Por Marcelo Ramos:
Como muitos, recebi com entusiasmo a notícia da Copa do Mundo no Brasil e posteriormente a escolha de Manaus como subsede.
Meu ceticismo com os dirigentes do futebol brasileiro e amazonense não permitia entusiasmo com o aspecto esportivo do evento. Entusiasmava-me o evento Copa do Mundo como indutor de investimentos de infraestrutura nas áreas de segurança, saúde, saneamento básico, portos e, principalmente, transporte público e mobilidade urbana.
Havia ainda a promessa de que os estádios seriam construídos com dinheiro de investidores privados, portanto, sem deixar dívidas para os Estados que sediarão a competição.
Em Manaus, junto com a Copa, foram anunciados ousados projetos como o Monotrilho e o BRT e a reforma e modernização do porto de Manaus, só pra ficar nesses exemplos.
Mera ilusão. Faltando 100 dias para o evento, todos os estádios foram construídos com dinheiro público e, aqui em Manaus, as únicas obras executadas foram a Arena, que custará aos cofres do Estado mais de R$ 600 milhões, e uma pequena ampliação do Aeroporto Eduardo Gomes, que anda atrasada e já mostrando problemas no estacionamento que não tem cobertura e alaga com a chuva.
Os dados divulgados hoje pela imprensa nacional mostram que apenas 18% das obras de mobilidade vinculadas ao projeto Copa estão concluídas até aqui – na Alemanha em 2006, no mesmo período mais de 95% das obras estavam concluídas e na África do Sul em 2010, mais de 80%.
No Amazonas a situação é ainda mais grave 0% das obras de mobilidade foram executadas. Nada de monotrilho, nem BRT e o porto público que receberá os turistas segue deplorável.
O presidente da FIFA deu uma entrevista otimista. E tem motivos para tal. Os estádios estarão prontos e os dias de jogos serão feriados nas cidades sedes, evitando problemas de mobilidade.
O otimismo de Blatter, não poder ser o nosso otimismo. Um dia depois da Copa ele e todo o seu staff vão embora e deixarão para trás um rastro de elefantes brancos e dívidas astronômicas para os Estados-sede, dívidas que serão pagas com o trabalho e o suor do povo brasileiro e com recursos que faltam e faltarão na educação, na saúde, na infraestrutura, na segurança, na mobilidade, no saneamento básico.
No Brasil da Copa, não temos esgoto, mas temos estádios de primeiro mundo!
Nessa Copa nós já somos os derrotados. Perdemos para a mentira, para a ineficiência, para a corrupção. Sei que é difícil dizer isso para um brasileiro, mas, ainda que sejamos hexacampeões do mundo, não teremos o que comemorar.
Desculpem, isso não é péssimismo. É realismo!