A INAUGURAÇÃO DA ARENA AMAZONIA

A minha geração viveu a fase áurea do futebol amazonense. Foi um tempo tão bom a ponto dos dois estádios – Parque Amazonense e São Raimundo – não mais comportarem o público que prestigiava o futebol. E isso foi nos anos 60/70. Tudo começou com a ruptura dos clubes com a Federação de então, a FADA – FEDERAÇÃO AMAZONENSE DE DESPORTOS ATLÉTICOS – que abrangia todos os esportes. Unidos se rebelaram contra a FADA e com o apoio da imprensa, liderados pelo jornalista Flaviano Limongi, fundaram a FAF. Nos primeiros tempos, muitos problemas porque a CBD, a confederação de então não reconhecia a FAF, mas tudo foi superado com uma grande mobilização de todos.

Isso fez que houvesse igual movimento no sentido de termos um grande estádio idealizado por Plínio Coelho, iniciado por Artur Reis, mas então com suas obras paralisadas. Foi com o governador Danilo Areosa, sempre simpático, que a construção avançou e em 1970, ainda inconcluso, foi pré-inaugurado com dois jogos das Seleções A e B do Brasil e do Amazonas.

Foi uma festa, embora tivessem ocorrido muitos problemas por razões óbvias. Imaginem uma obra inconclusa, com barreiras feitas de folhas de compensado, tudo no barro. A foto do Corrêa Lima fala mais do que mil palavras.

Eu estive lá e guardo na memória a grande confusão que foi, mas também a enorme alegria. Daquela tarde lembro de muitos momentos. Registro alguns:

● – A seleção brasileira estava desacreditada. Havia ganhado 58 e 62 e naufragado em 66. Em 1969, preparava-se para a Copa de 70, dispunha de uma boa equipe, mas não conseguia agradar. Foi quando João Havelange presidente da CBD chamou o jornalista João Saldanha para ser o novo técnico. De saída ele escalou o time titular, a quem a imprensa denominou de “AS FERAS DO SALDANHA”. Classificou o Brasil com grandes apresentações. O General Emilio Garrastazu Medici, então Presidente da República pela via indireta do Alto Comando do Exército (vivíamos o Regime Militar) , quis dar pitaco na escalação do time. Achava que Dario Maravilha deveria ser titular. João Saldanha não admitiu e disse que o Presidente nomeava ministros, mas quem escalava o time era ele. Isso gerou um mal estar, Havelange dispensou Saldanha que era do agrado popular e chamou Zagalo. Nesse contexto, a seleção não jogou bem vários amistosos e sempre saía de campo debaixo de vaias. Reta final da viagem para o México onde ganharíamos o TRI foi de Flaviano Limongi a iniciativa de propor à CBD um jogo em Manaus em que a seleção se saísse bem. Foi uma festa. A seleção foi ovacionada desde a chegada ao aeroporto de Ponta Pelada. Ficou hospedada na Maromba, então casa de retiro da Arquidiocese de Manaus. Os jogadores foram as ruas fazer compras no então comércio de importados da Zona Franca. E no dia do jogo, uma grande confusão em tudo, mas, sobretudo uma festa inesquecível. Eu estive lá e tenho histórias para contar aos meus netos.

● – Óbvio que não tinha nenhuma organização de venda de água, refrigerante, lanche ou qualquer outra coisa. E aí tem uma cena que não me sai da memória. Muitos garotos vendendo picolé de massa que eram a salvação. Um desses, num sol de muitos graus, parou perto de onde eu estava e muitos avançaram. Os picolés estavam acabando  e um pintor famoso vendo que ia sobrar, não teve dúvida: tirou a dentadura e jogou-a dentro da caixa: resultado, ele sozinho comeu o resto dos picolés.

● – Houve uma falta perto da grande área e Rivelino, nosso meio campo, conhecido como “Patada Atômica” disparou o chute. Maravilha, zagueiro do Amazonas, meteu a cabeça. Foi ao chão nocauteado e teve que ser substituído. Depois, foi constatado descolamento de retina.

Esses momentos vieram à minha memória, ontem, quando reuni a família e juntamente com a Lydia fomos assistir a inauguração da ARENA AMAZONIA. Sofremos muito com o Nacional, mas isso não é de hoje. Paciência, a vida é assim mesmo. A gente ganha, perde e empata, mas o importante é que viva os momentos.

A obra em si está belíssima e não pode, nem deve virar um “Elefante Branco”. Também concordo que temos muitas outras situações que deveriam ter sido resolvidas com os recursos aplicados na ARENA. No entanto, esse é um assunto vencido. Quando foi para sediar a Copa do Mundo e todos estávamos de acordo, sabíamos, ou pelo menos deveríamos saber as condições estabelecidas pela FIFA. O governo brasileiro sabia e concordou com elas. Naquela altura era a hora de dizer alguma coisa, mas todos calaram e todos aplaudiram. Óbvio que não dá para fazer uma Copa com um Estádio Vivaldo Lima. Essa condição estava colocada antes. Portanto, como dizem os advogados, a matéria está preclusa. Cabe a nós continuarmos lutando pelas outras obras, como as de mobilidade urbana tão complicada em nossa cidade.

Foi um momento muito bonito e não é pelo fato de não termos outras obras de legado da Copa, além da ARENA e do Aeroporto que vamos renegá-las. Até porque as duas estão sendo feitas com os nossos recursos advindos dos impostos que pagamos todos os dias.

Ao Omar, que, de certa forma, pegou o bonde andando, o meu abraço por ter garantido as condições mínimas para que Manaus cumprisse o acordado com a FIFA. É um preço alto, praticamente comprometeu os investimentos de todo o seu governo com a “Ponte do Bilhão” e com a obra da ARENA, mas essa etapa está vencida.

Agora é seguir em frente porque já que pagamos a conta, vamos desfrutar do espaço.

E eu com a enorme alegria de ter vivido 44 anos depois uma nova inauguração.