Carnaval com dinheiro público vale a pena?

Existe uma cultura em Manaus, e, aliás, Brasil a fora, que os Municípios e os Governos estaduais devem patrocinar o carnaval, principalmente as escolas de samba.

O roteiro se repete todos os anos. Em janeiro, dirigentes das escolas de samba começam a dar entrevistas e a inserir notas em jornais dizendo que se o dinheiro do patrocínio não for imediatamente liberado não haverá carnaval. Aí começa uma pressão que chega a ser insuportável porque vem de todos os lados sobre os secretários responsáveis, bem como prefeitos e, até mesmo, governadores.

Primeiro problema: não prestaram contas do patrocínio do ano anterior, ou se prestaram o fizeram com documentos absolutamente inidôneos. Os secretários colocam a questão para prefeitos e governadores que, mesmo assim, continuam pressionados a “dar um jeito”. E essa pressão vai aumentando.

Sobre prestação de contas, um parêntesis. Muitos anos atrás eu era Secretário de Finanças da Prefeitura de Manaus  e deparei-me com essa situação com os grupos folclóricos. Não haviam prestado contas e eles pressionavam. Disse-lhes que não era possível e perguntei, afinal, quem era o tesoureiro que tinha ficado responsável pela prestação de contas e não havia feito, ao que um deles respondeu:

• – Não sei o nome dele não, mas o apelido é “Barril da Corrupção”.

Risos gerais.

Retornando.

De repente, do nada, surge uma nova associação com outro nome, outro CNPJ, mas os mesmos integrantes que, no entanto, está “virgem”, ou seja, não tem nenhuma pendência. Pronto. Encontrada a solução, resolveu-se o problema, o dinheiro é repassado e todos ficam felizes.

Outras vezes surge uma liminar no plantão mandando assinar o convenio e liberar o dinheiro, independente de prestação de contas ou certidões negativas, tendo em vista o “interesse público maior”.

Esse roteiro se repete há décadas, e este ano não está sendo diferente, mas agora começa a aumentar  a consciência de que o dinheiro público é de todos.

Entendo que está na hora de refletirmos sobre alguns pontos, tipo:

• –  Vale a pena dinheiro público como patrocínio no carnaval?

• –   Ou apenas, toda a infraestrutura – segurança, saúde, espaço, transito, etc. – para que o carnaval aconteça?

Vamos refletir e buscar mudar a cultura ainda predominante?

Outro questão: a coisa mais difícil do mundo é encontrar um dirigente de escola de samba após o desfile para que retirem as alegorias que são abandonadas, viram criatórios de dengue nas proximidades do Sambódromo e muitos meses depois ainda continuam lá.

Vejam aqui o que ACRITICA.COM noticiou em 5 de dezembro do ano passado:

Luxo vira lixo: alegorias abandonadas ajudam a criminalidade em Manaus

As estruturas do Carnaval de Manaus de 2012 comprometem a paisagem da cidade, impedem novos eventos e servem de área para bandidagem

Manaus, 05 de Dezembro de 2012
NÁFERSON CRUZ
Moradores do entorno denunciaram que estruturas são usadas por bandidos (Clóvis Miranda)

Quase um ano depois do desfile das escolas de samba do Carnaval de Manaus, as estruturas metálicas de diversas alegorias ainda estão na área externa dos barracões, localizado próximo ao Centro de Convenções, o sambódromo, no bairro Flores, na Zona Centro-Sul.

As estruturas abandonadas, expostas ao ar livre, perderam a graça que as fizeram brilhar na passarela. Até quando ficarão por ali ninguém sabe ao certo. A única certeza é que o luxo virou lixo. A CRÍTICA identificou que numa área de escape da concentração, com acesso pela rua Loris Cordovil, e na pequena via de acesso ao sambódromo, há pelo menos 22 carros alegóricos deteriorados, restos de fantasias e adereços jogados.

Para o presidente do Clube do Fusca do Amazonas e participante do Clube de Automóveis Antigos de Manaus, Humberto Horta Neto, a área do entorno do Centro de Convenções que está tomada por carros alegóricos poderia servir para a realização de eventos, que antes eram feitos no estacionamento do extinto estádio Vivaldo Lima. “De alguns meses pra cá, os eventos voltados aos automotivos se tornaram impossíveis de serem realizados, pois a área externa do sambódromo virou um verdadeiro depósito de restos de carros alegóricos”, disse.