O mercado de plantas ornamentais em Holambra, no interior de São Paulo, movimenta meio bilhão de reais por ano, dos quais 30% se referem ao comércio de orquídeas. Atualmente, apesar do dólar alto, as empresas que mantém Garden (loja de flores), incluindo Manaus, importam mudas de orquídeas da Tailândia, da espécie Denphal, por exemplo, um híbrido geneticamente aperfeiçoado e muito procurado no mercado. A muda, incluindo o frete aéreo e climatizado, chega ao Brasil a R$ 18 a unidade para “engorda” nos viveiros adequados do interior paulista – ajustado à luz e umidade tropical asiática, a mesma da Amazônia – para alcançar depois o preço de R$ 90 no mercado. Dois terços das espécies de orquídeas espalhadas pelo mundo tem origem na Amazônia , com predominância do habitat encontrado na calha do Rio Negro. Mas não há notícia de estudos, pesquisa, inovação e investimento nesse mercado comprovadamente promissor.
O que há, na metade da área do estado, Manaus à parte, é a predominante falta de sinergia para gerar saídas e na outra metade, nas áreas protegidas, a absoluta proibição vesga e nociva de tocar na floresta, com uma Bolsa de R$ 50, (sic!) distribuída pela FAS, a Fundação Amazonas Sustentável, que teve uma redução de mais de 50% no desembolso no último exercício: era R$ 8,6 milhões em 2011 e baixou para R$ 4,0 milhão em 2012, com aumento comprovado de investimentos nas instalações as entidade, nos jardins da Vila Olímpia, na capital paulista. Nas Unidades de Conservação engessadas, os moradores são “desaconselhados” a extr air, beneficiar e comercializar castanha, a brazilian nut, uma das mais fortes economias do interior, que abastecia os mercados europeus e americanos, antes da eclosão da economia da ZFM. Havia escritórios de representação do Estado em Nova York, Londres e Paris que distribuíam folhetos com receitas e vantagens à saúde deste item amazônico.
Pela mídia tradicional e redes sociais, nesta semana da Amazônia, o Brasil se danou a gritar contra a notícia de que mais de 1 milhão de hectares na floresta amazônica poderão ser explorados por madeireiras a partir do ano que vem, segundo o edital de concessão florestal, o terceiro deste ano, para manejar a Floresta Nacional de Altamira, no Pará, com área de 360 mil hectares, para a exploração sustentável de madeira tropical. Desinformação ou hipocrisia? Este é um caminho, na contramão da derrubada desordenada da floresta. Manejada cuidadosamente, a atividade vai gerar economia e a produção, distribuir oportunidades e recursos, inclusive, para que o poder público e a sociedade possam vigiar o uso inteligente, permanente e sustentável do bioma. Este hectare, que corresponde a 10 mil metros quadrados, um campo de futebol oficial, se opõe ao preservacionismo maroto. Na fila, está a floresta do Purus, com o objetivo de ordenar a atividade madeireira e promover uma economia florestal de base sustentável, com madeira legal, de origem rastreada, aumentar a oferta de empregos e elevar a renda e a arrecadação regionais.As áreas abertas para exploração madeireira localizam-se na região de influência da BR-163 (Cuiabá-Santarém) e estão sob pressão do desmatamento.
Falta sinergia para alavancar as novas matrizes econômicas. Os gregos esbanjavam precisão e clareza, adotando conceitos da física, para explicitar fenômenos no cotidiano da existência. É o caso do conceito de sinergia que ilustra com eloquência a amplitude e as vantagens desse exercício de inteligência e elucidação. Usado na fisiologia para descrever ações interligadas na execução dos movimentos de sistemas, de elementos anatômicos ou biológicos, a sinergia se aplica nas ações da vida social para destacar os resultados substantivos da coesão dos membros de um grupo ou da coletividade em prol de um objetivo comum. Sua antonímia, a propósito, de acordo com os dicionários, é mais eloquente ainda e se resume a um único conceito: a desinteligência. Infelizmente tem sido essa a forma de articular novas saídas de adensa mento, diversificação e interiorização da economia da ZFM. Além das orquídeas, bromélias e uma infinidade de espécies ornamentais de mercados, com efetivos potenciais de sucesso, o bioma oferece os ingredientes da nutracêutica, a indústria do vigor saudável e da eterna juventude, além de inumeráveis itens da flora e da fauna sustentável.
Há uma vontade coletiva, inexplicavelmente contida, de avançar no atendimento de um clamor generalizado de diversificação e interiorização da economia e da prosperidade a partir do aproveitamento sustentável das riquezas naturais. O polo industrial de Manaus tem duas empresas que dependem do látex – uma economia do Amazonas que há cem anos respondeu por 49% do PIB nacional – e só conseguem 30% de sua demanda de borracha na oferta local, o resto é comprado no Mato Grosso e São Paulo. Pesquisadores locais já dominam a tecnologia do cultivo racional da seringueira. Ou seja, é viável reativar a economia da borracha na região, não apenas para abastecer as indústrias de pneus instaladas na ZFM e diversificar o setor, mas para apostar na interio rização de novas oportunidades.
Na perspectiva compulsória da sinergia para identificar novas matrizes da economia, representantes da academia, pesquisa, fomento e empresários locais do setor agroindustrial e de tecnologia da informação e imprensa, reuniram-se em Manaus, há um mês, sob a coordenação de CIEAM/FIEAM, para falar de futuro da região, das opções de novos negócios, e referendaram urgência de implantar o polo de bioindústria. Uma das alternativas é conferir à Embrapa gerenciar o Centro de Biotecnologia da Amazônia, com a condição de integrar a academia, a Suframa e INPA, o setor produtivo, entre outros organismos, que possam somar esforços e multiplicar resultados. É intensa a expectativa de dar uma resposta a tantos anos de adiamento e dispersão de energias para interiorizar a economia, instalar polos regionais distribuídos nas calhas do s rios, para abastecer os projetos de agro e bioindústria que daí podem emergir e transformar potencialidades naturais em prosperidade social, que atenda a milhares de jovens que vagueiam entre o ócio, o tráfico e a delinquência – a chamada geração nem-nem, multidões de moças e rapazes, que nem trabalham nem estudam, – por absoluta ausência de opções.
A economia do polo industrial não mais se expande e tem data de vigência fiscal e restrições infraestruturais a serem enfrentadas. É hora de acalentar novas cadeias produtivas, novas tecnologias focadas, com pesquisa e desenvolvimento, nas vocações naturais apostando na migração do conhecimento, desde o laboratório às novas linhas de produção, uma listagem de ações inadiáveis que sugerem a iminência de significativas transformações. Faltam apenas milhares de cientistas, tecnólogos, protocolos de ordenamento dos marcos regulatórios, formação de gestores e estímulos aos empreendedores que sistematizem projetos e parcerias, que levem adiante a evidência das novas perspectivas de bons resultados propiciados por numerosas unidades demonstrativas na produção de alimentos, ser viços ambientais, oportunidades em todos os níveis e arranjos funcionais. Viva o Amazonas, viva a Amazônia, sua castanha, sua flora, fauna e a cumplicidade que começa pela socialização da informação, das demandas, dos acertos e, inclusive, dos fracassos, numa necessária, imperativa e inadiável sinergia da transformação.
Alfredo MR Lopes
092 91123281