indicação política. Não recebe indicação política”. Ou seja, o cara lá deve ser dele, mas ele não quis assumir — diz Demóstenes para Carlinhos.
Comentário meu: Passei 28 anos da minha vida na Receita Federal como Auditor e encerrei a minha carreira como Conselheiro, no Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda, em Brasília, o ápice da carreira para quem trabalha com julgamento de processos fiscais.
Entrei no final de 77 e a partir de 79 o Secretário da Receita Federal foi Dr. Francisco Osvaldo Neves Dorneles, um dos mais capazes e corretos quadros da administração pública brasileira, hoje Senador da República. Fico feliz com a constatação da matéria de O GLOBO: a Receita Federal, um órgão de Estado, continua imune a interferência político partidária.
Aliás, na Receita tem uma regra: quem quiser NÃO ser nomeado para um cargo deve pedir uma indicação política, com ofício e currículo anexo. É batata: NÃO é nomeado.
Dorneles passou por lá e sempre fez valer essa regra, como também os demais secretários, em especial, o Dr. Everardo Maciel.
O Dr. Carlos Alberto Barreto, meu colega de concurso que, inclusive, trabalhou em Manaus no Aeroporto é o atual secretário. Está na Receita há 35 anos e conhece por dentro o órgão. Ao contrário do que disse o Senador Demóstenes ele não é de ninguém. Muito menos do Senador Dorneles. Ascendeu pelos seus próprios méritos.
Que bom comprovar que a Receita Federal do Brasil, que tem suas falhas como todo órgão público, ficou a salvo dessa investida do crime organizado.