A República e o Mensalão

Por Marcelo Ramos:

No dia da Proclamação da República, assistimos a prisão dos envolvidos no Mensalão do PT. Não sou daqueles que acho que esse episódio redime o nosso sistema republicano e tão pouco dos que vêm nele um golpismo das elites.

Há ainda episódios como a compra de votos para a Emenda da Reeleição no Governo FHC e o Mensalão do PSDB, pendentes de um julgamento igualmente exemplar. Mas falar em golpismo, como insistem alguns petistas, é ignorar o óbvio. Os crimes aconteceram e os réus tiveram amplo direito de defesa, inclusive Embargos Infringentes.

A tese da condenação política, sustentada por José Dirceu e José Genoíno beira o ridículo. Preso político de um governo dirigido pelo próprio partido e que deu diversas demonstrações de solidariedade aos criminosos? Preso político condenado por Ministros nomeados pelo governo do partido dos presos? Não! Essa não cola!

São novas as nossas instituições. O Brasil proclamou a República (1889) 100 anos após a Revolução Francesa (1789). Ademais, de lá prá cá, tivemos longos momentos de ruptura das instituições durante o Estado Novo de Vargas e a Ditadura Militar.

Na verdade, o que essa turma não entendeu é que vivemos o maior e mais sólido período democrático da nossa história e, com isso, um – ainda que lento – consistente amadurecimento das nossas instituições republicanas.  Contaram com a nossa tradição de impunidade. Deram-se mal!

Hoje, vivemos no país da Lei de Responsabilidade Fiscal, da Ficha Limpa, da Lei da Transparência, do STF menos submisso ao Executivo, do CNJ. Em breve, do Voto Aberto no Congresso Nacional e do Orçamento Impositivo. Não há dúvidas. Ainda falta muito pro ideal. Mas são novos tempos.

Platão em “A República” diz que “não há maior perfeição na injustiça do que fazer-se passar por justo sem o ser”. E conclui: “Assim, tendo chegado ambos ao último extremo, um da injustiça e outro da justiça, poderemos decidir qual dos dois é mais feliz”.

Mesmo diante do esforço dos mensaleiros para parecerem justos sem o serem, parece que o Brasil começa a decidir que mais feliz é ser justo e honesto.