A VOLTA DE CELSO FURTADO AO BRASIL

Celso Furtado foi o maior economista brasileiro do século XX. Criou a SUDENE em 1958 no Governo Juscelino Kubitschek e em 1962 foi o 1º Ministro do Planejamento do Brasil, já no Governo Goulart. Com a implantação do regime militar ele teve seus direitos políticos suspensos na primeira lista do AI-1 e deixou o país indo morar no Chile. Meses depois mudou-se para os Estados Unidos e por último foi para Paris onde ficou até agosto de 1979 quando retornou ao Brasil.

Era intimamente ligado à CEPAL e nós na Faculdade de Ciências Econômicas no final dos anos 60 tivemos acesso ao seu livro “FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL” através de colegas que cursaram a CEPAL.

Em agosto de 1979 o Brasil passava pela crise do petróleo ( o preço do barril de petróleo tinha disparado e tentávamos fontes alternativas, o alcool, por exemplo), começando a entrar na crise da dívida ( pedíamos dinheiro emprestado no exterior para financiar a compra do petróleo) e era intenso o debate sobre saídas para as duas crises.

Por outro lado, 1979 foi o ano da anistia, acordo entre as forças políticas e os militares para fazer a transição que permitisse a volta ao regime democrático.

Nesse contexto, crises e anistia, ocorreu em São Paulo no Hilton Hotel o III Congresso Brasileiro de Economistas, promoção do Conselho Federal de Economia, então presidido por Jamil Zantut. Do Amazonas fomos eu, Wilson e Waldilson Cruz.

O palestrante daquela tarde era o Ministro Iberê Gilson quando alguém identificou no meio da platéia o economista Celso Furtado que por conta da anistia havia retornado ao Brasil naqueles dias e anonimamente tinha ido ao Congresso. O presidente da mesa era o economista Josef Barat que pediu licença ao Ministro Iberê para convidar Celso Furtado a compor a mesa sob aplausos efusivos de todos. O Ministro de pronto disse que a sua palestra estava encerrada e que ele, como todos, queriam era ouvir Celso Furtado.

Celso Furtado falou por cerca de uma hora sobre a crise do petróleo, suas consequências e a crise da dívida que começava a afetar as economias dos países como o Brasil, dependentes de petróleo, sem reservas cambiais e que passaram a se endividar para continuar funcionando. Foi uma aula.

Tive a alegria de viver aquele momento e ter a oportunidade de ouvir e até mesmo participar do debate. Ao final ele foi cercado para sessão de fotos, por grupos que se revezavam.

Hoje, 34 anos depois, a boa lembrança de ter vivido aquele momento.