DE NOVO, OUTRO APAGÃO, AMAZONAS ENERGIA?

A minha geração, que nasceu nos anos 40 do século passado, já viu de tudo na questão da energia elétrica, mas é inacreditável que no 3º milênio o filme dos anos 50 esteja voltando ao vivo e no escuro quando já beiramos os 70 anos de idade.

Relembro, para que os mais jovens conheçam um pouco dessa história, que com a quebra final da borracha, também, os serviços públicos em Manaus, inclusive os de energia, bateram no fundo do poço. Eles tinham sido concedidos no início do século XX a uma empresa inglesa chamada “The Manáos Tramways and Light” que explorava o serviço de bondes e de energia elétrica, mas nos anos 50 a empresa quebrou e o Estado encampou.

Na segunda metade dos anos 50 Manaus ficou às escuras. As famílias mais pobres usavam velas e lamparinas. As de classe média os famosos candeeiros Aladim ou Colemann que à época eram o maior sucesso. Os ricos tinham geradores. E os do poder usavam o cabo C, uma linha especial que ainda funcionava.

Para reverter essa situação foi criada a Companhia de Eletricidade de Manaus e no início dos anos 60 passamos a ter a Usina de Aparecida implantada no campo do Hore no bairro do mesmo nome. Manaus voltou a ter energia. Que bom, o pesadelo da nossa infância/adolescência tinha passado.

Nos anos 70, pela falta de investimentos, voltamos a ter problemas e aí nos acenaram que só a construção da Hidrelétrica de Balbina resolveria a questão definitivamente.

Que grande mentira!

Foi um erro histórico no qual foram gastos mais de UM BILHÃO DE DÓLARES, alagando 2.360KM² para produzir, no máximo, apenas 250 megawatts. Tucuri, alagando área igual, produz 8.370 megawatts. Além disso, Balbina causou enorme desastre ambiental.

Nos anos 90, de novo, batemos no fundo do poço. Tivemos um apagão, resolvido parcialmente pela contratação de produtores independentes que produzem a energia, via termoelétricas, e vendem para a Amazonas Energia. A geração foi resolvida por esse caminho, muito caro, diga-se de passagem, mas a distribuição pela falta de investimentos tinha e continua tendo problemas.

E aí, nova panaceia para resolver o problema: gasoduto Coari-Manaus. Orçado inicialmente em UM BILHÃO DE DÓLARES custou QUATRO BILHÕES DE DÓLARES. Sobre o preço, ficou todo mundo calado, MPF e TCU, inclusive. A distribuição em Manaus do gás é da CIGÁS, onde o estado do Amazonas é acionista minoritário. O dono é um baiano, o Carlos Suarez.  Nada se alterou e ao que se sabe até hoje apenas parte das usinas estão consumindo gás de Urucu. E ninguém falou mais nisso.

Nova panaceia anunciada: o linhão de Tucuruí que agora passa a ser a solução. Dá pra acreditar?

Ontem/hoje Manaus teve novo apagão. Outros já aconteceram e por isso a ANEEL puniu a Amazonas Energia com multa de mais de DEZ MILHÕES DE REAIS, conforme notícia do site da Agencia:

“ANEEL mantém multa aplicada à Amazonas Energia

A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) negou recurso interposto pela Amazonas Energia e, com isso, foi mantida a multa de R$ 10,4 milhões em função de irregularidades no fornecimento de energia elétrica, como, por exemplo, avarias em transformadores de distribuição, não apresentação do cálculo das perdas técnicas de potência e de energia, realização de cortes de carga, não envio do plano de manutenção de linhas de transmissão, não instalação de defensas nas linhas de transmissão, irregularidades constatadas nas subestações fiscalizadas, não atendimento das solicitações da Agência em tempo hábil, entre outras.

A decisão, tomada na última terça-feira (04/06), durante Reunião Pública da Diretoria, encerra a possibilidade de recursos na esfera administrativa. (PG)”

Toda vez que acontece um apagão a Amazonas Energia ou fica muda, como agora, ou dá as desculpas mais esfarrapadas possíveis. Certa feita, um seu presidente, de nome Muniz, disse que se não resolvesse o problema rasgaria o seu diploma de engenheiro. Não resolveu, nem rasgou. Depois, disse que sem acabar com os “gatos”, que segundo ele desviam 40% da energia produzida, não se resolve a questão.

Outro disse que se mudaria para Manaus (ele mora no Leblon, afinal ninguém é de ferro) até resolver o problema. Nem uma coisa, nem outra.

Sobre os “gatos” é bom dizer que merecem o repúdio de todos que pagam a suas contas de energia, mas esse problema é em primeiro lugar da concessionária. Afinal, qual a empresa que admite que todos os dias lhe furtem 40% da sua produção e não reaja?

Daqui deste espaço manifesto a minha indignação com tanto descaso da Amazonas Energia registrando que vai ser “muito bonito” no meio de um jogo da Copa do Mundo um apagão. Já imaginaram, seremos notícia no mundo inteiro.

Até quando, Ministro Lobão e Presidente Dilma?