Amazonas em São Paulo, a sinergia inadiável!

Por  Alfredo MR Lopes  alfredo.lopes@uol.com.br :

O Seminário sobre a Amazônia – Cenários, Pioneiros e Utopias – debateu Novas Matrizes Econômicas, nesta sexta-feira, no encerramento da Semana da Faculdade de Economia, Administração da USP, Universidade de São Paulo-FEA-USP. O evento se insere ainda nas atividades do programa de Pós-Graduação sobre Pioneirismo Brasileiro, daquela instituição, sobre a batuta do prof. Dr. Jacques Marcovitch, que já dirigiu a renomada academia e está ajudando a reduzir essa distância vesga entre economia e academia. E a reduzir, também, a distância entre dois estados que tem história, presente e perspectivas de extraordinária cumplicidade e colaboração. Amazonas e São Paulo interagem no contexto maior da história do desenvolvimento nacional e integração regional, dessa vez, porém ,  através de seus pioneiros. Na pauta dos debates, a lembrança e as lições de Isaac Sabbá, Samuel Benchimol, Petronio Pinheiro, Cosme Ferreira, Antônio Simões, Mário Guerreiro, Moyses Israel, estre outros, que cavam o próprio espaço de prestígio com seu legado empreendedor, na galeria nacional de pioneiros que fazem a história do país.

O curioso nessa incursão da memória do pioneirismo é que ela revisita justamente o estado que recebeu, na consolidação do Ciclo do Café, a migração de investimentos que deixaram a Amazônia com a debacle do Ciclo da Borracha há cem anos. Ninguém fala disso. Nada mais oportuno recordar para justificar essa brasilidade cúmplice que se impõe e que pode tornar-se mais ainda robusta. É ainda curioso lembrar que esta relação, há bem pouco tempo, antes da economia brasileira abrir-se à globalização, relatava uma intimidade proveitosa entre os dois mercados. Para cada dólar importado para a indústria da Zona Franca, três dólares eram adquiridos da indústria paulista. Essa contabilidade foi turvada com a invasão do fator chinês, mas revelou grandes ganhos e evidentes probab ilidades. O evento é uma sequencia da Mostra de Pioneiros do Brasil e o Estado do Amazonas, que chegou a Manaus há um ano e se deparou com uma história  de empreendedorismo que os livros de História do Brasil ignoram. O foco inicial da Mostra era Samuel Benchimol, que já integra a biblioteca dos Pioneiros, como o empreendedor que adotou a dialética do fazer e saber, nos seus empreendimentos bem sucedidos e vasta obra acadêmica, com mais de 115 títulos. Contemporâneos  de Benchimol, os demais pioneiros ajudam a desenhar uma paisagem de luta e resistência para consolidar a brasilidade e pressionar pela integração nacional.

No encerramento da Mostra, em Manaus – que ocorreu de junho a agosto deste ano, e reuniu milhares de pessoas, sobretudo estudantes – um grande debate aproximou 35 instituições públicas, entidades de classe e empresas regionais para abordar as lições do Pioneirismo e Futuro da Economia Regional, sob a coordenação da Federação e Centro da Indústria do Estado do Amazonas, em agosto 2013. Ali estavam reunidas as intuições, propostas e expectativas dos que vivem a Amazônia e dos que a ela se achegam. E foram exatamente as recomendações contidas neste encontro, o gancho de abertura para apresentar o  tema deste Seminário Amazônia – Cenários, Pioneiros e Utopia, a cargo do professor Jaques Marcovitch. Daí também a opção de prioriza r o debate sobre os resultados do estudo do  Fundo Amazônia: Evolução Recente e Perspectivas, realizado no âmbito do pela própria FEA/USP. Afinal, este Fundo disponibilizado pela Noruega, BNDES e Petrobras, não tem avançado em seus objetivos de conter a depredação ambiental e promover alternativas de desenvolvimento e prosperidade. A distância do Planalto e sua comprovada limitação para entender e gerir a Amazônia explicam o paradigma quelônio de distribuição destes recursos.

Como não poderia deixar de ser, num misto de homenagem e divulgação de intuições preciosas e geniais, o evento, ao debater Novas Matrizes Econômicas, sob a batuta de Silvio Crestana, que já dirigiu a EMBRAPA, e mostrou a amplitude de possibilidades de bionegócios para a floresta, resgata o projeto para a Amazônia no Século XXI, coordenado pela professora Bertha Becker em 2009, no âmbito do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). A aquicultura, o grande de oportunidades e de alternativas de distribuição de riqueza.  Estas recomendações, curiosamente,  são o roteiro base escolhido para nortear a parceria de pesquisa com fomento entre o INPA e a AFEAM, a agência de fomento das cadeias produtivas do Amazonas, iniciada logo após o encontro de agosto em Manaus. E essa é a premissa básica que permeia e deve permear o conjunto de iniciativas pioneiras dessa aproximação institucional e estratégica entre Amazona e São Paulo.

Sempre focado no papel e nas lições dos Pioneiros, aqueles que se afirmam a partir das adversidades, de momentos de turbulência e incertezas, o Seminário elegeu uma empresa, entre muitas que emergem desse grande dilema amazônico entre desenvolvimento e sustentabilidade, a Beraca, que concebe pioneirismo na  perspectiva dos bioempreendedores e sinaliza com o buriti, a árvore da vida, como carro chefe de sua proposta de reinventar a Amazônia pela biotecnologia . Sob a coordenação de Thiago A. Terada, os resultados do Programa de Valorização da Biodiversidade, gerenciado desde 2000 junto às comunidades locais, demonstram que é absolutamente factível compatibilizar  o desenvolvimento regional da Amazônia em sintonia com o zelo da floresta tropical. Outras tantas empresas com foco na biodiversidade amazônica já se haviam articulado no Encontro após a Mostra dos Pioneiros, de agosto., além das empresas encubadas pelo INPA, praticamente todas focadas em inovação e biotecnologia.  Ninguém duvida  que este é o caminho dos arranjos produtivos da floresta.

Utopias, a intuição que se antecipa, é a síntese da apresentação sobre os pioneiros. Resgatá-los significa apresentar alguns pressupostos da visão amazônica do pioneirismo, e das utopias que decorrem de suas lições. Na recuperação da trajetória do livro, lançado ao final do debate, apresentei as linhas mestras que sustentam a obra – fruto do levantamento histórico feito para o projeto Pioneiros e Empreendedores do Brasil – que versa sobre as ações empreendedoras de enfrentamento que se seguiram à quebra do Ciclo da Borracha e os avanços conquistados pelos pioneiros da Amazônia, suas lições e intuições. A utopia de que fala o texto, longe de significa r a pirotecnia de manter a floresta em pé a qualquer custo, postula manter erguida a dignidade das pessoas que habitam o beiradão amazônico, ludibriadas com bolsas de compensação fantasiosa em nome da intocabilidade desumana. A utopia remete a um horizonte que está presente em ações a um projeto para a região amazônica. Uma região que aspira ao respeito às suas especificidades, importância de sua diversidade e grandeza do seu potencial. São propostas fundadas em novas politicas publicas que abrangem o médio e longo prazo, transcendem os mandatos e superam o imediatismo eleitoral. Elas reclamam a educação e o conhecimento para promover a dimensão humanista na condução de saberes para formar e reter talentos e propiciar caminhos. Uma nova economia florestal que recorre à tecnologia da inovação para viabilizar a segurança alimentar, energética e de saúde, e a reestruturação das cadeias produtivas com o pleno aproveitamento das bioengenharias e da bio informática. O debate, portanto, ao aproximar duas unidades emblemáticas da federação, precisa retomar as ações bem sucedidas e as que estão em curso, aproximar Universidades, especialmente USP e UEA, trabalhar em redes de articulação e interatividade cívica, ética, científica e focada na integração e inovacao inteligente da promoção humana e social amazônica.